A Intentona dos Negros em Minas Gerais no século XVIII e XIX

14-01-2011 21:36


    Insurreição malograda. Esta data recorda uma da mais lúgubres páginas do nosso passado colonial, uma horrenda  hecatombe de escravos: 3.900 vítimas!

    "O negro sofria o que não sofria o cão", escreveu o eminente Oliveira Martins, dissertando sobre o cativeiro nas antigas capitanias do Brasil; e todavia, na frase do mesmo escritor, as insurreições dos negros eram o terror permanente dos colonos americanos.

    Em meados dos século passado - no desespero extremo do seu miserando destino, os escravos da capitania mineira, a exemplo dos das de outras da América portuguesa, planearam rebelar-se reivindicando de vez a liberdade, que mal podiam assegurar-lhes as grutas do seu recônditos quilombos, onde ás vezes não poucos se asilavam, fugindo aos horrores de sua sorte desgraçada.

    Seria um levante geral de negros para o extermínio total dos brancos e mulatos, com exceção apenas das mulheres.

    Combinaram - e quantas dificuldades não tiveram que vencer para generalizarem o acordo! Combinaram que se efetuaria num mesmo dia o levante nas quatro comarcas mineiras, e designaram a quinta feira santa, 15 de abril de 1756.

    Propunham-se ousadamente os chefes da revolta a governar o país.

    Que eram eles?

    Nem os documentos do tempo, nem a tradição guardaram os nomes dos modernos e obscuros Spartacus.

    Se triunfasse a conspiração ter-se-ia, em vastíssima proporções, uma nova e singular República dos Palmares , transplantada para as montanhas de Minas Gerais. Havia 70 anos estabelecera-se a primeira , com o seu famoso Zumbi e as rústicas trincheiras, nos sertões de Alagoas, tanto sangue custando o destruí-la, de envolta com os seus heróicos defensores, que, inflexíveis, preferiram a morte á capitulação.

    Mas houve um delator, também não registrado a crônica o nome desse antepassado espiritual de Joaquim Silvério dos Reis, e a insurreição frustou-se, subsistindo soberano o regímen do látego com todas as suas torturas e ignomínias, regímen ignóbil e execrando que só 132 anos mais tarde derrocou-se para sempre em terras do Brasil, no glorioso 13 de maio de 1888.

    Sobre esse acontecimento da história mineira têm sido até hoje muito omissos os historiadores. Apenas R. Soutthey, repetindo um cronista, consagra-lhe vagamente seis linhas, e essas viciadas de anacronismo. Nos outros não encontramos nenhuma notícia do fato ou sequer alusão a ele, aliás merecedor de registro e referência desenvolvida.

    Dos cronistas também nada mais se colhe utilmente a respeito. Somente num intitulado Compêndio das épocas da capitania de Minas Gerais, de 1694 a 1780 - escrito deficientíssimo, mesquinho, sem crítica ou sequer coordenação histórica, e tão minguado em matéria compêndio, dizíamos, se encontram, subordinadas pa data de 15 de abril de 1756, as palavras : "Descobriu-se a tentativa de insurreição, a qual foi prevenida!" Isto só...

    Na introdução do seu Florilégio da poesia brasileira (ensaio histórico sobre as letras no Brasil), o ilustre Sr. Varnhagen (depois Visconde de Porto Seguro) refer-se em nota á revolta combinada para 15 de abril de 1756 - que ele qualifica de quata sedição formal havida em Minas Gerais no século XVIII; mas nada adianta no assunto, enviando o leitor para a Revista do Instituro Histórico, volume 1º de 2ª série  (1846), isto é, para o tal prentenso  Compêndio das épocas da capitania de Minas Gerais que, vimos já, só duas linhas consagrou  - enão explicadas, e menos justificadas  - áquele acontecimento...

    Em semelhante termos, quase que a menção, ou referência, foi como se não a fizessem. mas valeu - ainda bem - para estimular-nos ás mais pacientes indagações. De feito, a pesquisas aturadas nos entregamos, visando esclarecimentos nesse ponto obscuríssimo - íamos dizendo hipotético  - da história mineira, acontecimento só conhecido na sua denominação, o que é singular; e no entanto, apesar disso, mais tarde qualificado de sedição formal por um dos primeiros historiadores brasileiros, o que não é menos singular...

