AS misteriosas pedradas
De tempos a esta parte achava-se a população desta cidade impressionada por uma acontecimento que durante dias consecutivos, se dava no edifício da estação telegráfica.
Grandes ´pedras eram atiradas ás vidraças da estação, apesar da vigilância da polícia. Quase sempre a mesma hora; o que trazia os vizinhos bastantemente encabulados.
Uma das casas, que enfrentavam a estação lateralmente, era ocupada por família distintíssima, cujo chefe, Sr. José Cabral Flecha, homem propo e honrado, está acima de toda suspeita.
De lá supunham partir as pedras, por ser lugar apropriado em virtude de sua posição, embora todos reconhecessem que o ato delituoso não poderia partir de tão distinta família.
Houve quem atribuísse tal atentado a algum espírito malioso que, inimigo do Sr. Damasceno, quisera do além túmulo mostrar o seu desagrado.
Mas o digno delegado de polícia, capitão José Augusto de Menezes, que quer ver para crer, deslindou o fato na noite de 11, cujo escândalo repercutiu em todos os ângulos desta cidade, produzindo grande admiração a todos a que chegava a notícia de tão anomalo acontecimento.
Há dias esta autoridade pôs a campo toda sua atividade e energia, não só porque é reto cumpridor de seus deveres. Como o fato por si tinha tomado tal incremento, que constituía uma afronta contínua ao indivíduo á autoridade e a sociedade em geral.
Acervo de Zé da Sé - tirado da internet.
Além de tudo isto, o chefe da estação, Sr. Manoel Damasceno dos Reis, com razão, queixava-se amargamente da Diamantina, das autoridades, do Estado de Minas, do presidente do Estado.
Na noite de 11 do corrente, o digno delegado de polícia redobrou a vigilância, postando nos pontos suspeitos não só os soldados, como amigos e até o seu próprio filho menor, José de Menezes Júnior, a cuja inteligência se deve a descoberta do X de tão intrincado problema.
Desde cedo inteligente jovem acompanhou sem deixar perceber, os passos do crioulo Genesco, sobre quem recaíam algumas suspeitas; Percebeu-se qualquer coisa que fel-o convencer-se que esse crioulo tinha parte no delito.
Nisto agarram uma menina, criada do Sr. Damasceno, que surrateiramente apanhava pedras, ocultanto-as em uma toalha que trazia.
Incontinenti o Sr. Delegado apodera-se da menina, é o crioulo Genesco, indigitado, em seguida preso e interrogado.
Declarou Genesco que não tinha culpabilidade, visto como obedecia ás ordens do Sr. Damasceno e sua mulher para atirar pedras na estação, o que ele fazia de fora para dentro, e que essas pedras lhe eram fornecidas pela pequena Maria, que obedecia ás mesmas ordens; e que quando ele não podia jogar as pedras nas noites de mais vigilância, a própria Maria quebrava os vidros do lado de dentro arremessando a pedra para trás, afim de fazer supor que partia da rua.
Perguntou-lhe o Sr. Delegado a que atribuir o inqualificável procedimento do chefe da estação; qual o seu intuto; a que respondeu Genesco, dizendo que o Sr. Damasceno e sua Senhora, profundamente desgostosos por estarem envolvidos em um processo, ainda pendente de julgamento instaurado contra uma outra sua criada pelo crime de infanticídio, desejavam ardentemente obter remoção desta cidade e procuravam por esse meio fazer crer a seus superiores que os diamantinenses era um povo bárbaro ou segunda expressão da senhora Damasceno: Uns mineiros brutos e que eles eram vítimas indesejáveis do tão escandaloso ato de vandalismo
Acervo Zé da Sé - Tirado da internet.
O interrogado deu muitos outros esclarecimentos desfavoráveis ao sr. Damasceno e a sua senhora.
Perante inúmeras pessoas, no Palácio do Juri, foi interrogado o Sr. Damasceno, que negou sua conivência com o crime, fazendo responsáveis o crioulo Genesco e sua criada Maria. como instrumento de um trama urdido nesta cidade, ou no seio da sua repartição, contra si e sua família, não sabendo porém a quem atribuir isso.
Presente o crioulo Genesco comfirmou em presença do Sr. Damasceno de de todas as circunstantes, tudo o que havia dito.
Interrogada em suas residência, a esposa do Sr. Damasceno, também negou a responsabilidade do fato.
Com toda a imparcialidade fizemos a narração do ocorrido e, não querendo adiantar juízos, apenas diremos que o Sr. Damasceno errou o alvo em querer lançar estigma sobre o povo diamantinense, cuja tradição honrosa de povo ordeiro e hospitaleiro deve ser conhecida pelos seus chefes, e que era possível não ser acreditado mesmo que tivesse vingado seu tenebroso intuito.
Ao digno e inteligente delegado de polícia, capitão José Augusto de Menezes, rendemos um preito de homenagem por ter, com energia e hombridade de caráter que lhe são peculiares, posto fim ao ato das pedradas misteriosas.
O Município, òrgão oficial do governo Municipal, ano VI, Diamantina, 14 de julho de 1900, n. 234.