Antônio Tôrres

15-08-2013 11:31

 

ANTÔNIO TORRES (31/10/1885 – 17/07/1934)

 

Antônio dos Santos Torres, nascido em 31 de Outubro de 1885 na cidade de Diamantina – MG, filho do ourives Vicente Pereira Guimarães Torres e Maria Amélia dos Santos Torres, obteve sua formação na Escola Normal e no Seminário de Diamantina, onde completou sua formação em 1902. Estudou latim com o Juiz de Direito da Comarca, obtendo as ordens sacramentais de menorista e presbítero, este último em 21 de Abril de 1908, através de licença especial, pois não havia completado os 24 anos de idade exigidos para o sacerdócio. No Seminário foi professor de português, latim, geografia, música e catecismo. Foi colaborador de alguns jornais como “A Estrela Polar”, “Pão de Santo Antônio”, “Voz de Diamantina”, “A Idea Nova” e “Diamantina”. Homem inteligente e de opiniões polêmicas, tinha alguns atritos devido suas publicações, o que acarretou sua transferência para o Rio de Janeiro e consequente abandono do sacerdócio em 1912, depois de alguns incidentes oriundos de fortes publicações contra a catequese de índios por sacerdotes franceses.

Inicia sua carreira de jornalista, colaborando em jornais como “O País, “Correio da Manhã”, “Gazeta de Notícias”, “Revista ABC” e “A Notícia”, também “A Gazeta” de São Paulo. Utilizava de vários pseudônimos para assinar seus textos como: Armando Sílvio, O Pimentinha, Thomaz, Rubim, João Epíscopo, Branco Alvim, Torreão e Sardinha de Nantes.

No ano de 1918, Antônio Torres ingressa na carreira consular e em 1920 assume funções no Consulado Geral em Londres. Em 1923 regressa ao Rio de Janeiro a chamado do governo e passa a colaborar com os jornais “Gazeta de Notícias” e “A Manhã”. Em 1926 retorna a Londres e em 1929 é transferido para Hamburgo (Alemanha), onde continuou escrevendo seus artigos acerca de assuntos da atualidade política e social da Europa. Faleceu no dia 17 de Julho de 1934, seu corpo foi transferido para o Brasil e enterrado em Diamantina – MG, sua cidade natal.

 

Obras de Antônio Torres:

Carmem Tropicale – 1915 (Coletânea de Poemas)

Correspondências de João Epíscopo – 1917 (Artigos endereçados a personalidades, lançado por Odoasto Godoy)

Verdades Indiscretas – 1920 (Coletânea de crônicas lançadas no jornal A Notícia).

Viagem ao redor das Mulheres – 1920 (Comédia escrita junto com Bastos Tigres e encenada no Teatro Lírico pela Companhia Leopoldo Froes).

Pasquinadas Cariocas – 1921

Prós & Contras – 1923

As Razões da Inconfidência – 1924

 

Dados retirados do acervo da Biblioteca Antônio Torres.

Ederlaine A Seixas - Historiadora - Fuc. B. A. T. / IPHAN-MG

 

Comemoração dos 50 anos do falecimento de Antônio Tôrres - Publicaram o artigo abaixo, que saiu no dia 24 de agosto de 1958.

  Marcelo Coimbra Tavares (especial para o Diário de Minas).

 Há muito tempo que escrevo sobre Antônio Tôrres, o temido panfretário diamantinense. Gatão Druis, com o carinho especial que só as grandes amizades justificam, publicou um volume das cartas de Tôrres.  Valioso Subsídio para a biografia do escritor. Rico documentário humano em que as cartas marcadas de certa nostalgia, geográfica (Tôrres foi diplomada na maturidade), revelam o outro lado do polemista. Nelas surge um Antônio Tôrres sentimental, lírico, piedoso. É preciso ler as cartas escritas no voluntário exílio de Tôrres. Elas traduzem as dimensões espirituais, a ampla e universal visão do ex-seminarista de Diamantina. Carta a amigos não são epístolas de amor são retratos, frasnes da alma. Há na correspondência de Antônio Tôrres uma universalidade de assuntos a indicar a substância espiritual de que nutria na solidão de ouro que é a diplomacia . Longe das rodas de chopp no Bar Nacional ou na Americana, sem as longas e adoráveis teriulias nas redações dos jornais cariocas, ainda na fase do jornalismo heroíco, o filho do lúcido ourives  Vicente Tôrres se sublimava. A meiguice o fazia lembrar-se das crianças e das flores, aliás as crianças e as flores constituíram o binômio sentimental do barulhento cronista.