    O tempo e esforço que empregamos naquelas indagações não foram perdidos. Averiguamos em assento oficial coevo a espécie de insurreição planeada, a ocasião e modo de sua pretendida execução, e porque frustou-se, e qual o alcance que então lhe deram alguns representantes do poder público. Consta isso de dois documentos em seguida trasladados, na íntegra, do Livro do registros do Senado da Câmara de Vila Rica, relativo aos anos de 1754 a 1756, folha 236 a 239:

    "Registro de três cartas que este Senado escreveu ás Câmaras da Vila Real de São João Del Rei do Rio das Mortes, á Câmara de Sabará e á Câmara da cidade de Mariana, e são do teor e forma seguinte: Senhores do nobilíssimo SEnado da Vila de Sabará. A boa harmonia que devemos procurar com tão nobre Senado nos põe na precisão  de participarmos a vossas mercês a notícia que temos de se haverem confederado os negros aquilombados com os que assistem nesta e nessa vila, e nas mais de toda a capitania, para a noite do dia quinze do corrente darem um geral assalto em todas as povoações, privando da vida a tudo o que forem homens (sic), assim brancos como mulatos, determinando morte a seu senhor cada um dos escravos que lhe for mais familiar. É a ordem desta execrável determinação acometerem aos brancos ao tempo em que, dispersos, se ocuparem em correr ás igrejas, sem perdorarem a pessoa de qualquer qualidade que seja, não sendo mulher. Esta notícia, que só com voz vaga foi ao princípio atendida, tem chegado a manifestar indícios que requerem toda a atenção, por se assinalarem escravos que se dizem propostos para regerem as Minas resolutos, além de patentearem, em parte, muitas práticas tendentes á tal conspiração, e ser certo que em anos diversos se tenham percebeido andar de semelhantes intentos sem que se chegasse a experimentar os seus cruéis efeitos; não parece desacerto acautelar uma mina que pode com lastimoso sucesso desenganar da sua possibilidade. Á grande capacidade de vossas mercês compete dar a providência necessária em um tão factível acontecimento, comunicando também aos Senados mais distantes o justo recurso de um golpeque a todos ameaça; ao que nós ficamos aplicando nosso cuidado pela obrigação que nos corre e serviço de Sua Majestadel, dando juntamente conta ao Ilmo. Sr. Governador e a S. Exª. Revma. para que naquela noite determine se não abram as Igrejas, por melhor se evitarem os grandes concursos de negros, que todos os anos se observam. Afetuosamente oferecemos as nossas vontades á disposição de vossas mercês, a quem desejamos todas as felicidades. Deus guarde a vossa mercês muitos anos. Vila Rica, em Câmara de três de abril de mil, setecentos e cinquenta e seis anos. E não se continha mais em as ditas cartas que aqui registrei das próprias, por mando do Senado, bem e fielmente, como nelas se contêm. E eu, José Antônio Ribeiro Guimarães, escrivão da Câmara que a escrevi, registrei e assinei. José Antônio Ribeiro Guimarães."

    "Registro de uma carta que este Senado escreveu, digo, SEnado mandaram (sic) escrever e assinaram para o Exmo. Revmo. Sr. Bispo, e é do teor e forma seguinte: Exmo  e Revmo. Sr.: Em diversos anos se tem justamente temido uma geral sublevação dos escravos desta capitania; e suposto que os fatos não tenham confirmado este receio pela providência que se tem dado, este presente ano são tão veementes os indícios, que passam a se fazerem prováveis, assim por constar terem os negros aquilombados tratado, com os que vivem nas povoações, de darem a morte a seus senhores na noite de quinta feira santa, como por se assinalarem escravos que hajam de suceder nos governos dos que já supõem destruídos. Esta notícia, que não teve ao seu princípio maior crédito que o que merece uma voz destituída de fundamentos sólidos, tem, como dizemos, em muito parte autorizado-se, pelo cuidadoso exame que em matéria de tanta consideração se tem feito - motivo por que representa a V.Exª, este Senado seja servido determinar, quando assim o julgue conveniente, estejam as portas das igrejas fechadas na sobredita santa noite, pro ser a eleita para tão horroroso insulto, em ordem a melhor se evitarem os numerosos concursos de negros que todos os anos se observam, ocultando com capa de piedade os seus danados intentos. A benção de V. Exª. Revma. pedimos, oferecendo os nossos afetos para prontamente executarmos o que por sua ordens nos for determinado. Prospere o Altíssimo a vida de V. EXª. Revma. pelos anos de seu desejo, para benefício de seus obedientes súditos. Vila Rica, em Câmara de três de abril, setecentos e cinquenta e seis anos. Beijam as mãos de V. Exª. Revma. Francisco da Rocha Brandão, Jerônimo de Castro e Souza, Francisco Lopes de Araújo, Bernardo Joaquim Pessoa, Valério Simões de Matos. E não se continha mais em a daita carta, que aqui registrei da própria bem e fielmente, como nela se contém, por mandado do Senado. E eu, José Antônio Ribeiro Guimarães."

    O desbotado escrito e a sua original ortografia nos induziram, talvez, a equívoco na decifração de alguma palavra, mas nunca em prejuízo do pensamento que ditou as cartas transcritas.

