Fazenda Capitão Felizardo
Minha narrativa tem inicio no século passado, ali pelos anos cinquenta. Trata-se de relato sobre um grupo alegre de jovens, moças e rapazes, constituído pelos “Miranda” de Camilinho, os “Dumont” do Vassalo, os “Pinto de Oliveira” de Capitão Felizardo e os “Rodrigues” do Braz, nas proximidades de Costa Sena.
Este grupo, principalmente, no período de férias escolares, estava sempre reunido, o motivo era o que menos importava, isto é, a festa podia ser religiosa ou profana. Reuníamos no Vassalo, no Camilinho ou em Capitão Felizardo .
Os jovens, dos anos cinqüenta, são os avós de hoje, que por questão de trabalho ou de família acompanharam o êxodo rural em direção às áreas urbanas, principalmente, das grandes cidades.
Hoje, em Camilinho, apenas, Zico; no Braz, apenas, Juquita; no Vassalo, Olga e Dalmy, este representante da segunda geração do grupo original. Em Capitão Felizardo a situação é totalmente diferente. Os “Pinto de Oliveira” mantêm propriedades rurais nas proximidades.
Lá estão estabelecidos: Daniel, o Bié que reside em Gouveia, com propriedade nas Contendas; Chico, faleceu recentemente, mas a família tem propriedade nas imediações; Anita, casada com Luiz Rodrigues, reside numa grande fazenda no vale do Rio Congonhas.
Outro grupo optou por residir em Belo Horizonte e Contagem, mas mantêm, na localidade, boas residências onde passam temporadas e animam as festas religiosas locais, Ali estão: o Padre Carlos, pároco em Contagem, onde reside, hoje aposentado, é o guia espiritual da comunidade, tem bela residência bem no alto, ao lado da Igreja. Terezinha, casada com João Mulambo, de Gouveia, ele parente de nosso diretor social Geraldo Augusto; e, Lilina, casada com Eli de Beco, de Costa Sena, ambas, residentes em Belo Horizonte, mantêm suas casas para temporadas em Capitão Felizardo. Vininho é um caso à parte. Casado com Zoé, filha de Joaquim Malaquias, de Costa Sena, dono, com o filho João de grande fazenda circundando toda a comunidade.
Falta arrolar dois irmãos, que estão mais distantes: Antônio, já falecido, foi casado com Dalva de Cupertino Ribas, a família mora em Belo Horizonte, e, José Eugênio, que encontrei no Seminário de Diamantina, onde era conhecido como fazendeiro, bom estudante e bom esportista, era o conceituado centro avante do time de futebol da instituição. Eu tinha o conceito de fazendeiro como o dono de grandes glebas, com muito gado, e, o senhor Levindo Pinto de Oliveira, o pai desta turma, não possuía mais do que poucas vacas numa pequena propriedade. O ganho maior dele era como caixeiro viajante, conhecido, naquela época, como “cometa”, além de pequena casa comercial. Mais tarde, caiu a ficha, José Eugênio, o Zezé era originário da Fazenda Capitão Felizardo, por isso, era fazendeiro. Hoje, reside, com a família, em Contagem.
Toda esta descrição é com o objetivo de mostrar como esta família originária de Levindo e Chiquita, conseguiu transferir para os filhos e com a ajuda deles transmitirem para os netos o sentimento de família e de comunidade; o interesse na preservação das origens, dos costumes e da cultura.
Foi junto deste pessoal que fui passar o sábado, dia 10.
O primeiro encontro, com o Padre Carlos Geraldo, na sua residência, onde Terezinha, que estava presente, nos serviu um delicioso café. Dalí, eu, com minha comitiva de Amarildos, agora, enriquecida com a presença de Luiz Rodrigues, fomos à residência de Vininho.
Vininho, rodeado pela família, nos recebeu com atenção e carinho e falamos de reminiscências e de coisas da atualidade; os assuntos vinham em catadupa, conforme gosta de escrever nosso professor Moreira. Interessante que os filhos estavam ali ouvindo as histórias, coisa rara para a mocidade de hoje. Vininho se lembrou de um pré-livro, que escrevi sob o título: Camilinho – a Origem e a Escola e comentou, também, sobre o Boletim da Afago, que chega até eles através de dois de nossos associados: álvaro Nelson e Ivo Andrade, são casados na família. Falamos de parentes, de antepassados, e da origem comum: Chiquita, a mãe dele, era prima de Zenilia, a minha mãe. Chiquita, filha de Chico Pinto; Zenilia, filha de Manoel Pinto de Miranda, o Niquinho Miranda de Camilinho. Filhos, de casamentos diferentes, de Mundéo, conhecido como Pai MUndéo, eram, portanto, meio-irmãos. Tal era nossa empolgação e criatividade que já falávamos de uma parente, filha bastarda de um conde austríaco, Cavaleiro Templário que fora à terra santa em companhia do Rei Ricardo, o Coração de Leão. Seguíamos, por esta trilha, e, possivelmente, chegássemos a dirimir as dúvidas sobre a viagem de Maria Madalena que, sob a proteção de José de Arimatéia, dizem, havia embarcado, às escondidas, para a França, protegendo o Santo Graal. Nesta altura da conversa Luiz Rodrigues, com a autoridade de fazendeiro, nos interrompeu dizendo que ia começar o desfile de carros de bois.
