Diamantina 1896

04-06-2013 09:00

 

 Frequentei a Escola Normal de Diamantina no período de outubro de 1893 a dezembro de 1895. Nessa época resolvi iniciar a carreira jornalística, para a qual eu sentia impetuosa inclinação.
 Consultando meus irmãos João Edmundo e Leônidas  sobre a fundação de um jornal infantil, eles concordaram comigo na realização desse projeto. Resolvemos logo convidar alguns colegas para se associarem conosco: Antônio Cícero de Menezes, Jacinto Leite Júnior, Beraldo Americano  de Souza, Frncisco de Sales Corrêa Mourão e João Fausto de Aguiar.
 Eles aceitaram o convite e metemos logo mãos á obra. Para concorrer ás primeiras despesas, nos cotisámos logo em 2$000 cada um, decidindo se as que eu, e João Edmundo dirigiamos a empresa. Contratamos a direção do jornal com o snr. Cláudio Augusto Ribeiro de Almeida, gerente da cidade Diamantina chamar-se-ia o período Ensaio Infantil, publicando quinzenalmente, em pequeno formato, edição de 200 exemplares, preço da assinatura anual 2$000. Preço de impressão do jornal: 10$000.
 Impresso o jornal, começamos permutá-lo com diversos colegas do país e do exterior, com as cidades de Macau, na China, Timor na Oceania, etc.
  No escritório do Ensaio Infantil, iamos todas as tardes, ler os jornais recebidos em permuta. Assim soubemos uma importante notícia, que revelamos mais abaixo.
 Um velho negociante aposentado, natural  de Alagoas, pai de numerosa família, Manoel Joaquim, vulgo Manoel Joaquim Boi, era fanático do Partido Liberal. Não sei como, de tão longe, foi parar em Diamantina. O seu apelido provinha do seguinte fato. Muitos anos ante, ao chegar em Diamantina, desempenhara o principal papel na dança popular Bumba meu Boi. Aquele apelido enfurecia o bom Manoel  Joaquim, quando a endiabrada molecada de Diamantina o atormentava, acompanhando-o, o dissera Chateaubriand : cette age est sans pitié...
 
                                                                         Foto da intertenet - google
 O velho alagoano não esquecia o seu torrão natal.
 - Não quero morrer em Diamantina, dizia ele constantemente. Quero ser sepultado em Penedo, minha terra, nas Alagoas.
 Certa vez m que ele repetia esta frase na loja de meu pai, o Diniz Tameirão, presente exclamou:
 - Qual Penedo! O seu Penedo é aqui, no cemitério do Amparo!
 - O snr. não é Deus para saber o dia minha morte!  replicou o ancião.
 Certa tarde, Antônio Cícero, que estava percorrendo os jornais, exclamou de repente:
  - Curioso! Este jornal fala em Diamantina! Vejamos o que é. É o trabalho do Penedo. Diz ele que desembocara naquela cidade, vindo de Diamantina, Estado de Minas Gerais, um ancião que falecera logo ao chegar. Pelos documentos encontrados em seu bolso, apurou a polícia que era um velho negociante residente há muitos anos naquela cidade. Parece que tinha posses.
  - Vamos mandar o trabalho á família, em Diamantina, exclamou o Antônio Cícero.
  - A viuva de Manoel Joaquim faleceu em Diamantina, em 1909. De seu numerosos filhos o mais pópular  era o Juca Boi (José Joaquim da Conceição) que fazia toda sorte de serviços: pintor, carpinteiro, músico, mecânico, etc.
Arno Ciro, Voz de Diamantina, ano, pág. 3, ano LXV, nº4, 1979, Diamantina-MG