    Demonstram estas o que já dissemos; omitem, entretanto, notícias sobre o modo por que transpirou., malogrando-o, o plano de insurreição, e o que seguiu-se ou provavelmente havia de seguir-se para castigo dos infelizes insurretos e exemplo e intimidação á escravaria de Minas, mísero rebanho humano opresso de trabalhos, cruezas e privações indizíveis, mas habitualmente tão sofredor e submisso que no projetado levante oferecia por certo a medida da própria angústica e dessperação.

    Qual seria o castigo?!

    Este complemento, presumidamente infalível da extrordinária ocorrência, não consta, claro e expresso, de nenhum livro ou documento de quantos - e numerosos são - havemos manuseado atento, desejosos de conhecer as consequências do frustado levante.

    Mas ainda neste ponto, examinando volumosa crônica vislumbramos alguma luz, se é lícito denominar assim a noção oriunda de um sulco enorme de sangue a trair a façanha crudelíssima, quase incrível no excesso de sua atrocidade, conquanto afirmada de plano por antigo escritor conceituado e dos mais sabedores nas coisas do nosso sombrio passado colonial.

    É do instruído e estimado cronista Pedro Taques de Almeida Paes Leme, autor da Nobiliarquia Paulistana, o seguinte trecho notabilíssimo:

    "... de sorte que, apra se evitar um futuro levantamento de pretos contra os brancos, se empenhou a atividade, ardor, zelo e desembaraço do coronel José Antônio Freire de Andrade (hoje Conde de Borbadela), Governador da Capitania de Minas Gerais, a vencer a Bartolomeu Bueno do Prado, natural de São Paulo por si e seus avós, para capitão mor  e conquistador de uma quase reino de pretos foragidos, que ocupavam a campanha desde o rio das Mortes até o Grande, que se atravessava na estrada de São Paulo para Goiases.

"Bartolomeu Bueno desempenhou tanto o conceito que se formava de sue valor e disciplina da guerra contra esta canalha que se recolheu vitorios apresentando 3,900 (Três Mil e Novecentos) pares de orelhas dos negros que destruiu em quilombos, sem mais prêmio que a honra de ser ocupado no real para total segurança dos moradores daquela capitania".

    Em nossas pesquisas nos livros velhos do Arquivo Municipal de Ouro Preto não se nos deparou ainda o aludido acórdao, cuja existência, tão categoricamente afirmada pela exímio genealogista paulistano, comprovará a denunciada e pavorosa hecatombe humana. É bem possível que o mesmo heróico capitão general fizesse desaparecer o registro para sonegar á posteridade a noticia do monstruoso sucesso.

    Mas o próprio governo português, muitos anos depois, ministrou documentos confirmativo da asseveração do cronista Pedro Taques, embora omitisse o hediondo pormenor assinalado.

    Este documento é a Instrução para D. Antônio de Noronha, Governador e capitão general da captania de Minas Gerais, pelo Célebre Martinho de Melo, ministro de Maria I. Aí se lê o seguinte, a propósito das vantagens da tropa irregular ou de paisanos armados: "E havendo em Minas Gerais as milícias, e além delas muitos outros habitantes e grande quantidade de homens pardos e negros, de uns e outros se têm formado em algumas ocasiões corpos semelhantes, como foi o de sete companhias que o Governador interino Josá Antônio Freire de Andrade mandou levantar de gente escolhida para irem destruir os quilombos do Campo Grande.

    Compunham-se estes quilombos de vários habitações de negros fugidos e rebeldes, que depois de muitos anos se tinham refugiados no sertão; e servindo-lhes o mato de fortaleza, infestavam todos aqueles distritos... Marcharam as sete companhias abrindo caminhos e picadas que não havia por serras e sertões, navegando rios com muitas cachoeiras difíceis e perigosas.

    E depois de suportarem e padecerem com admirável constância os maiores trabalhos, fomes e fadigas, chegaram enfim aos quilombos... e os destruíram todos, voltando passados seis meses, que tanto durou a expedição. (Revista do Instituto Histórico Brasileiro, volume VI).

    Foi assim muito excedido em ferocidade o atroz e infame alvará régio de 3 de março de 1741. Todavia, o cronista Pedro Taques só achou em semelhante canibalismo, que relembra as façanhas espanholas no Peru e no México, motivos para louvar e engrandecer o nome de Bartolomeu Bueno de Prado, o exterminador da Canalha!

    Desta vez, a nova página negra da história mineira no período colonial não foi escrita somente pelo despotismo desalmado da metrópole, representado na pessoa do capitão general José Antônio Freire de Andrade, irmão do primeiro e egrégio Bobadela, cujo nome maculou, e que teve, com a iniciativa, imensa responsabilidade na sangrenta expedição. Infelizmente, também colaborou nessa página execrável um valoroso paulista, de família numerosíssima e poderosa naquela época, e ele próprio  - por predicado de energia e intrepidez excepcionais  - digno de exalçar-se em feitos úteis, generosos e humanos.