Sobre o dito desfile, fiz uma reportagem fotográfica que será apresentada depois que eu terminar a minha narrativa.
Após o desfile nos dirigimos à fazenda de Luiz. Lá, conduzidos por Anita para uma ampla cozinha, onde saboreamos delicioso frango caipira, bem junto do fogão de lenha. O grupo, agora, acrescido com a presença de Anita e Luiz, o neto. Se Já tinha dois Amarildo agora tinha, também, dois Luiz. Gosto quando as mães batizam seus filhos com nome do pai ou do avô.
Durante o almoço a conversa rolou solta, eu ouvia e falava com Anita, ouvia e falava com Luiz, os mais novos, agiam com sabedoria, apenas observavam. Luiz e eu fomos colegas de ginásio no Colégio Diamantinense e servimos ao glorioso exercito, como membros destacados da tropa de elite, sediada em Diamantina, com o nome de TG 73. Ele insiste em afirmar que é mais novo, afinal, ele é de dezembro e eu de maio. Aceito e concordo que ele está mais forte, também, queimado de sol e respirando o ar limpo daquelas campos, enquanto, eu fico aqui em BH, escrevendo minhas histórias. Falamos de bois e de búfalos, falamos da mocidade e da velhice, das mulheres e dos homens de hoje e de ontem.
Com Anita, uma conversa mais intelectualizada. Ela é o ícone de educação naquela e nas comunidades vizinhas. Professora aposentada, com condições para curtir a vida, foi contratada, pela prefeitura de Conceição do Mato Dentro, para supervisionar as escolas daquelas paragens, e o fez, com dedicação e competência, durante dez anos, visitando, cada escola, sempre à cavalo pelas trilhas. Anita é daquelas mulheres que, no meio rural, cuidam da educação, da saúde da cultura e da religiosidade das comunidades. As comunidades rurais devem muito à estas mulheres, cujas hitórias precisam ser contadas.
Cachaça? Naturalmente, foi servida, com raiz e sem raiz. Minha opção foi pela última, comigo, nem raiz ajuda. A cachaça era do alambique de João de Vininho e eu, ainda, não comentei a respeito deste personagem. Só, naquele dia, tive o prazer de conhecê-lo, embora, já tivesse ouvido muitas referências a ele. João, associado ao pai Vininho, é importante proprietário rural, com casa comercial na comunidade e indústria de cachaça. único filho homem de família de nove filhos do casal Vininho e Zoé; certamente, foi muito paparicado, mas a influência das luluzinhas foi positiva. Meu pai, João Baiano, se referia a homens como João de Vininho dizendo que “têm lance”; significa que “têm presença” ou melhor a presença destas pessoas, homens ou mulheres, é notada onde quer que estejam.
Depois de tudo isto voltei para Camilinho, onde, no mesmo dia receberia uma bela homenagem da minha comunidade, na pessoa do prefeito municipal de Gouveia, Geraldo de Fátima. ás 18:00 horas seria inaugurada a quadra poliesportiva que leva o nome de Raimundo Nonato de Miranda Chaves. é, portanto, um dia para ser lembrado.
Post-Scriptum
Meu amigo Roberto Alves Nunes, residente em Santa Maria da Vitória - BA e associado à Afago, dos mais atuantes, está reivindicando posição nesta narrativa. A esposa dele, Marilene, felizardense autêntica, é neta de Levindo e Chiquita, filha de Zezé, o fazendeiro e Natália. Natália é originária da Serra Talhada, ao sul de Capitão Felizardo.
Naquelas redondezas, o guru maior era Luiz Brandão, conhecido como Luiz da Serra que se tornou famoso caçador de onças. Luiz Brandão avô de Natália é, também, avô de Luiz Rodrigues que, nesta narrativa, ocupa a posição de avô e andou, no passado, exercitando-se como caçador
O Desfile de Carros de Bois
Observe, o detalhe na frente do boi de guia vermelho; a peça é um facão com cabo de osso; usado para cortar algum galho ou cipó que possa embaraçar a passagem do carro.