Cosme de Almeida Ramos e Carta á Jk

10-10-2012 17:48

 Cosme de Almeida Ramos português de nascimento, brasileiro de coração e diamantinense pela alma, residindo nesta abençoada cidade há quase 50 anos, tive portanto, a grande satisfação e felicidade de conehcer e acompanhar de perto sua Excelência o doutor Juscelino  Kubitschek de Oliveira, hoje nosso benemérito Presidente da República.

 Os percalços encontrados na sua árdua campanha eleitoral, as dificuldades surgidas a cada passo e de todos os lados, as lutas e as incompreensões dos eternos insastisfeitos, tudo isso o eleva a um plano tão alto que podemos dizer que o Brasil é governado atualmente não por um homem, mas por um superhomem.

 Pelo rádio, tive oportunidade de acompanhar a sua exaustiva propaganda e, nos momentos mais angustiosos, mandava sempre telegramas; radiogramas ou cartas, bem assim ás suas dignas Mãe e esposa, como lenitivo e estímulo, frizando sempre: - "Deus, que nunca dorme, será sempre o protetor daquele que não teme arriscar a sua própria vida em defesa do bem".

 Sempre amigos e grande admirador do doutor Juscelino, compreendendo , sem favor, que só um temperamento privilegiado, no momento aflitivo pelo qual a Pátria atravessa, só um homem da sua têmpera poderá salvar a nossa angustiosa situação.

 A minha grande confiança, tantas vezes manifestada antes, me impeliu a sair fora da normalidade de minha vida e assim enfrentei a luta em favor de sua  Excelência o doutor Juscelino, transportando-me através da imprensa, por boletins e mesmo pessoalmente, extendendo tal propaganda a todos os Estados da Federação, por intermédio dos porteiros das respectivas Câmaras, avançando sempre ao máximo, como verdadeiro e contagiante entusiasmo, tendo firme convicção da vitória e do êxito que, afinal, se verificaram a 3 de outubro de 1955.

 O meu contentamento foi grande, infinito mesmo, e, num desabafo consolador, repeti várias vezes: - "Louvado seja Deus, que ainda não desamparou o Brasil!".

 Tendo o Excelentissimo Senhor doutor Juscelino Kubitschek de Oliveira a feliz lembrança de visitar os paises amigos, antes de ser proclamado, foi assim mesmo recebido com as honras de Chefe de Estado, debaixo das maiores demonstrações de amizade e confiança, abrindo as portas ao franco progresso, firmando as melhores relações a este gesto, que nos enche de natural prazer e orgulho, nos convida a cooperar com sua Excelência o doutor Juscelino, pois é sabido seu patriotismo e o desejo de elevar a nossa Pátria ao respeito e á consideração do mundo inteiro.

 Cooperemos, meus amigos, sem medir sacríficios, com sua Excelência o doutor Juscelino, pois além de ser merecedor e digno, vai nesta cooperação a conquista de uma vida melhor, de paz, de sossego e absoluta tranquilidade, - base essencial de todo o bem e riqueza. Deixemos de parte ambições exageradas, acabemos com rancores e procuremos, como uma só família, examinar com amor e todo o carinho o bem da nossa Pátria, pois esse bem redundará no futuro de nossos filhos. O Excelentissimo Senhor Doutor Juscelino Kubitschek de OIiveira, nosso Presidente da República, deseja e proclama harmonia de seu povo, para que possa, com absoluta calma, resolver a nossa situação, situação esta que, embora reconheça espinhosa, espera em Deus, e em seus auxiliares, encontrar solução satisfatória.

 O Excelentissimo Senhor Doutor Juscelino, que tudo deseja fazer para ver seu povo alegre e feliz, pouco dorme e está sempre vigilante, mas, a nossa situação é muito grave, principalmente pelo lado financeiro. Basta analizarmos: o aumento dos vencimentos dos funcionários,  a estipulação de novos níves de salários mínimos, elevarão, automaticamente, ainda mais, o custo de vida, acarretando a entrada do país num círculo vicioso. É grande, por certo, a classe tanto de uns quanto de outros, mas, apenas eles beneficiados, pelos vencimentos certos, advirá a brita dos que não podem estar na mesma situação. É eis aí o grande problema. É pensamento do Doutor Juscelino optar pelo mais viável,c erto que é, no caso, convencer o povo da triste realidade da hora que, passa, isto é, que soluções simplistas não resolvem a crise brasileira; não adianta sancionar o aumento dos funcionários civis nem decretar novos níveis de salários, pois a inflação mais se agravará. O que urge ser feito, e para tantos é preciso um pulso de ferro, é congelar os preços de gêneros de primeira necessidade. Impedir , por todos os meios e modos, novos aumentos de custos de vida, intensificando, por outro lado, ao máximo, a lavoura, amparando o pequeno e médio agricultores, - base essencial para conjurar a atual conjuntura econômico-financeira. Essa melhora virá beneficiar a todos, pois roupa se remenda, mas o estômago não se pode remendar.

 Amparar a lavoura é incentivar o barateamento do custo de vida; é, numa palavra, - salvar a Pátria.

  Diamantina, 14/2/1956

  Cosme de Almeida Ramos   - A Estrela Polar, 4 de março de 1956, pág. 3.