    Dá o hediondo e assombroso episódio a medida do que era, naquela época sobretudo, a escravidão dos infelizes negros, procurados e mantidos - quando eram mantidos - como animais de trabalho, e mais que estes acabrunhados de fadigas, cruciados pelo açoite, exterminados como cães hidrófobos!

    Já um século, antes o grande padre Antônio Vieira comparava a vida dos escravos aos sofrimentos do Redentor, de quem os exortava a esperar conforto: cordas, açoites, feridas e afrontas. Não ter jamais descanso, nem de dia nem de noite, ser vilipendiada, surrada, morta á fome - tal, exclamava o flagrante orador, era a sorte desta gente miserada! Efemérides Mineiras 1664-1897, Veiga, José Pedro Xavier da.

 

 

Nas Minas Gerais, mal começado o século XVIII, Já os escravos inconformados com a barbárie de que ali eram vitimas, ensaiavam movimentos de rebelião. (36) A 9 de maio de 1711, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, governador e capitão-general daquela Capitania, ordenava ao Superintendente das Minas, João Rebello Perdigão, que tirasse devassa do levantamento intentado por negros minas do Ribeirão do Carmo. Do texto do ato do Governador, depreende-se estar o mesmo apavorado com a hipótese de que se viesse a confirmar a rebelião planejada, não obstante já estarem reclusos os líderes da mesma. Prisão que se deveu á delação feita por alguns escravos aos quais faltou, com efeito, a necessária coragem de levar a cabo tão temerária empresa, (37) que, via de regra, tinha por epílogo o alto patíbulo.

                Em 1719, voltou-se a falar de uma possível rebelião de negros, consoante informa Diogo de Vasconcelos. Estudiosos, modernos, porém, chegam á conclusão de que tudo não passa de falso alarme, de boatos terroristas difundidos como consequência do pavor em, que viviam as populações livres das Minas Gerais, no pressuposto de vir a dar-se, a qualquer momento, uma explosão de escravos incitados pelas terríveis condições de trabalho e pelos maus tratos de que eram vítimas naquela sub-região. O fato e que, na ocasião, o Governo local precatou-se para qualquer eventualidade, tomando, o seu responsável, então o Conde de Assumar, uma série de medidas com repercussões  em toda a Capitania, consaonte vários atos por ele expedidos naquela ocasião. (38)

Tantas foram as sublevações de escravos levadas a cabo nas Minas Gerais, tão logo iniciados os trabalhos da mineração, e ao longo do referido cicIo, que o Conselho Ultramarino, por provisão de 18 de julho de 1725, ordenava ao então vice-rei do Brasil que indicasse providências por ele julgadas convenientes e necessárias para evitar insubordinações de escravos contra brancos, nas vastas áreas de extração do ouro. (39)

As sublevações de escravos nas Minas Gerais tinham uma tônica, qual fosse e a de que se deviam deflagar em dias santificados, quando os negros se apossariam das armas dos brancos, sacrificando estes quando entregues aos exercícios religiosos. Assim fora em 1719 e assim voltava a ser em 1756. A 3 de abril de 1756, Francisco da Rocha Brandão, Jerônimo de Castro e Sousa, Futuroso Lopes de Araújo, Bernardo Joaquim Pessoa, Valério Simões de Matos, vereadores, e José Antonio Ribeiro Guimarães, escrivão do Senado da Câmara de Vila Rica, representam perante o Bispo de Mariana rogando-lhe que ordene o fechamento de todas as igrejas da diocese, na quarta-feira Santa daquele ano, para fazer abortar um projetado levante de negro da Capitania que, em elevadíssimo número, pretendiam sublevar as quatro comarcas de Vila-Rica, Ribeirão do Carmo, São José do Rio das Mortes e Sabará. E, talqualmente ,como em 1719, um traidor denunciou a conspirata ao Governador e Capitão-General José Antônio Freire de Andrade, irmão de Bobadela, tomando aquelas providências que frustraram os planos dos escravos. (40) Nina Rodrigues foi um que achou jamais ter havido pretensão dos negros de sublevar-se na quinta-feira santa de 1756, não tendo havido nem mesmo uma "insurreição malograda" como quis J. P. Xavier de Veiga. Este, porém, imprimiu segurança no seu informe, ao referir as fontes nas quais foi colher os dados que o levaram a divulgação de tal noticia: "Averiguamos em assento oficial coevo a espécie de insurreição planeada, a ocasião e modo de sua pretendida execução, e porque frustrou-se e qual o alcance que então lhe deram alguns representantes do poder público," dado que ele, como dissemos, recolheu de dois documentos extraídos do Livro de Registro do Senado da Câmara de Vila Rica, relativo ao ano de 1754 a 1756, - 236v, a 239, documentos que ele, Xavier da Veiga, transcreveu na íntegra, (41) Não fora a severa e pronta reação governamental na sufocação da Inconfidência Mineira, e de admitir- e que as hostes do referido movimento viessem a se fortalecer grandemente com a ajuda de escravos negros, de vez que destes eram sobejamente conhecidas as idéias de abolição do regime servil, sustentados por aquele fracassado movimento. Depondo no processo da Conjuração, afirmou José Álvares Maciel, filho de um capitão-mor de Vila Rica, que "sendo o número de homens pretos e escravatura do país muito superior ao do branco, toda e qualquer revolução que aqueles pressentissem nestes, seria decerto motivo para que eles mesmos se rebelassem." (42) Depreende-se, dai, que o processo em tela não ignorou as consequências do movimento liderado por Tiradentes, no ânimo da população escrava.

