Enforcamento em Diamantina

01-01-2013 15:57

Enforcamento em Diamantina

 
 Quem diria? - o pitoresco  Bairro do Rio Grande, onde hoje se cuida da vida espiritual dos homens e se prodigaliza a caridade aos velhinhos desamparados, justamente ao alto da rua do Areão, era o ponto em que, nos antigos tempos de Diamantina, se executavam os infelizes condenados á morte.
 Ainda há poucos anos, encontravam-se, ali , dois tocos dos postes do triângulo da forca.
 Contavam-nos os nossos antepassados as cerimoninas impressionantes que precediam á cena horrível do enforcamento aterrador.

 Procedi-na, pela manhã, na velha Sé, a missa em que o sentenciado recebia a sagrada comunhão.
 Após a missa, formava-se o prestíto fúnebre de um vivo morto, composto da Guarda Municipal e do Destacamento Policial, de autoridades judiciárias e policiais, conduzindo em direção ao local da forca, o condenado, vestido de túnica branca dos sentenciados, já com o laço da corda ao pescoço, e acompanhado pelo caixão mortuária, carregado á cabeça de outro sentenciado.
 Seguia-no o Vigário da Paróquia, revestido de sobrepeliz e estola preta; o carrasco,q ue vinha especialmente de Ouro Preto; e a banda de música local, que executava, durante o percurso, alguns trechos de uma marcha fúnebre, comovente e impressionante.


 No local, a execução do condenado constituia a tragédia mais compungente que se pode imaginar!
 É que o desgraçado, já enforcado pelo laço, suportava ainda enganchado no pescoço, o maldito carrasco, agindo com as mãos e fazendo força sobre os ombros do asfixiado,a té qeu este pusesse meio palmo de língua para fora.
 Consumada a cena, o carrasco cortava a corda, cainda ao solo o desgraçado, cujo cadáver era conduzido pelos presos da cadeia ao Cemitério do Burgalhau, conhecido como Cemitério dos Enforcados. Hoje desaparecido.
 Excusado é dizer que a banda de música, ao regressar da nefanda e burlesca tragédia, punha-se a tocar dobrados alegres!...
 O último enforcamento que se verificou em Diamantina, foi em 1849.
 Um episódio se deu, por ocasião desse último enforcamento. É que, no ato de ser enforcado o desgraçado,a corda arrebentou, e houve quem se prontificasse a vir buscar na cidade, nova corda, para o suplício do infeliz.
Voz de Diamantina, pág.3, Coisas do Passado de Diamantina, do livro inédito de J. Augusto Neves, Xisto Reis, Diamantina, 1947.