O esquisitão

07-06-2013 11:16

 

 No princípio do século repassado entrava em Diamantina, tocando tropa, um português, cujo nome João Ribeiro de Carvalho, aqui radicou-se e mais tarde tornando-se m dos homens mais rico do cidade. Começou a vida como caixeiro de um seu patrício Belchior de Melo , negociante na rua Direita. Era uma homem esquisito. Fazia questão de pensarem dele o contrário do que era. Não dava esmolas, mas deixava D. Miquita, sua esposa, fazê-las a vontade. E ele, alta madrugada, de ocultas, enfiava dinheiro debaixo da porta das pessoas pobres que tinham vergonha de pedir esmolas nas portas.
  Quando os amigos o procuravam pra empréstimos de dinheiro, ele os atendia, mas não guardava segredo, porque ficava-se sabendo  que fulano devia-lhe tanto!
   E como naquele tempo não houvesse hotel, ele negociante e muito relacionado, dava hospedagem á muita gente.
                         Imagens do google.
  
Aos hóspedes, quando chegavam, ele dizia-lhes: Aqui almoça ás 10:00 horas e janta-se ás cinco. E quem chegasse fora do horário, não comia. No fundo, era um homem bom; mas na aparência, um grosseirão de marca maior. Conta-se que em certa ocasião, quando um hóspede entortava, na mesa, o prato para tirar o resto da sopa, ele gritou á cozinheira que trouxesse um calço de panela para o hóspede calçar o prato; mas este logo retrucou que uma ferradura era melhor. Ele tanto dava coice, como o recebia, sem achar ruim.
   Era brasileiro naturalizado, e, como tal, pertencia ao partido político conservador do qual era chefe. Tinha no município muito prestígio.
   O seu filho Dr. Campos Carvalho, de  política contrária a do pai, apresentou-se candidato a deputado, esperando que ele fosse o seu maior adversário. Mas deu-se justamente o contrário: As escondidas do filho, saiu viajando pelo município, em propaganda eleitoral a favor dele.   
    Tal era a sua influência, que conseguiu dos seus correligionários votarem em candidato da oposição.
    O Dr. Campos Carvalho de talento pouco comum, orador fluente, fez uma bonito papel na Câmara dos Deputados, em oposição ao governo, por ser republicano e contrário á escravidão.
    Muito embora solteirão, morava separado da família para estar mais em contato como os amigos, porque, com as esquisitices do pai, não poderia recebê-los á vontade. Faleceu tuberculoso, ainda muito moço, na mesma rua  que hoje, tem o seu nome.
      Ignotus, Voz de Diamantina, pág. 3, nº 16, ano LVI, 1962, Diamantina-MG.