 

Notícia que corria na Inglaterra e "aqui chegada pelo conduto de Gibraltar", informava os britânicos da ocorrência nas Minas Gerais, ano de 1821, de um levante político de pretos, com objetivo de constitucionalizar o Brasil. Um preto chamado Argoins, administrador de as lavagens de Carolina e Jequitinhonha, seria o chefe supremo da mencionada sublevação. O que ocorrera, com efeito, e que em 1820 e que os escravos daquelas paragens resolveram implantar ali a Constituição portuguesa, entregando a liderança do movimento ao já mencionado Argoins. Em toda a zona onde atuavam - Guaracabá, Sabará, Santa Rita, etc. - os escravos proclamam a Constituição que, no seu entender, garantia-Ihes a liberdade. Travam, por vezes, combates com habitantes de Paraibuna, e com pretos do Arraial de Santa Bárbara que se colocam contra o movimento. A intentona cresceu em proporções, pois só na região de Ouro Preto, Argoins contou com 15.000 adeptos. Os insurretos criaram bandeiras e usaram distintivos, não faltando entre eles os que se anteciparam a festejar a vitória. Ocorreu, porém, que após combates travados em Diamantina e em Mariana, o movimento fracassou e extinguiu-se. (43)

Exemplo que bem situa o que se pretende com o presente capítulo, como aliás ficou esclarecido de início, está naquele caso extraído do relatório de Joaquim Camilo Teixeira da Mota, presidente das Minas Gerais, datado de 10 de agosto de 1862, em que o mesmo narra que: "Em fins de junho do ano passado, no Termo do Paraibuna, os escravos de Elias Antonio Monteiro, morador na fazenda da Soledade, insurgiram-se revelando a intenção de assassinar não só a ele, como a sua família e feitores. Ao aproximar-se a força ardrede mandada pelo  Juiz Municipal, eles, em número de vinte, mais ou menos, armados de foice, fugiram em direção do distrito de S. Pedro de Alcântara. As providências dadas pelas autoridades locais, e as que tomou o Governo, fizeram restabelecer prontamente a ordem, pondo-se assim termo a essa sublevação, que podia ser de gravíssimas consequências em um município onde é tão grande o número de escravos."

Minas Gerais foi área de farta escravaria, dada a necessidade de braços para as tarefas da mineração. Como tal, não podia deixar de apresentar elevado índice de rebeliões de negros.

O Desembargador Pedro Alcântara de Cerqueira Leite, em relatório de 5 de novembro de 1865, deu conta de que: "Em princípios do ano passado, as autoridades do município de Serra denunciaram o projeto de uma insurreição de escravos, que deveria aparecer no último domingo daquele mês, com ramificação no de Diamantina e vizinhos, de cuja Autoridade recebia também comunicações." "Tomando-as na consideração que mereciam, não fiz demorar providência alguma que tendesse a desassombrar a população." "Para esse fim fiz seguir para a cidade de Serra um Oficial do Corpo Policial com 30 praças municiadas, com ordem de conservar-se a disposição do Delegado de Polícia, ate que desaparecessem os receios do mal." " Aprovei o procedimento do Comandante Superior da Guarda Nacional emprestar aquela Autoridade um destacamento de 60 praças, 20 de cavalaria e 40 de infantaria." "A todas as Autoridades Policiais e Judiciárias, recomendei a maior prudência no emprego da força, devendo dela servirem-se somente no caso de faltarem outros meios aconselháveis para fazer abortar o plano denunciado, sendo entre outros não permitir o uso de armas, e nem reuniões em que pudessem os escravos comunicar-se, e aconselhar os fazendeiros a maior policia e vigilância em seus estabelecimentos." "Ao conjunto dessas providencias, e ao zelo com que e houveram os cidadãos e autoridades daqueles Municípios, devo hoje  a satisfação de mencionar que alteraram-se as desordens anunciadas com tão mau caráter, Instaurou-se e concluiu-se o respectivo processo, no qual foram alguns escravos condenados a açoites, e um a 20 anos de galés." Prossegue o Desembargador Teixeira Leite com o relato de outros casos, tais como: "Também em Lavras, indo uma escolta prender  o escravo Jordão, indigitado como promotor de uma insurreição  que se receava viesse a aparecer, resistiu tenazmente, resultando do conflito ser morto com um tiro." Para melhor formular-se idéia de como fermentava o descontentamento entre os escravos das Minas, Iê-se, ainda do mesmo relatório que: "Em outras localidades tem-se manifestado receios de insurreições: tomei a respeito ás medidas que me pareceram mais proficuas e felizmente nenhum acontecimento e há dado que justifique semelhante temor, em dúvida exagerado pelos proprietários ... " (44)

