fatos ocorridos na diamantina antiga

27-01-2013 09:17

No ano de 1907 decorria em Diamantina dois partidos políticos se divergiam violentamente no município: o "Sessenta e Nove", chefiado pelo senador Olímpio Mourão, agente executivo e presidente da Câmara Municipal, apoiando pelo jornal "O Norte", e o "Quarenta e Cinco", constituído pela coligação das famílias Caldeira Brant e Mata Machado, sustentado pela "Idéia Nova".

   No Parque Municipal, no Largo do Rosário, possuía um coreto, era arborizado, um grande gramado ocupava o parque. Mais embaixo ficava a escola "Américo Lopes" e ao lado do Largo o Teatro Santa Isabel;  realizavam-se aos domingos, das cinco ás seis horas da tarde, concertos da Banda de Música do 3º Batalhão da Brigada Policial, sob a regência do sargento Manoel Felix, que era exímio cantor de modinhas  e perito tocador de violão, nas serenatas (castelos, conforme e denominação local).

  Fundava-se o secreto clube político "Delenda Cartago", que tão importante papel desempenhou nas eleições municipais do fim desse ano.

                                                      Imagens do Google - Praça Joubert Guerra - Diamantina

   Os festejos do Carnaval decorreram com alguma animação: de dia mascarados pela ruas; no domingo gordo, segunda e terça feira á tarde, cortejo carnavalesco, com Júlio Procópio num andor, fantasiado de Báco, á noite baile masquê no Teatro de Santa Isabel.

    No dia 26 de fevereiro falecia repentinamente, aos vinte e oito anos, o malogrado poeta Edgard da Mata Machado. Justamente, um mês depois, a 26 de março, morria o seu irmão mais velho, João da Mata Machado, ambos filhos do Conselheiro Mata Machado.

   No Largo do Rosário existia ainda o velho e tradicional Teatro de Santa Isabel, e cuja porta assentava-se, ás tardes, um grupo de "Tesouras", a cortar na vida alheira. Pouco adiante erguia-se grande e velhíssima gameleira, vetusta tradição dos tempos coloniais. Uma semente desta árvore, levada pelo vento ou pelos pássaros ou morcegos, fôra brotar e desenvolver-se no cruzeiro de madeira, em frente á igreja de Nossa Senhora do Rosário, criando várias lendas sobre a Cruz e a Gameleira. A Gameleira abraçou a cruz e a engoliu deixando apenas os seus braços para fora, o resto do tronco ficou enterrado dentro da gameleira, criando várias histórias, na década do ano 2000, a gameleira acabou falecendo ali numa noite de tempestade de ventos e chuva. A tristeza abalou a população da cidade. No outro dia, muitos curiosos foram velar e observar a velha gameleira esticada no chão. O sr. Helio da Fonseca morador próximo, logo arrumou algumas mudas de gameleira e fincou no local da outra. Hoje a gameleira está imponente;  carregando os braços da cruz nos seus troncos, a lenda e a história voltou. Conta-se que no dia que a gameleira tombou era um sinal de algo iria acontecer. E poucos meses depois o paróquio e o Cônego Walter que celebrava todos os sábados a missa, acabou adoecendo e falecendo. Para muitos a queda da gameleira era o sinal Divino da morte do Cônego Walter. 

   Voltando na história principal, perambulavam pelas ruas curiosos tipos populares: Juca Bonifácio, o Butifarra, Maria do Zé Eleutério, Camilinho do Palácio, Teresa Doida, Pedro Duraque, Salviano, preto de pernas tortas, sempre carregando nas procissões uma grande cruz de prata.

   Em modesta casa, no fim da rua do Rosário, quase perto do Largo, residiam os irmãos Moysés de Paula, Manoel Arrã e Modesta Arrã, célebres pela feiura, verdadeiros Quasimodos.

   O "Parentinho" Augusto Teixeira  Gente, comensal de todos os banquetes e jantares comemorativos, recitava, solene e compenetrado, sonetos, poesias, motes e gloses dos antigos poetas diamantinenses.

   O Agostinho Lopes Detalonde, temido por sua bravura (caráter leal e coração boníssimo) fazia discursos inflamados nas manifestações políticas dos "Quarenta e Cinco". O ourives Antonio de Pádua Oliveira , discípulo do Ezequias Lopes, falecido pai do Delonde, finíssimas taças de coco e ouro, verdadeira obras de arte.

   O Padre Antonio Tôrres, fanático por Eça de Queiroz, publicava interessants crônicas na "Estrela Polar" e na "Idéia Nova".

  Os pontos mais sociáveis da cidade, á noite, onde se jogava e cervejava á grande, eram: o Bar do Teófilo Batista, o Restaurante do Assis Moreira e o armazém de D. Maria do José Eleutério, no Beco da Tecla. Em pequenas casas deste beco, a Calu e a Tia Plácida (Placidina) serviam modestos cceias de galinhas de molho pardo, almôndegas, linguiça com farofa e o infalível parati.

