Fundação de Baixadão

15-03-2011 19:02

Povoado de Baixadão. Um pouco da sua História – Fundada nos anos 40 do século XX.

            Baixadão é povoado novo como o seu colega Mercadinho e fundado também pelo Vigário de Carbonita Padre Sergio Ribeiro dos Santos.

            O Mercadinho está perto de Araçuaí, o Baixadão está perto do Jequitinhonha, O Mercadinho é do distrito de Carbonita e o Baixadão do de Senador Mourão ( antiga Campinas). Sua origem proveio da transferência da capela da Fazenda da Boa Vista para este território que é o mesmo um baixano extremo do norte do município de Diamantina. Acima dele, a uma légua e tanto, só existe a Fazenda de Santa Cruz que já divide com Cordeiros, povoado de Terra Branca de Bocaiúva.

            Seria exaustivo chegar até o Baixadão, mas ele naceu com felicidade: a autovia Belo Horizonte a Virgem da Lapa, não passou longe e o Vigário Sergio encontrando um empreteiro de boa vontade que fizesse a ligação ainda conseguiu da nossa Prefeitura apoio e auxílio para lá cjegarem os automóveis. Foi o que salvou o Baixadão, extrema do município de Diamantina.

            Não ficou sendo deserto... Estes preparativos facilitaram a ida dos missionários  Padres Dasio, Trindade e Gaspar, onde pregaram missão boa freqüentada por explêndidas turmas de Terra Branca, Cordeiros, Canabrava, Fazenda de Santa Cruz, Fazenda de Pedraria, e até da longiqua Carbonita.

            O Sr. Geraldo Ribeiro dos Santos, doa alto do comércio desta vila do município de Itamarandiba a vários viajantes, pedristas e ludambulos que a quantidade de povo, a armação de barracas, a paz e a tranqüilidade pasmaram gregos e troianos, ficou pasmado!

            São fatos que devem entusiasmar o Vigário Sergio que se incorporou na turma número um que procura melhorar distritos de Diamantina e Itamarandiba.

            O doador do terreno para a construção da capela foi o senhor Antonio Pedro da Silva  (Antoninho da Gabriela); já existe casa paroquial que serve de casa de escola; a catequista Josina Margarida dos Santos peleja para abrandar os costumes bravos desta longa distância; o Vigário quando vai lá faz forte campanha contra o volumoso consumo da barulhenta aguardente.

            O Baixadão está destinado a ser a sentinela avançada do extremo norte do município de Diamantina dividindo com o de Bocaiúva pelo Jequitinhonha e o Ribeirão Canabrava. PN, AEP, pág. 3, 9/9/1951.

            Um caso de 1837, acontecido na cidade de Diamantina – segundo ouvi de minha avó. Talvez você se recorde dele, porque o mestre Machado irmão do Justino, seu patrão.

            Chegara a notícia da revolução de 7 de abril a Diamantina. Grande foi o alvoroço, porque embora fosse o povo, em geral, contrário a Pedro I. Havia alguns portugueses ali e brasileiros telegráfos. Assim eram chamados os corcundas ou absolutistas.

            O forriel Ba-bá, que era liberal, correu logo á casa do irmão, o Joaquim Ribeiro, que era telegráfico.

            - Sabe da novidade, mano? O imperador debiecou a coroa....

            O Joaquim sorriu com um ar de compaixão, logo compreendido pelo outro. Disse a BA-bá.

            Disse mal, mano?

            - Sim. Podia ter dito melhor – odicou, porque esse b não pronuncia...

            O regosijo do povo foi um delirio. Os portugueses fugiram logo da cidade, receiando que as represálias da noite as garrafadas no Rio de Janeiro, fossem feitas em toda parte do Brasil.

            Depois de muita foguetaria e música, combinou-se em uma passeiata, á noite, a iluminação geral das casas. Ver-se-ia os telegráfos teriam a coragem de deixar ás escuras  suas janelas.

            Ora, o Machado era telegráfo irredutível, e teimoso. Declarou que não iluminaria. Debalde quis demovê-lo, disso o Padre Januário, irmão de d. Maria do Justino, que, como o marido era também contrário aos liberais. Mas a d. Maria era uma senhora de muito espírito: e disse logo, foi tratando de preparar as velas e castiçais para a iluminação de sua casa, e ofereceu-se ao cunhado para levar-lhe á noite as luzes necessárias ás duas janelas envidraçadas da casinha próxima, onde morava ele.

            - Que não. Que não consentiria em iluminar ainda que o assassinassem. Mas, não o fariam antes que ele matasse a dois pelo menos.

            E carregou e escorvou o seu par de pistolas.

            Á noite, percorrendo o povo as ruas com música e foguetes, viram ás escuras a casa do Machado.

            - Ilumina! Viva o 7 de abril ! Viva a revolução! Morram os telégrafos! Morra os pés de chumbo!

             A vozeira crescia, e a multidão arrojava-se para porta fechada, do Machado, e as pedradas faziam em estilhaços as vidraças. Ora, era o juiz de paz, ou coisa que valha, meu avô, o capitão Antonio José Fernandes, que morava vizinho. Foi o povo buscá-lo para obrigar o telegráfo a  iluminar.

            O capitão Fernandes era dígna parelha par o Machado, quanto á obstinação. E, como era liberal, declarou que obrigaria o homem a por luminárias.

            O povo levou-o em triunfo, dando-lhes vivas entusiásticos, a porta!

            Silêncio completo.

            Feitas as três intimações, mandou o capitão Fernandes que se arrombasse a porta, o que foi logo feito, e ele foi o primeiro a entrar. Apenas chegou á porta da sala, o Machado fez-lhe fogo com as duas pistolas á queima roupa. Estalaram apenas as espoletas.

            O povo imediatamente agarrou o Machado e levava-o á cadeia, quando a d. Maria precipita-se pela sala á dentro, armada de dois candelabros acesos, e gritando:

            - Viva a legalidade! Viva o Sr. D. Pedro II! Viva a revolução de 7 de abril!

            - E morram os pés de chumbos, e os telégrafos? Gritou uma voz.

            Sim, morram os inimigos do Brasil  mas vivam os que adotam a nossa pátria e os que, como nós aceitam o novo governo.

            - Viva a sra. D. Maria! Vivam o Justino e Antonio Machado!

            E foram logo trazendo em triunfo o Machado e esquecendo inteiramente os tiros que dera... e o capitão Fernandes, cuja popularidade durara apenas um momento.

            Minha avó, contando isso, dizia:

            - Vejam só o que é o povo! O capitão Fernandes deveu a vida nesse dia ao padre Januário. Conhecendo este a resolução e a obstinação do Machado, enquanto jantava ele, foi á gaveta tirou as pistolas e encravou-as, estupindo os ouvidos delas com sebo.

            O Machado foi um mestre de escola terrível pelas palmatoadas, que eram parte indispensável do seu sistema de ensino.

            Lembra-se?

            Eu dei graças a Deus, quando o mestre D. Carlos Rolin abriu escola na Diamantina a tempo de me livrar do mestre Machado.

Padre Silvério – Vigário de Paraopeba – Vd , pág 3, nº 27.