 

O levante de 1864 foi, com efeito, o mais bem organizado pelos escravos mineiros. Contavam eles com os quilombolas, “a rapaziada sujeita das matas", como diziam. O escravo Adão, um dos seus líderes, é quem fornece bons informes: tinha por objetivo "a liberdade dos cativos", dizia ele, que, aliás, muito se destacou no aliciamento de adeptos. Articularam-se com os escravo do termo de Diamantina e fizeram contato com os de fazendas e lavras vizinhas. Do plano revolucionário constava lançar fogo em algumas casas e, no apagar do incêndio, com o que se ocupariam os brancos ,"matariam todos quantos chegassem", com o que obteriam a liberdade. Ocorreu, porém, que o delegado de policia do Serra, Jacinto Pereira de Magalhães Castro, desconfiou da existência de algo estranho e a delação não o fez esperar : Vicente, escravo de Francisco Cornélio Ribeiro dá ciência as autoridades dos preparativos em andamento, policiando a detenção dos principais cabeças. Fica-se sabendo, do mesmo passo, que os negros rebeldes já se haviam associado aos quilombos das matas circundantes, trazendo com estes ação coordenada e conjunta. Senhas de ambos os lados foram estabelecidos para um ataque simuntâneo: sendo que no dia, para se entenderem, quilombo e escravos citadinos diriam: "a gente de João Batista Vieira estava  pronta, e diriam que a, galinha estava morta e pronta só faltando assá-la.” Isso em termo de rebelião, significava fugir para  sertão depois de feita "uma porcaria na Cidade de Serro com a rapaziada." O fogo posto nas casas do Tenente-Coronel Sebastião e de José Bento de Melo, era o sinal: daria início á revolta. Adão foi sentenciado a 20 anos de galés, a mais severa pena do processo. Os brancos porventura implicados na rebelião, que também os teve, como Herculano Manoel de Barros, foram todos absolvidos, pois depuseram que jamais seriam capazes de meterem-se "em súcias de escravos," ou de "aconselhar os escravos para semehante fim." De uma testemunha é o informante de que "o plano foi combinado no lugar denominado Escala, na fazenda Sesmaria, entre José Cabrinha, Nuno e Demétrio." Prossegue a testemunha dizendo: "Ajustaram que José Cabrinha viesse entender-se com Adão, e do resultado mandasse avisar o Nuno na Fazenda Magalhães (denominada Liberdade) e este depois de entender-se com Adão mandou dizer a Nuno que cá estava tudo pronto e muito bom que eles lhe mandassem noticias de lá. Declarou mais que quando Nuno disse que tinha ido a Fazenda da Sesmaria e propôs a José Cabrinha o plano de fuga, este lhe respondeu que tinha coisa melhor e era o plano da insurreição, e então ele Nuno disse que já conversara com Adão sobre a fuga, e que ele José Cabrinha viesse se entender com Adão, que é um rapaz ativo, e astucioso, sobre a insurreição pois que ele Nuno estava pronto, e que só ele arranjava uma boa porção de escravos por estas oito léguas em redor." Os escravos dividiam-se em duas tendências: uns eram por tomar o mato após a vitória, transformando-se em quilombolas; essa a opinião de José e Demétrio. Já Nuno, com outros, optavam. pela permanência na Serra, após matarem seus senhores. Mas, par fim, tudo fracassou. (45) .

