Carnaval antigo

01-05-2017 11:59

Foto: Internet

Passaram-se os dias de Carnaval entre nós. Carnaval em Diamantina é cousa  que já existiu.

Quando, em tempos que se foram, aqui se festejavam, sem a maldade e corrupção dos tempos modernos, os três dias de folguedos, a cousa era bastante diferente.

Ainda me recordo os bailes no velho Teatro de S. Isabel, onde os modos de dançar, com as damas vestidas rigorosamente decentes, atraíam até as famílias aos camarotes, para se divertirem, assistindo ás danças, que não ofendiam  ao pudor de ninguém.

 Mas, que tempos ! Havia um reservado que, a principio, se chamava salão do povo cachorro..., e, mais tarde, se denominava o cinzeiro ...

Compreende-se, pelos termos, qual a espécie de gente que nele se divertia.

O Carnaval em si, naqueles tempos, nada oferecia de nocivo á moral e aos bons costumes, até mesmo porque não se conhecia o indecoroso maxixe, dança cínica pelos trégeitos.

Com toda razão, porém, o saudoso e inesquecível santo Bispo D. João dos Santos, detestava o Carnaval, mesmo naquele tempo, por causa do tal Cinzeiro...

Quanto ás danças das famílias nada havia que se pudesse reprovar, porque, além da decência das toilettes, da natureza das contra danças, músicas, e modo de dançar afastado das damas, sob o olhar severo e carinhoso das mães, ' não havia, com efeito, motivo para condenar a diversão.

Hoje, tudo está mudado; hoje, a própria musica, pelo estilo, é imoral e imorais os tregeitos e a lascivia das danças.

No Teatro de S. Isabel, os bailes carnavalescos antes do Brasil República, no terceiro dia do Carnaval, eram suspensos, á meia noite em ponto, pelo delegado de policia, porque começava logo depois dessa hora, o santo tempo da Quaresma.

Lembro-me de um fato acontecido dois anos depois da proclamação da República.o saudoso Laport, aliás maçon, tendo observado que, no Carnaval, logo após a queda do Império, o delegado não suspendia mais o baile, á meia noite, porque já a Igreja estava separada do Estado, engendrou pregar uma peça aos foliões, no ano seguinte

De, facto, á primeira badalada das 12 horas da noite, feridas pelo relógio da igreja do Carmo, que hoje não existe mais, penetrou nos palavras da realidade, em caracteres maisculos: Mementos, homo, quia pulvis es, et in pulverem  reverteris! Lembra-te, ó homem, que és pó e que em pó te has de tornar!

Escusado é dizer que o Laport impressionou o pessoal e o baile acabou, saindo muitos dançarinos horrorizados com a brincadeira, aliás a proposito e que recordava uma grande verdade!

Fonte bibliográfica:

Minhas Tiras, Xisto Reis, Voz de Diamantina, pág. 1, 29 de fevereiro de 1936, número 3.                     

 

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