Casa da Chica da Silva

11-01-2011 22:55

    Uma das residências oficial do Desembargador João Fernandes, onde ele recebia as visitas de cerimônias e as pessoas que desejavam cuidar de negócios.

    Quanto aos prazeres e requintes, bailados, músicas, danças e festas eram reservadas na chácara da Palh, longe de olhos e ouvidos alheios, que se entregava e derretia ao conchego de sua amada Francisca (Xica).

    A casa de Chica da Silva está bem conservada e apresenta as características e aspectos de muitas construções do século XVIII. Possui pátio interno. O hall da entrada é o mesmo, assim como são da época as treliças que fecham o vasto alpendre lateral da casa.

    O portão dos fundos que dá para rua depois de reformado ainda conserva as suas características orignais. Antigamente tinha um poste esculpido fincado ao lado do portão que mais tarde foi transferido para o Museu do Diamante.

    Junto da casa de Chica da Silva ainda se pode ver a porta da capelinha particular que o João Fernandes mandou construir para ela. Já que ela não podia entrar na igreja dos brancos por ser de cor. Chica sendo mestiça jamais pode frequentar a Igreja do Carmo, construída com o dinheiro do seu amante João Fernandes, que era exclusivamente ao uso dos brancos. Mesmo com todo o seu dinheiro e poder, teve que respeitar o costume da época, que deveria ser um grande incômodo para ela.

    Chica da Silva teve de João Fernandes nada menos que doze filhos, sendo nove mulheres e três homens, todos legitimados pelo contratador. Eram os seguintes filhos: Francisca, Rita, Ana, Helena, Luísa, Maria, Quitéria, Mariana e Antônia desde de cedo foram enviadas para o Recolhimento de Macaúbas, onde se educaram. Dom Joaquim Silvério de Souza, que foi capelão e diretor do Recolhimento de Macaúbas, publicou no jornal católico "O Apóstolo" uma série de artigos, mais tarde reunidos no livro "Sítios e personagens" editado em 1896.

    A origem desse Recolhimento, escreve Dom Joaquim Silvério, que por volta de 1710, partiu de Penedo, na foz do Rio São Frncisco em Alagoas, um barco no qual viajavam os seis piedosos irmãos, Antonio, Felix, Marta, Catarina e Ana Costa, com o firme propósito de se afastarem do mundo, vivendo recolhidos em lugar isolados de todos, vivendo exclusivamente para Deus. Depois de vários dias navegando pelo rio abaixo e a bandeira da Imaculada Conceição hasteada no barco, chegaram nesse local cercado de coqueiros, chamados de Macaúbas, que logo compraram por seiscentos e vinte oitavas de ouro. Felix foi ao Rio de Janeiro pedir autorização ao bispo Dom Francisco de São Jeronymo, conde de Santo Eloy, permissão para usar o hábito azul e branco da Ordem da Imaculada Conceição, e esta lhe foi concedida, além de ser autorizado a tirar esmolas com uma caixinha oratório para a construção de uma ermida e um recolhimento para donzelas. Em 1716 as obras já estavam concluídas.

    D. Braz Baltazar da Silveira, concedeu a Sesmaria de uma légua de terras. O número de recolhidas aumentava cada vez mais. Mais tarde foi levantando outro prédio como dotes das moças que entravam, o ouro minerado nas terras, e as esmolas de particulares. Segundo as fontes da época, uma grande parte desse novo estabelecimento foi feita por João Fernandes de Oliveira. Escreve o antigo diretor do Recolhimento de Macaúbas: "Vem a pelo recordar que o desembargador João Fernandes de OIiveira, o milionário contratador de diamantes do Tijuco tinha educado e conservava no cláustro até depois da data de sua forçada mudança para Lisboa várias filhas, cuja mãe, a tristemente célebre "Chica que Manda" se habituara a entrar cada dia pela manhã no recolhimento, e sem penetrar o pátio claustral, subia a escada que conduzia aos aposentos de suas filhas, em cuja companhia passava os dias, retirando-se ao anoitecer para uma casa que João Fernandes construíra junto do estabelecimento, mas fora de seus muros".

    As freiras não gostavam da presença de Chica da Silva no Recolhimento, até que no ano de 1781, o bispo Dom Pontevel modificou os Estatutos da comunidade e proibiu as visitas, salvo em casos excepcionais de "pessas de fora, de um e de outro sexo, de qualquer idade ou qualidade que sejam, ainda que deêm e ofereçam para isso a mais avultada esmola".

    Não se sabe se era ou não filho de Chica da Silva, Dom Potevel concedeu as ordens religiosas a Cipriano, um dos filhos que Chica teve com Manuel Pires Sardinha, antes de conhecer o contratador João Fernandes.

    Chica da Silva não muito satisfeita com as mudanças que vinham ocorrendo no Recolhimento, segundo as regras do Recolhimento, as filhas de Chica da Silva não podiam usar véu branco na igreja porque não eram de "sangue puro".  Também eram podadas de ocuparem certos cargos importantes na comunidade, porque não tinham "sangue bom" nas veias. Com isso Chica muito amolada, retirou-se suas filhas do Recolhimento, já moças, exceto Antônia, a caçula que entrara para o claustro. Duas delas haviam morrido no Recolhimento, ainda meninas. E Chica retornou para o Tijuco, alojando-se na chácara da Palha.

    Em 1786, Quitéria volta ao Recolhimento de Macaúbas com criança nos braços de um romance secreto que teve.

    O bispo acabava de ordenar que o Recolhimento só podia receber donzelas. Tudo isso porque corria a fama de que os maridos estavam enclausurando as suas esposas ali para se protegerem a moral, a fidelidade pelo tempo que eles ficassem fora. O fato é que o próprio Governador Cunha Menezes teve de intervir, ordenando á Diretora do Recolhimento que recebesse Quitéria com sua filha Mariana Vicência. Segundo documentos revelam que Simão Pires Sardinha um dos filhos da Chica da Silva teve com o seu primeiro amante, era muito querido do governador Cunha Menezes, do qual Simão recorreu do governador para intervir no caso da sua irmã, que veio a falecer no ano de 1855 em Macaúbas. A sua filha Mariana Vicência saiu de Macaúbas casando-se  e morreu na miséria, no ano de 1859, conforme o seu testamento deixado " (...) Eu Marianna Vicência de Oliveira Rolim, estando enferma mas em perfeito juizo, e claro entendimento, determino fazer o meo Testamento pela forma e maneira seguinte: - Sou Cathólica Romana, creio na Religião de Jesus Christo, em sua fé vivi, e nella pretendo morrer, ajudada com seus auxilios e graça; sou Brasileira, filha natural do falecido Padre José da Silva de Oliveira Rolim, e Dona Quitéria Rita, já falecidos, sou nascida e batizada na Frequezia da Diamantina, e hoje moradora na Frequezia de Nossa Senhora da Saude da Lagoa Santa, e Bispado de Mariana.

    Declaro que na cidade de Ouro Preto tenho a herança de meu pai de hum conto trezentos e oitenta e quatro mil depozitados no Cofre. Declaro que na Diamantina nada mais tenho a receber. Declaro que sou cazada com Floriano Martins Pereira, e que devorciamos separando os bens que então havião, e que elle na retirada levou a escrava Thomazia e hua cria de nome Jacinta, as quais escravas pertencião a minha finada Mãi, que então era viva". Fidalgo, 23 de julho de 1859.

    Os homens tiveram mais sorte que as mulheres, pois foram para Coimbras e lá se bacharelaram.