Enquanto houve escravos Minas não sossegou. Francisco Leite da Costa Belém, vice-presidente daquela Província, no relatório que datou de 10 de agosto de 1871, inseria que: "Diversas tentativas de insurreição de escravos tem-se dado em alguns municípios, os quais tem felizmente abortado, graças as providências das autoridades legais, e as que, de acordo com o Dr. Chefe de Policia, hei prontamente tomado." " A 30 de maio trouxe este Magistrado ao meu conhecimento uma participação do juiz municipal do termo de Leopoldina, da qual constava que havia sérios receios d’um levantamento por parte da escravatura na noite de S. João." "Imediatamente fiz seguir para ali uma escolta do corpo policial, comandada por um tenente; ordenei ao comandante superior da Guarda Nacional que desse todo o auxílio de força de que precisassem as autoridades locais, e recomendei a estas que empregassem todos os esforços para frustrar semelhante atentado (o que felizmente se conseguiu." De Francisco Leme e ainda o informe de que: "No distrito da Conceição, do mesmo termo, foi surpreendida uma reunião de escravos, que segundo diziam, tratavam de celebrar práticas de feitiçaria." "Interrogados, ficou patente a combinação de um plano de insurreição, devendo cada um concorrer para a compra de armamento." E continuam as noticias de insurreições: "No termo de Mar de Espanha apresentaram-se diversos escravos do Barão de Pitangui parecendo insubordinados." "O Delegado de Policia tomou medidas preventivas que julgou necessárias, e evitou a consumação de um levantamento." "A 20 de maio tive conhecimento, por diversas participações oficiais, de que na cidade de Juiz de Fora se manifestavam também receios de uma sublevação, porque 20 a 30 escravos, que seguindo se diz, eram protegidos pelos Italianos, residentes naquela cidade, procuravam constantemente a proteção da polícia, figurando-se vítimas de maus tratos de seus senhores." "Fiz logo reforçar  destacamento ali estacionado, e recomendei ao comandante superior a proteção de força da guarda nacional, e dest'arte conseguir-se evitar a continuação de tais receios e ficou garantido o sossego público."

Faltava que os escravos do município da Corte dessem o ar de sua graça: e os tê-los:  Ludgero Gonçalves da Silva, chefe de polícia da Corte, no seu relatório de 21 de março de 1872, anexo ao relatório de 14 de maio do mesmo ano, do ministro da Justiça : Manoel Antônio Duarte de Azevedo, conta que: «Em 17 de marco, 37 era,os que se achavam em consignação na casa de José Moreira Veludo na rua dos Ourives nº 221, sublevaram- e contra este na ocasião em que curava o pé de um seu escravo, e, armado de acha de lenha o espancaram gravemente, e feriram a Justo José Gonçalves Pereira da Silva, caixeiro de Veludo, que acudira a seus gritos”. Foram presos os ditos escravos a disposição do 1º delegado, que precedeu logo ás  convenientes indagações, das quais resultou a culpabilidade de 21 daquele escravos, remetendo o inquérito ao juiz de direito do  4º distrito criminal. "

(1) João Domas Filho era de opinião que a Religião seria a causa maior dos levantes de escravos. Dizia ele: "Talvez o espírito de liberdade ligada ao de represália a brutalização dos senhores não seja o motivo mais saliente”. E assinalava: "o fenômeno religioso, esse sim, é que não deixava de ser, no seu sentir, uma causa a se examinar, pois não foi uma só vez que os negros se levantaram, e sempre partiam as insurreições do seio dos Hussás ou falahs  (fulos na gíria), negros de cultura irrecusàvelmente árabes e por isso maometanos.” ( João Dornas Filho, A Escravidão no Brasil, pg. 15, Rio de Janeiro, 1939) -  A Guerra do Paraguai incentivou muito escravo a incorporar-se ás forças armadas, com o único fito de conseguir a prometida liberdade aos que assim o fizessem. - Em outras colônias européias na América portuguesa do nosso Brasil, o mau trato dispensado ao escravo levou a que este se insurgisse (como de feito ocorreu na Venezuela. (José Antônio Saco, História de la Esclavitura de la Raza Africana, II, pgs. 15 e 30, Havana, 1939).

al'tigo escrito pOl' Aidano do Couto Ferraz, ,er, =' - . '0 3a.~"- cas L·· bertos" in Antologia do Negro Brasilei1'o, de Ediso Car::"":" U'

 

(30) Clovis Moura, op. cit. pg. 186. (31) Maria Stela de Novais, A Escravidao e pg. 57 e seg., Vitoria, 1963. - A referida autora cravos ocorridos no Espirito Santo. (32) Clovis Moura, op. cit. pg. 43 a 45 e 104.

 

(33) Azevedo Marques, Apontamentos, I, pg. 344.

 

(34) Colel)ao de Decisoes do Governo do Impe1-io do B~- : --=-. :-g. --.

 

(35) Afonso de E. Taunay, Hist6ria do Cate no BTa i' _ ;:6,' := . J~ e

 

Janeiro, 1939.

 

(36) Referindo-se a confusao rein ante nas Minas Gera~s '= .--- s ~~pos, diz urn autor: "Os negros em grande massa revolta,am·se.. -=--.-=--=-~-a. e muitos massacres de senhores e suas familias foram ass'na a~ s - - :_7 .' anos." "No arraial da Paisagem, proximo ao Ribeiro do Carmo. em ~"'""-'" .", -:s meses registraram-se tres assaltos de negros fugidos, que estrU. ="---- =~- ˜brancas, atearam fogo as diversas casas e, aproveitando a coniusao e ,. -- _ ''':;:;0 da noite, roubaram tudo quanto pudessem carregar." (Augusto de =-:=:. - --== .. ~ Capitania de Minas Gerais, pg. 88, Rio de Janeiro).

