Barão do Rio Branco

17-02-2011 08:47

    A Fragata brasileira Imperatriz, de 54 bocas de fogo, repele gloriosamente na madrugada deste dia, no porto de Montevidéu, o ataque de sete vasos de guerra argentinos montando 116 bocas de fogo. Foi morto no começo da ação o comandante da Imperatriz, capitão de fragata Luiz Barroso Pereira, natural de Minas Gerais. (Vide Barão do Rio Branco, Efemérides Brasileiras).

    A Revista Popular, do Rio de Janeiro, publicou a 15 de fevereiro de 1862 uma extensa notícia biográfica de Luiz Barroso Pereira, e aí colhemos os seguintes trechos relativos ao intrépido e arrojado marinheiro: Nasceu no antigo Arraial do Tijuco (Diamantina), quando seu pai exercia ali funções de intendente dos diamantes.

    Como mineiro, Luiz Barroso Pereira, era franco quanto podia ser, e dotado de espírito lhano e despido de refolhos.

    Nascera ela na formosa terra onde o aspecto dessas montanhas titânicas e verde azuladas desses rios límpidos e majestoso, desses convales floridos e arvorejados, desses campos sempre verdejantes e férteis inspira ao homem desde a sua meninice o amor á pátria e  á liberdade.

    Barroso era ainda uma criança quando teve de dizer um adeus saudoso ao céu brilhante de sua terra. Deixou Minas e seus montes, seus rios e seus campos... e chegou ao Rio de Janeiro. Seus olhos se dirigiram ávidos em procura do oceano, e logo que o pode ver, nele crava-os, contemplando-o com êxtase... Nunca se ele o mar; e partindo para Lisboa, tal foi o desejo que teve de seguir a carreira náutica que seu pai dedicou-o a ela. Em 1802 concluiu ele seus estudos, tendo distinguido por um talento extraordinário e por aplicação não vulgar.

    A guerra da Península deu ocasião a que ele patenteasse as suas belas qualidade de oficial hábil e inteligente.

    O nosso jovem oficial recebeu o comando de algumas barcas canhoneiras e mereceu, pelo seu zelo e pela sua galhardia, os louvores de seus chefes, distinguindo-se sobretudo em Santarém, quando aí se achava o heróico general francês Massena.

    Após uma luta encarniçada, os anglo hispano lusos conseguiram expelir da península e fazer recuar até Tolosa os exércitos que a ocupavam.

    A 30 de março de 1816, depois de uma ausência tão longa, pode ele ver a terra da pátria e admirar de novo a formosa baía do Rio de Janeiro, onde pela primeira vez vira o salso elemento.

     A 12 de junho as forças navais, ao mando de Rodrigo José Ferreira Lobo, singraram para o sul, conduzindo as tropas do general Lecôr, e posto que devessem estas desembarcar em Maldonado, segundo as intenções do governo, não foram estas observadas, sendo o desembarque operado em Santa Catarina.

    A esquadra seguiu para o Prata, onde estacionou.

    No entanto, o general Lecôr, depois da vitória de Índia Muerta, entrou triunfante em Montevidéu no dia 20 de março de 1817.

    Precisava de enviar a Buenos Aires um comissário que tratasse com esse governo de assuntos importantíssimos concernentes á guerra na Banda Oriental. Era de mister que o encarregado de tal missão possuísse, a par da habilidade, circunspeção, prudência e ilustração.

    O almirante Lobo enviou ao general o jovem Barroso, dizendo-lhe que não encontraria ele nem no Exército, nem na esquadra, oficial mais inteligente, hábil e probo que esse.

    Desembarcou Luiz Barroso Pereira em Montevidéu e apresentou-se logo ao general Lecôr: expôs-lhe o motivo por que enviavam a Buenos Aires, fazendo-lhe ver toda a gravidade e importância da missão que lhe confiavam; e no curto colóquio que com ele teve, pela magnitude de seus pensamentos, facilidade de exprimir-se, amenidade de estilo e sobretudo delicadeza do trato, augurou-lhe o general um brilhante porvir na carreira a que se dedicara, e congratulou-se por ter encontrado para intérprete de seus pensamentos em Buenos Aires um moço de tanta capacidade e aptidão.

    O hábil mineiro soltou em Buenos Aires.

    Dera já provas de sua bravura como militar e como marinheiro; ia dá-las de sua habilidade como diplomata e como político.

    Sua fronte majestosa, seu andar seguro e firme, seu porte nobre e grandioso como que arrancavam simpatias a todos os que viam. Seu trato afiável e sua bela educação rodeavam-no de amigos e, graças a isso, foram sem número as amizades que deixou entre os portenhos.

    Abriram-se as conferências e o governo de Buenos Aires fingia estar de acordo com o nosso representante, no que dizia respeito á expulsão de Artigas, implacável inimigo dos portenhos; mas ocultamente lançava ele os alicerces que deviam servir para a trincheira da qual pretendia disputar-nos, logo que se oferecesse ocasião azada, a posse da Barra Oriental. Para esse fim tinha emissários em Montevidéu, dentre os quais distinguiam-se o coronel Vedia, o Dr. Passos e outros; e para que desvanecessem as desconfianças do Visconde de Laguna, protestavam sempre estes a ele, e Puyerredon a Barroso, "que tal procedimento nada tinha de positivo, sendo seu único objeto tranquilizante as províncias do interior, inquietas pela nossa proximidade e pelos contínuos triunfos obtidos pelas nossa armas".