Lenda da Acaiaca

26-05-2012 15:18

Próximo ao arraial do Tejuco havia uma poderosa tribo de índios que viviam em constante luta com os tejuquenses, que de vez em quando invadiam o arraial.
Perto da taba indígena, numa pequena elevação, havia um belo e frondoso cedro que os índios, na sua língua, chamavam "acaiaca".
Contavam eles que, no começo do mundo, o rio Jequitinhonha e seus afluentes encheram-se tanto que transbordaram, inundando a terra. Os montes e as árvores mais altas ficaram cobertos e todos os índios morreram.
Somente um casal escapou, subindo na Acaiaca. Quando as águas baixaram, eles desceram e começaram a povoar a terra de novo.
Os índios tinham, portanto, muita veneração por essa árvore. Acreditavam mesmo, que se ela desaparecesse, a tribo também desaparecia.
Os portugueses que habitavam o arraial, conhecedores daquela crença, esperavam uma oportunidade para derrubar a Acaiaca. No dia do casamento da bela Cajubi, filha do cacique da tribo com o valente guerreiro Iepipo, enquanto os índios dançavam em comemoração, os portugueses derrubavam a árvore a golpe de machado.
Quando os índios viram por terra a árvore sagrada ficaram aterrorizados e prorromperam em grandes lamentações, pois, conforme acreditavam, o fim da tribo estava próximo.
Pouco tempo depois da morte da Acaiaca surgiu grande desavença entre o cacique da tribo e os principais guerreiros. A desarmonia entre eles terminou em uma luta tremanda que durou a noite inteira, ficando o chão coberto de cadáveres: ninguém escapou.
Nesta noite fatal, uma horrível tempestade caiu sobre o arraial do tejuco, arrancando árvores, rochedos e casas.
No dia seguinte, os tejuquenses, assombrados, não encontraram o menor sinal da Acaiaca.
Dizem que foi a partir dessa noite que os garimpeiros começaram a encontrar as pedrinhas brancas, os diamantes, que surgiram dos carvões e das cinzas daquela árvore sagrada.
Cajubi ficou encantada em uma onça. Aparecia andando ereta com a cabeça de uma onça. Tentava impedir os garimpeiros de coletar os diamantes.

 

A Acaiaca ", lenda maior de Minas Gerais.

Após a restauração do trono português das mãos dos espanhóis, os bandeirantes receberam a incumbência de ampliar o território e descobrir riquezas minerais. Receberam para isto, todos os poderes. Descobertos o ouro e o diamante, uma nova ordem se instituiu na Região das Minas. Cabia explorá-la com o maior proveito para a coroa portuguesa. O indígena não poderia, a curto prazo, ser empregado no trabalho da mineração e por isso foi afastado do processo civilizatório. A lenda Acaiaca é bastante significativa e ilustra a história. A árvore de cedro que sintetizava a potência da população indígena foi cortada. O português já não precisa de pau-brasil, não precisava da riqueza vegetal, tão importante ao indígena. Cortando a árvore, cairia com ela o indígena, e em seu lugar surgiria o mais cobiçado dos minerais: o diamante. A lenda, na forma que apresenta, foi recomposta por Joaquim Felício dos santos para demonstrar as origens do despotismo e da usurpação total do português sobre o Distrito Diamantino. Henriqueta Lisboa sintetiza a Acaiaca com o seguinte poema: - Aso olhos úmidos dos puris - Brasas e carvões da fogueira - rolam os flancos da colina - transmudados em frias pedras - duras, amargas diamantinas. (CUNHA, A.E. P. In: SANTOS: J F. 1956)
Em torno da disputa pela posse da imensa riqueza proporcionada pelso fartos depósitos auríferos no século XVIII, paulistas e portugueses conflitaram-se em cruenta guerra. Vitoriosos e derrotados conviveram-se na mesma urbe, no meio das revoltas, das intrigas e das divergências. Vila Rica foi dividida entre a frequesia dos portugueses e a dos paulistas. As lendas "Caminhos Subterrâneos de Ouro Preto" e "A Imagem no Lombo do Burro", nos levam aos climas de desconfianças, rivalidades, segredos, discriminações social e racial, sedimentados na cultura mineira. A cabeça de Tiradentes não poderia ter o tratamento que os portugueses determinaram. Foi roubada e tratada com ouro em pó.
Por todas as regiões dotadas de riquezas naturais e quando descobertas, provocaram o rápido povoamento e competitivas explorações, com vantagem para os forasteiros e estrangeiros. Em Minas os portugueses foram considerados forasteiros de vez que os paulistas foram os pioneiros descobridores e os mineiros descobridores e os mineiros os seus herdeiros e continuadores. Diante de forasteiros poderosos e dominadores só restou a clandestinidade. Se os portugueses guardaram segredo de seus planos e jogaram o bote sobre os mineiros a todo instante, a estes não restou mais nada senão desconfiar de tudo e de todos: As histórias foram transformadas em lendas e os projetos em conjecturas.
Esta é a razão das notícias de existência de caminhos subterrâneos em todas as cidades históricas de Minas, por onde escoou riquezas fabulosas e que ninguém ficou sabendo para onde foram e não se sabe quem as levou. Segundo Leonardo Álvares da Silva Campos, muita gente até hoje procura as 50 arrobas de ouro, escondidas em uma gruta, pelos escravos de Manoel Nunes Viana, na Guerra dos Emboabas.