Henrique Dumont

26-07-2011 09:04

O Diamantinense Henri Dumont

Vivia na França um ourives que tinha uma filha chamada Eufrásia Honoré, que se casou com François Dumont. O sogro-ourives induziu o genro François a vir para o Brasil à procura de pedras preciosas, que alimentariam sua indústria. Assim François e Eufrásia vieram morar no maior polo mundial produtor de diamantes da época, o Arraial do Tijuco (atual Diamantina-MG).

Em Diamantina o casal teve três filhos, sendo que o segundo chamava-se “Henri” (aportuguesado para “Henrique”) nascido em 20 de julho de 1832, no distrito do Guinda. François Dumont faleceu cedo e Henrique foi ajudado por seu padrinho, que lhe garantiu um curso na Escola de Artes e Ofícios de Paris, (equivalente a Faculdade de Engenharia, nos dias atuais), tendo se formado com apenas 21 anos de idade.

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O Jovem Engenheiro Henrique Dumont

Voltando o Brasil passou a prestar serviços a Prefeitura de Ouro Preto, então a capital do Estado, região onde vivia o senhor Joaquim Santos, casado com Dona Emerenciana. O casal teve um filho que tornou-se o famoso comendador industrial Francisco de Paula Santos, que casou-se com Dona Rosalina. Entre os filhos tiveram um filha chamada Francisca. Em Ouro Preto Dr. Henrique Dumont conheceu a jovem Francisca de Paula Santos e se casaram, em 6 de setembro de 1856, na Freguesia de Nossa Senhora do Pilar.

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1 - D. Francisca de Paula Santos Dumont (esposa de Henrique/mãe de Santos Dumont)

2 –D. Francisca com a filha Sofia, irmã de Santos Dumont

Henrique exerceu várias atividades em Minas. Foi proprietário, junto com o sogro, da famosa Fazenda Jaguara, às margens do Rio das Velhas. Essa fazenda possuía uma igreja com altares de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que posteriormente foram transferidos para a Igreja Matriz de Nova Lima. Com espírito empreendedor, Henrique explorou os barcos a vapor no rio das Velhas e São Francisco.

Segundo o historiador do Rio São Francisco, Brasiliano Braz, foi durante a guerra do Paraguai (1864-1870) que o Barão de Guaicuí resolveu construir o primeiro “gaiola” que navegaria no rio São Francisco.

Em 25 de junho de 1867 o Governo de Minas, através do conselheiro Joaquim Saldanha Marinho, firmou contrato com o engenheiro Diamantinense Henrique Dumont para a construção de um vapor com 25 HP de força. Utilizando como base um velho vapor construído na América do Norte, que navegou por vários anos no rio Mississipi e depois no rio Amazonas, e que fora transportado em carretas puxadas por bois até os terminais ferroviários, chegou a Sabará, presumivelmente em 1852. Reinaugurado em 1871 pelo imperador Dom Pedro II, foi lançado nas águas do rio das Velhas em grande festa. No dia 3 de fevereiro de 1871, Álvares de Araújo inaugurou a navegação a vapor nas águas do rio da Integração Nacional ao chegar à vila de Guaicuí, onde o rio das Velhas deságua no Velho Chico. De lá, prosseguiu sua histórica “viagem de exploração” à Januária, Carinhanha, Barra do Rio Grande, Xique Xique, Pilão Arcado, Remanso, Juazeiro e Boa Vista. Em cada localidade, ele anotava aspectos da cultura ribeirinha que hoje oferecem subsídios para um melhor entendimento daquele período histórico. E assim, ficamos sabendo de sua disposição em desobstruir o São Francisco para que, unindo a navegação a vapor com as estradas de ferro, o centro do país finalmente se encontrasse com o litoral. Durante vários anos, o vapor construído por Henrique Dumont navegou de Pirapora a Juazeiro (1370km), tinha o apito rouco e estridente, que atraia os moradores ribeirinhos as margens do rio para vê-lo passar com suas duas rodas laterais. A capacidade de carga do Vapor Saldanha Marinho era de 6 toneladas e de 12 passageiros.

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O Vapor Saldanha Marinho construído por Henrique Dumont

Em 1872 Henrique tornou-se engenheiro da Estrada de Ferro Central do Brasil, transferindo-se para Palmira (hoje a cidade de Santos Dumont-MG) onde assumiu a empreitada da construção da Ferrovia D. Pedro II, trecho da Estrada de Ferro na subida da Serra da Mantiqueira, ligação entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. Para não ficar longe da família, o Dr. Henrique trouxe sua esposa e os cinco filhos, instalando-se em uma casa próxima às obras, na Fazenda Cabangu, entre os Distritos de João Ayres e João Gomes.

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Engenheiro Henrique Dumont (ao centro), tendo à direita o seu genro Guilherme de Andrade Villares(casado com Virgínia), e a esquerda, a filha mais jovem, Francisca; sentadas, as outras irmãs de Santos-Dumont: Virgínia, Sofia e Gabriela.

Neste local nasceu, em 20 de julho de 1873, data em que o Dr. Henrique completava seus 41 anos, o sexto, dos oito filhos do casal, batizado como Alberto Santos Dumont.

