Dr. Francisco Sá

01-05-2017 19:37
 

 

 

Ainda sentimos a impressão dolorosa que pesa sobre Diamantina, pelo  desaparecimento desse grande amigo e benfeitor da nossa cidade, e a quem a nossa população, reconhecida, tributava uma estima excepcional, sincera e mui merecida.

O notável mineiro, senador Francisco Sá, foi um homem de solida  cultura, que o tornou admirado em todo o país. Grande e sincero amigo de Diamantina, seu berço de criação, este, certamente, vai lhe tributar as ultimas homenagens de gratidão e saudade.

Com sua morte, perde o Brasil e Minas um dos seus filhos mais gloriosos pelo talento, pela eficiência dos seus programas de governo fielmente executados, pela eloquência a serviço de uma ação parlamentar elogiada e admirada pelo grande Rui Barbosa, de quem era dilecto amigo.

Nasceu o dr. Francisco Sá na fazenda de Santo André, município de Grão Mongol, desaparecendo aos 74 anos de idade.

As circunstâncias o levaram, constituindo família, a ligar-se á família dos Accyoli, fazendo também carreira no Ceará como que explicam certos arrebatamentos de eloquência oratória, que o transfiguravam por vezes como se a familiaridade do nordeste e de sua gente se houvesse temperado um pouco ás suas raízes mineiras, esclarecendo o equivoco dos que viam nele orador do norte.

Assim, sua inteligência e sua atividade, estando a serviço do país, em cujo centro o sr. Francisco Sá atuou como deputado, senador e como ministro, que o foi por duas vezes, estiveram especialmente a serviço de dois Estados: ,Minas e Ceará, que ambos muito -lhe devem- c podem  por igual se orgulhar da representação de tão eminente brasileiro, que se distinguiu tanto como auxiliar do governo cearense de Carlos Ottoni, como do governo mineiro de Bias Fortes.

 

 

 

 

 

 

 

 

A Revolução de 30 o surpreendeu na Europa, como senador da bancada cearense. Já estava doente. Regressando ao Brasil, viveu desde então uma vida de retraimento, com as veias maltratadas pela esclerose, que o vitimou.

O senador Francisco Sá foi um homem que soube honrar a tribuna do senado, num conjunto em que avultavam Rui Barbosa e Epitácio Pessoa, Barbosa Lima e Paulo de Froutin, sendo um dos mais fluentes e brilhantes oradores do regimen, e culto entre os que mais o eram. Como orador, dele dizia Rui:

"Os seus discursos são tão agradáveis pela doçura da voz e pela sua harmonia, pela simplicidade da argumentação, e sua lógica, pela visão da verdade e a sua certeza, que temos desejo de bradar bis ao final de seus epílogos".

 

Assistiu no fastígío da sua gloria parlamentar ao esboroar da primeira República, que ele previra com segurança Deixa no Rio de Janeiro e em Minas numerosa família, abalada pela sua morte e que conservará justo orgulho de sua vida bela e gloriosa. Francisco Sá foi um orador de raça, possuidor de todas as qualidades que exalçam essa arte difícil; as frases lhe saiam espontaneamente bem feitas, possuía uma voz agradável e a sua argumentação era simples, sóbria, convincente.

Nas duas vezes em que foi ministro pôs em evidência o fator comum para resolver os grandes problemas brasileiros—os transportes. Sempre afirmo usar esse o programa capital de governo, :pôr á disposição do povo meios de exportar seus produtos. Nenhum governo construiu mais estradas de ferro do que os dois em que foi ministro da Viação.

Iniciou seus estudos de humanidades no velho Seminário de Diamantina, e os terminou ali, .quando as descobertas dos diamantes no Sul da África reduziu a princesa do Norte a um relicário de lembranças, mas nunca esqueceu o teatro, onde passou sua infância e adolescência. Seguiu para o Rio, onde fez seus preparatórios, e os seus exames fizeram época: no exame de latim, traduziu em alexandrinos a ode de Horácio que lhe caiu por sorte; o velho professor o classificou avis rara in terris e o convidou em publico para lecionar esta humanidade em um colégio. Mas, a febre amarela o obrigou a repatriar-se. Foi dos primeiros, mais queridos discípulos de Gorceíx, o fundador da Escola de Minas. E esta amizade foi conservada toda a vida do benemérito sábio francês, mesmo quando Gorceíx, se transferiu para a Europa. Com 22 anos apenas, tendo se formado, como primeiro aluno de sua turma foi convidado, por Carlos Ottoni, para secretario de governo no Ceará, para onde fora nomeado presidente aquele ilustre mineiro. 

Voltando a Minas, como secretario da agricultura do governo Bias Fortes, teve a fortuna de assinar o decreto da transferência da Capital para Belo Horizonte. Eram seus progenitores, o sr. Francisco Sá e d. Agostinha dos Santos Sá e esposa d. Olga Sá.

Deixa o dr. Francisco Sá uma irmã, a exma. senhora d. Maria Olyntha de Sá Pires, esposa do dr.Aurélio Pires, professor da Universidade de Minas Gerais. Deixa o saudoso extinto os seguintes filhos: dr. Carlos Accioly de Sá, casado com d. Maria José de Sá Lessa; dr. Francisco de Sá Filho, casado com d. Helena de Sá; d.' Déa de Sá Lessa, casada com o dr. Francisco de Sá Lessa, professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro; dr. Paulo de Sá, casado com d. Bemvinda Tost de Sá; dr. Pompeo de Sá, casado com d Orminda Lessa de Sá; dr. Agostinho de Sá e dr. José de Sá, solteiros, e d. Maria Alice de Sá Leal, viúva do dr. João Leal.

 

 

 

Fonte Bibliográfica

 

Voz de Diamantina, pág. 2, 2 de Maio de 1936, nº 12.

Foto: Acervo Zé da Sé e internet