Fiscalização e furtos

28-04-2011 08:33

    Regularmente se incumbem oito negros a cada feitor, e com em cada uma das canoas trabalha um negro, se acha o assento daquele bem no meio do espaço que compreende as cabeceiras das oito canoas. Os lavradores trabalham em pé, com a cabeça voltada para seu vigia e dobrando o corpo, tanto para mexer o cascalho como para lançar fora as pedras inúteis e escolher os diamantes; se conserva em uma figura violenta de sorte que é preciso de espaço a espaço dar-lhe um pouco descanso, e frequentemente os mudam de umas canoas para outras afim de que eles perdam o tino de alguma pedra que tenha ido pondo de parte para a furtarem. "É incrivel a propensão e destreza tem ou adquirem todos os negros para furtarem os diamantes."  "Este vicio está entre eles tão arraigado e universal, que apenas chegam alguns moleques de novo no serviço, o primeiro cuidado que tem os mais antigos e experimentados é o ensinarem aos moleques toda a manobra a cujo fim os exercitarem com feijões ou grãos de milho, os quais atiram de longe para a boca e deste modo se habituam a recebê-los nela para os engulirem. Também os metem na boca havendo-os primeiro palmado ou escondido entre os dedos, e logo que disto se pode ter alguma desconfiança se lhes dacam do ventre á força de clisteres de pimenta malagueta." "Os negros se podem amassar os diamantes com barro ou piçarra, lançam-nos fora, marcando a paragem onde cairam para depois os irem buscar e extrairem as pedras. Quando não podem furtar o diamante pela vigilância do feitor, o encostam á cabeceira da canoa e o cobrem de esmeril para tentarem de noite vir tirá-lo. Como todos os negros andam nús durante o serviço das lavagens, aonde só se lhes permite estarem cobertos com a sua tanga, que é um pedaço de baeta envolto á roda da cintura, nesta baeta cozem eles um bocadinho de outra, que visto parece um remendo, mas lhes serve de bolsa para meterem o diamante quando acham qualquer ocasião para furtá-lo." "Também para isso apegam á mesma tanga um bocadito de cera da terra que é mole, na qual enterram o diamante e depois de havê-lo palmado, para fazê-lo mais seguramente, e fingem nessa ocasião alguma necessidade corporal.

    "Depois de palmado o diamante o que eles fazem tão destramente como qualquer curioso de peloticas, algumas vezes o introduzem no nariz, no ato de tomarem tabaco, é o asorvem até ele vir ter á boca para o engulirem". "Os negros palmam os diamantes até com os dedos dos pés, aonde os conservam ás vezes horas inteiras, e os levam neles para as senzalas e, posto que nas saídas das lavagens são examinado em todo o seu corpo, assim mesmo acontece não serem descobertos. Outros metem um bocadito de cera preta e mole atrás das orelhas e, fingindo que se coçam, depois de palmado o diamante o metem na dita cera da qual se servem igualmente pondo-a nos cabos e olhos dos almocafres e, palmado o diamante, o introduzem nela para o buscarem ali no fim do trabalho". Quando o cascalho sai do lugar molhado em forma de que por esta causa possam luzir os diamantes, na condução dele fazem para o paiol, marcam logo a paragem aonde o descobriram. Então fazem diligência para furtar uma bateia daquele cascalho no qual esperam encontrar o diamante que nela perceberam. Também deixam crescer as unhas das mãos para com elas fisgarem os diamantes pequenos, os quais encobrem muitoas vezes na carapinha que para isso deixam crescer até bastante altura."