Curral

16-03-2011 22:58

Numa roda de amigos, Dr. Carranca contou outro dia a seguinte história um tanto alegórica:

-                     Havia na fazenda do certo amigo meu uma vaca com dois bezerros. Um deles, mais esperto e mais manhoso, se caracterizava por uma acentuada vocaçãoas têtas da sua respeitável mãe, vivia mamando... O outro, arredio e briguento, se contentava com olhar atentamente a ganância galactófaga do seu irmão. Berrava de longe, mas respeitava a paciência e a predileção da usa mãe-vaca.

Certo dia, porém houveram por bem ajustar uma luta para ver quem podia mais. Foi posta fora de dúvida a igualdade de condições entre os dois contendores. Todavia, enquanto os juízes discutiam sobre as cláusulas da peleja e enquanto os vaqueiros limpavam e enfeitavam o local do encontro, o tão bezerro predileto aproveitava as têtas da sua ilustríssima “progenitora”, só abandonando a “mamação” poucos minutos antes da competição. Portanto, um ia combater sem mamar e outro ia entrar na arena depois de mais de “15 curtos dias” de mamadura.

-                     E qual foi o bezerro vencedor, Dr.?

-                     Ainda não se sabe, pois a justa vai se realizar é no próximo Domingo...

-                     Uai! O Sr. parecia falar do passado...

Não. O negócio ainda vai ser realizar. E já estou prevendo uma coisa: se o bezerro mamador ganhar, vão dizer que é porque mamou de mais; se o outro perder, dirão que é porque mamou de menos...

-                     E qual a sua opinião, Dr.?

-                     Minha opinião é que precisamos acabar com essa história de ganhar luta de bezerros só pelo fato de mamar de mais ou de menos. Seria muito melhor para as vacas, touros e para todo o rebanho que as lutas se decidissem unicamente por causa da capacidade dos lutadores e das intenções que os levaram á luta, tendo em vista o beneficiamento coletivo de todo o gado.

-                     Mas, afinal, o Dr., o Sr. quer se referir é a bezerros ou a partidos políticos?

-                     Meu amigo, estou falando é de curral; agora se quiserem entender a alegoria como aplicável a outras “touradas”, tem plena liberdade...

Demófilo, Voz de Diamantina 1945.