 Está ainda por ser escrito ainda a biografia de Tôrres. Contemporâneos seus aí estão para informes seguros Agripino Grieco, que tanto o admirava , Gastão Gruis, Mário Matos, Alberto Deodato, Gilberto Amado, Aureliano Brandão, amigo desde os tempos de juventude em Diamantina, Thales da Rocha Viana são testemunhas vivas e explêndidas das sagas e do folclore sobre o autor de "As Pasquinadas Cariocas".

 Trazemos hoje modéstia contribuição para a biografia de Tôrres, é um fato inédito e por isso mesmo revestido em sabor jornalistico  implícito e intrínsco em tudo que escrevemos.

 Vive no interior de Minas o Padre que lhe ministrou nos últimos sacramentos. Fui encontrá-lo, por acaso em uma das constantes andanças pelo chão de Minas, é o padre Carlos Greiner, asutríaco de nascimento, vigário de Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce.

 

 

 

  Em 1984, data da morte de Tôrres em Hamburgo, o padre Carlos estava de viagem marcada para a Alemanha. O Comandante da Polícia Militar de Minas Gerais, Cel. Vicente Tôrres Júnior, pediu-lhe para obter notícias de seu irmão. Em Hmaburgo procurou o consulado geral do Brasil, tendo sido devidamente informado em um hospital de luteranos por uma judia cuja cada Tôrres  tinha residido. Por um tolo preconceito religioso a direção do Hospital Protestante não permitia o ingresso de sacerdotes católicos. Seis padres alemães tentaram sem resultados, avistar-se com o enfermo. Com diplomacia e insistência o vigário de Imbé (Caratinga) conseguiu a licença luterana para visitar Tôrres.

  Padre Carlos falou em português e Tôrres respondeu em alemão. Já estava familiarizado com o idioma local. Contesta o sacerdote austríaco a afirmativa de Gastão Gruis de que Tôrres não estava mais lúcido.

   Antonio Tôrres em Pleno uso de suas faculdades mentais, distinguindo bem os objetos, falando pausadamente, confessou-se contritamente, teve uma conversa franca. Abriu a alma uma confissão completa. Era a reconciliação plena e solene com a igreja católica apóstólica romana. Apesar de ter deixado a batina Tôrres nunca deixou a igreja. Não permitia que falassem mal da igreja em sua presença. Conservou através dos anos das dura vissicitudes da vida, a religiosidade. Nas obras de meditação. No silêncio depressivo dos seus aposentos do Celibatário Tôrres parecia ouvir os harmônicas e velhos sinos de Diamantina. Os sinos de bronze cantavam Aleluia de ouro na alma inquieta do padre que abandonara a batina em um momento de ira contra a mediocridade clerical dos bem pensantes da hierarquia.

      Antônio Tôrres confessou-se e recebeu a extrema unção do fato o padre Greiner lavrou uma ata, devidamente assinada por testemunhas. Houve encomendações do corpo por sacerdote católico.

         Diz o padre que assistiu os últimos momentos de Antônio Tôrres que o escritor beijou o crucifixo com o olhar banhado de lágrimas. Persignou-se, suspirou fundo, olhou os circunstantes, virou o rosto e dormiu para não acordar.

      Reinvindica o vigário de Conselheiro Pena, Padre Carlos Greiner, que seja acrescentado na Lapide Mortuária de Antônio Tôrres o título de padre, pois ele morreu plenamente reconciliado com a Igreja.

         Assim se completa o destino do grande demolidor de ídolos, Padre Antônio Tôrres, como quer o seu colega austríaco mergulhado nas longinguas paragens de Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce.

         Voz de Diamantina, pág. 4, nº37, Diamantina, 1984.