Garimpeiro Neco Mágico

25-02-2011 23:38

    Foi um dos brilhantes e mais representativos dos garimpeiros da época. Neco Mágico, como era conhecido Manoel Fernandes de Oliveira, possível descendente de João Fernandes de Oliveira e Chica da Silva, de sabor histórico, era ele figura característica do verdadeiro garimpeiro, destemido e aventureiro, imprevidente e desambicioso, mas livre como passarinho, seu companheiro de campo, na solidão das praias. Sempre descobridor de ricos garimpos, de um dia para outro, estava Neco cheio de dinheiro. Alto, vermelho, meio gago, olhos azuis, era de se ver a mudança de sua sisudez para a alegria. E comprava cavalo, sela, pelêgo de lã, violão, sanfona, espingarda, revólver; vestia de novo toda a família, sortia a casa de tudo, e eram dias de festas, danças, tiros, passeios, até que, finda a orgia doméstica com amigos, voltava ele para a lavra, a fazer novas descobertas, todo garimpeiro pobre e assim são todos eles, podia lhe pedir para tentar a sorte, ele consentia. Daí há pouco, acabava o serviço, não dando mais nada. Ele, então, levantava acampamento, largava o rancho e ia tentar a sorte noutro local, onde nem sempre, com êxito, aí, teimoso, vendia tudo: garrucha de dois canos, revólver, espinguarda, cavalo, etc, etc. E comprava fiado para fazer o "saco", e ficava devendo a mais de um , ate que, num descoberta feliz, pagava o atraso, e novas selas e novas violas. Foi assim no Jobô, em São João da Chapada, terreno dos herdeiros do Eliasinho e que depois venderam para o Josefino Sanguinete. Descobriu um serviço e que estava dando muito, e ele, como de costume deixava muita gente trabalhar. Os donos autorizaram a um ambicioso a tomar a lavra. Levaram a polícia, fuzis e até metralhadora, que a pessoa era de prestígio até com o Bispo. Mas o Neco resistiu, sozinho, com fundamento numa única base: a autorização do Totó, um dos coproprietários. Disse mesmo ao delegado: - O Sr. pode me prender, bater, e me matar ou levar, mas amarrado, sem o que daqui não saio, porque estou firme na minha arma, que é o meu direito. E nada houve. Murchou a polícia e demais trazendo de volta suas armas que, nenhum medo fizeram ao Neco, impávido e soberano, nas praias dos Macacaquinhos. Só muito depois, resumindo o serviço, ele e o pessoal largaram o Jobô, que logo acorrido pelos interesseiros, mas como toda lavra que tem ambição, nada mais deu. Agora é que anda dando para uns garimpeiros de São João da Chapada que com autorização dos donos, mineram lá. Saiu do Jobô e foi para os Caldeirões onde também tirou muito. E era assim o Neco. Nas épocas más ou boas, era sempre o mesmo. Voz de Dtna, 1957.