 

('37) Revista do Arquivo Publico de Minas Gerais, II, pg. -;-;.-- •• -

 

ser a essa rebeliao que se refere Diogo de Vasconcelos quando e:;cr" ~_ ~..:-=: -Os

 

indios selvagens e os negros enchiam de sobressalto as fazendas e =- ~ =--

 

1712 descobriram uma vasta conspira<;ao de escravos; e em :esta ramificada em todas as Minas para rebentar na quinta-:e:rn ølonge de seus domicilios os senhores estivessem divertidos nas =-=-' -" ~ E de Vasconcelos, Hist6ria Antiga das Minas Gerais, pg. 169, Bo ° E- '-::--- - --~

 

(38) Uma grande correspondencia sobre 0 assunto pode SE!' ' :.::2

 

Revista do Al'quivo Publico de Minas Gerais, pgs. XXI " 2.° ,oL _ "'. = -: ;;pg. 551; idem, ibidem, pg. 552; idem, ibidem, pg. 550; idem ibidE , _ "'. ..ibidem, pg. 555; idem, ibidem, pg. 557; idem, ibidem, pg. 55 ; :dem. -'-.

 

(39) Eduardo de Castro e Almeida, op. cit., V, pg. Rio C2 - -.' (40) Revista do Arquivo Publico de Minas Gemis III. cole<;ao do "Minas Gerais" de 1894. - A quinta-feira sa -a. a subleva<;ao, caiu a 15 de abrH de 1754. Segundo in:o= "'::",~ "" ~-:';"'FO "dominando das margens do Rio Grande ao Vale do Rio das ~~ - ~-- ~~~ria todo 0 territorio mineiro. Prevenido a tempo, 0 Go,ernad !' ::: .:-e-::~ C.= - -'~ " mandou contra eles uma expedi<;ao sob 0 comando do ,a,en~ e -...:.. s=:-<-;~..a Bartolomeu do Prado (natural de Sao Paulo) que, apOs se:s =.--- ''''. <;oes inauditas, conseguiu matar 3.900 infelizes ca . 'OS, cebe' ----

 

<;ao projetada pelos imprudentes negros." (Revista do A. :"0 P"-'

 

Gerais, III, pg. 296)

 

(4-1) Jose Pedro Xavier da Veiga, Efemendes JI' Belo Horizonte, 1926. - Sobre "Noticia de uma re,o U<;80

 

1821 em Minas Gerais - Copia do Diario como aba' rl~

 

sessenta e quatro. Ano 1821. Pre<;o 300 rs. Diario =20_ '~ 2rc.O ',.::: - Q1l2r-

 

ta-feira, 19 de agosto. N oticias N acionais. Re,olu<;8o en=re " ce :lEnas

 

Gerais no Brasil a favor da Constitui<;ao. 0 impre&."O . e _ emo" a, ~ pe:o conduto de Gilbratar ... " (Revista do Arquivo Publico de JIi1ll18 Gerais. '\ pg. 158-60)

 

(42) Autos da lnconjidencia Mineira, vol. II.

 

(43) Revista do Arquivo Publico de Minas Gerais, V, pg. 158-60.

 

(44) Sobre essa insurreic;:ao, e que 0 ministro da J ustic;:a Francisco Jose Furtado, no seu relatorio de 8 de maio de 1865, informava: "lnsurrei<;iilo - Minas Ge?'ais - No termo do Serl'o houve uma tentativa de insurreic;:ao de escravos: 0 Governo da Provincia, sendo previamente avisado, expediu logo as necessarias proovidencias, e conseguiu faze-Ia abortar." "Foram condenados: a vinte anos de gaales 0 cabec;:a e principal autor, e os demais comprometidos a ac;:oites e a trazerem £erro ao pescoc;:o." - Jose Tomas Nabuco de Araujo, substituto de Francisco Jose Furtado no Ministerio da Justic;:a, apoiando-se em relatorio do presidente da Proovincia de Minas Gerais, cia a Assembleia Legislativa, a 15 de maio de 1866, 0 seeguinte informe: "lvlinas Gerais. No Distrito de Sao Jose, Termo de Paraibuna, a vista de receios, que apareceram, de uma insurreic;:ao, foram presos e interrogados .alguns escravos, os quais confessaram estar combinado 0 plano atroz de se insurrgirem na noite de 17 de setembro, assassin an do a seus Senhores e a todos os hoomens brancos, sendo que 0 plano estava ramificado POl' muitas fazendas." "0 deelegado de Policia providenciou energicamente de modo que foram castigados muiitos e expulsos do Termo alguns Italianos que os induziram ... "

 (45) P. de Carvalho Neto, "Rebeliao de Escravos" (Apresentac;:ao de Ul11 doot:umento inedito) in Resenha Literaria, Recife, Pernambuco.