O Portão do Inferno

15-02-2011 10:04

    Nos tempos que já foram, o Largo da Luz era um deserto, com poucas casas de morada; mas entre elas havia uma cercada por muros de taipa, cuja entrada da tinha a denominação de Portão do Inferno! Muito embora habitada por família, a sua fama era a pior possível. Dia e noite era frequentada pelos ricos boêmios, atraídos pela jogo, bebidas e... etc, etc. Não era cabaré, mas uma senvergonhice velada, que fazia os trouxas cairem na esparrela como se fossem passarinhos! Era um pesadelo das famílias das cidade, sem recurso para quem apelar; porque sendo também casa com rótulo de família, e além do mais, frequentada por pessoa graúdo, a polícia ficava nas enconlhas. Um rapaz formado em direito, filho de uma das mais ricas famílias da cidade, casando-se contra a sua vontade com uma prima, imposição dos pais, tornou-se uma frequentador assíduo do Portão do Inferno.

    Diariamente, depois do almoço, subia a cavalo, voltando ao lar pela madrugada. Morreu moço devido as farras.

    Em menino, ouvia comentários com relação á essa casa maldita. E dentre eles recordo-me de contarem o triste fim de um homem que lá morreu de uma mal súbito, e que alta noite, trouxeram o corpo, encostando-o na porta da sua casa, na rua do Carmo, onde hoje mora a costureira Tininha. De manhã, quando abriram a porta, encontraram o cadáver gelado. Essa casa, do Largo da Luz, ainda existe no mesmo lugar, mas sem o portão de os muros.

Ignotus, Voz de Diamantina, 1962.