  Havia na cidasde duas bandas de música: o tradicional Corinho, fundado no tempo do Império, do Partido Conservador, dirigido até dois anos antes pelo maestro Antônio Efigênio de Souza (o Paraguai), falecido em 1905, e a banda Comercial,d e fundação recente, o Corão, banda dos liberais fundada no tempo da monarquia, já havia desaparecido.

   Cabalavam fortemente e com sucesso, na política local, os irmãos Andrades: Anselmo, Felix, Pedro e Martinho, o primeiro do partido dos "Sessenta e Nove" e os outros do grupo dos "Quarenta e Cinco".

    A Lapa do Claudio, no Rio Grande, era o ponto preferido para os piqueniques.

   Circulavam quatro semanários : Estrela Polar, Pão de Santo Antônio, Idéia Nova e "Norte".

   Ainda existia em Diamantina a velha e bárbara tradição do Entrudo com limões de cera, setingas de bambu ou de folha de flandres, canoas d´água pelas ruas, assaltos aos transeuntes para molhálos, mergulhá-los nos chafariz e até escaladas ás janelas das casas de familias.

     Na vespera de S. João, 23 de junho, desde as duas horas da tarde,e ra perigoso saira á rua, parecendo a cidade uma praça bombardeada, tal a quantidade de bombas e busca-pés, a estourarem por todos os lados.

     A cachoeira do Glória, no Rio Grande, erea o banheiro dos rapazes diamantinenses.

    As festas religiosas mais importantes eram: de Nossa Senhora do Amparo, Império do Divino, Reinado do Rosário, com as respectivas novenas, procissões e levantamento de mastro.

    O Visconde de Tourinho, decaído de sua antiga opulência, vivia modestamente, como inspetor de uma empresa de mineração de diamantina, na Boa Vista, indo á cidade, aos sábados, jogar pôquer  no Bar do Teófilo Batista.

 

Imagens do Google - Diamantina

 

 

    O Dr. Theodomiro Alves Pereira, advogado eloquente orador e brilhante jornalista, que deixara fulgurante renome em São Paulo e desempenhara importantes mandatos políticos, então no ostracismo, septuagenário, vivia isolado e recluso em casa, como um anacoreta.

    O alegre e loquas Chico Guedes defendia no juri seus constituintes, com frases  empolgantes, citando, citando de cór, longos discursos de Gambeta, por ocasião da guerra franco prussiana.

    O professor Antônio Mourão, relembrando seus feitos na campanha abolicionista, lamentava a decadência de Diamantina: "Estamos perdidos! Isto aqui é uma bacia de pedra!"

        O influente chefe político Cadete (Justiniano Fernandes de Azevedo), requestado pelas duas facções em luta, mantinha-se neutro, tratando de uma extração de diamantes, em Campos do Sampaio.

      O barbeiro italiano, Domingos d'Ascenzo, que, em 1895, abraçava e beijara, em plena rua, uma aluna da Escola Normal, não perdera a esperança de casar-se com uma jovem diamantinense.

       Em setembro realizava-se com toda a solenidade o Congresso das Municipalidades do Norte de Minas, com a presença do Presidente do Estado, Dr. João Pinheiro da Silva, do Secretário do Interior, Dr. Manoel Thomas de Carvalho Brito, presidente das Câmaras Municipais e numerosos políticos.

      Nessa ocasião inaugurou-se o primeiro Grupo Escolar  da cidade, sob a direção do autor destas linhas e seguinte corpo docente: D. D. Mariana Corrêa Rabelo, Júlia Kubitscheck, Custódia Brant , Edésia Corrêa Rabelo e Eponina da Mata Machado. Porteiro o sr. Francisco Regulo Perpétuo e servente D. Augusta Bago.

                                           Imagens do Google - Alunas do Antigo Colégio Nossa Senhora das Dores- Diamantina

     Nessa época os enterramentos eram feitos nas igrejas do Carmo, das Mercês, de São Francisco e do Rosário, pois o cemitério construído em 1890, só começou a ser utilizado em 1912, data em que desapareceram os sepultamentos nas igrejas.

     A casa comercial mais importante da cidade e do Norte do Estado era o grande Empório do Norte, de Mota & Companhia, com preços fixos honestamente reduzidos. Compare-se esse processo com a ganãncia de hoje, no Rio e nas grandes cidades, onde os negociantes extorquem lucros exorbitantes de 800, 400, 500 por centos e mais!

 

     Foi em 1907, que o engociante João José Dias começou a mdernizar o comércio de Diamantina, estabelecendo um grande gazar no largo do Curral (Praça D. João) ou Largo D. João, também com prelos moderados.

       Finalmente em primeiro de novembro, realizavam-se, em perfeita ordem as eleições municipais mais disputadas que já houve em Diamantina, saindo vitorioso o partido dos "Quarenta e Cinco". 

ARNO, Ciro, Tempos Idos, Diamantina, 1957.