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Sítio Cabangu, local onde em 1873 nasceu Alberto Santos Dumont, filho do Diamantinense Henrique

Alberto tinha mais 7 irmãos: cinco mulheres e dois homens. As irmãs mais velhas, Maria Rosalina, Virgínia e Gabriela casaram-se por coincidência, com três irmãos, respectivamente chamados Eduardo Villares, Guilherme Villares e Carlos Villares, todos os irmãos eram mineiros, excetuando-se as duas irmãs mais moças: Sofia e Francisca, ambas nascidas em na cidade de Casal, perto da cidade de Valença-RJ.

Após seis anos, terminada a construção da estrada de ferro, a família se muda para a localidade de Casal, Valença (atualmente município de Rio das Flores-RJ) no Vale do Paraíba fluminense, onde vai administrar uma fazenda de café do sogro, o comendador Francisco de Paula Santos. Mas os cafezais pouco produzem. Foi ali na Paróquia de Santa Tereza que Alberto foi batizado em 20 de fevereiro de 1877.

No Rio de Janeiro, Henrique conhece outros dois fazendeiros do vale do Paraíba – Luiz Pereira Barreto e Martinico Prado. Eles haviam chegado de uma viagem à região da nascente Vila de São Sebastião do Ribeirão Preto. Os dois, entusiastas das terras do então “oeste paulista”, convencem Henrique, que já procurava por terras rochas mais próprias para plantação de café, de que o futuro da cafeicultura estava naquela região a ser desbravada.

O Diamantinense Henrique, pai de Santos Dumont viaja três dias a cavalo, desde o final dos trilhos da Mogiana (que então tinham por ponto final Casa Branca), e fica maravilhado com as terras do “oeste paulista”. Retorna ao Rio, desfaz a sociedade com o sogro e, em 1879, compra de José Bento Diniz Junqueira a fazenda Arindeúva, que já tinha 100.000 pés de cafés.

Nos anos seguintes, Henrique continuou comprando terras, até adquirir em 1887 a última gleba, de José Augusto Alves Junqueira – estava formada a Fazenda Dumont, com 6.108 alqueires e 5,7 milhões de pés de café, a maior do mundo.

Para fazer o café circular e ampliar o desenvolvimento da região foi construída uma estrada de ferro, a Companhia Mogiana, inaugurada em 1883. Por ela chegaram a Ribeirão Preto centenas de migrantes, principalmente italianos que substituíram a mão-de-obra escrava.

A Fazenda Arindeúva de Henrique Dumont progrediu muito, tornando-se a mais moderna da América do Sul, e para agilizar a colheita, Henrique Dumont compra da Mogiana uma estrada de ferro ligando a fazenda à estação – além dessa ligação principal, de 23 Km, fez mais 96 Km de trilhos dentro da fazenda, em quatro ramais. O transporte do café era feito por 40 vagões acoplados a sete locomotivas importadas da Inglaterra.

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1 - Parte dos mais de 90 km de linhas férreas particulares que cruzarvam a Fazenda Dumont

2 – pátio de carregamento dos vagões de café

Estava criada a Dumont Coffee Company e o Diamantinense Henrique passou a ser conhecido como o "Rei do Café".

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Título da Dumont Cofee Company comercializado na Bolsa de Londres

Ali Albertinho passou a sua infância, incentivado pelo seu pai Henrique, começa a desenvolver as aspirações de que o homem não poderia mais ficar preso ao solo. Em suas divagações observava as nuvens suspensas no espaço, as aves deslizarem no ar e fazia experiências com pequenos balões nas festas juninas. Construía pipas exóticas – numa delas, de 2,5 m de altura por 1,8 m de largura, fez um gato alçar vôo. Chegou a montar pequenas aeronaves movidas a elástico e hélice. As suas leituras prediletas eram os livros: Vinte Mil Léguas Submarinas, Cinco Semanas Num Balão e Da Terra à Lua de Júlio Verne. Santos Dumont passa horas e horas nos galpões, onde era montado o maquinário que o pai importava da Europa, e nas oficinas onde se fabricava tudo o que era preciso no trabalho agrícola. Aos sete anos dirigia os locomóveis da fazenda e aos doze seu pai autorizou-o a dirigir a locomotivas Baldwin. Na mecânica, consertava a máquina de costura de sua mãe e acabou fazendo manutenção dos separadores de café da fazenda. Seus estudos iniciaram com as primeiras letras ensinadas por sua irmã Virginia. O Diamantinense Henrique teve papel fundamental na trajetória do filho Alberto, pois percebendo nele o fascínio pelas máquinas – que existiam em grande quantidade na fazenda – direcionou os estudos do rapaz para a mecânica, a física, a química e a eletricidade, não fazendo questão que ele se formasse em engenharia, como foi o caso dos outros filhos.

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1886 - Albertinho, então com 13 anos no colégio em Campinas

Em 1890, a Fazenda Dumont tem 5,7 milhões de pés de café produzindo e é uma pequena cidade – cerca de 5.000 colonos moram lá. Henrique Dumont e seu sócio Francisco Schimidt chegaram a ter 60 fazendas e 30 milhões de pés de café, produzindo 4 milhões de sacas por ano.

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O jovem Santos Dumont

Em dezembro daquele mesmo ano Henrique inspeciona os cafezais em uma charrete quando esta, desgovernada, o lança ao chão. Henrique quebra um braço, bate a cabeça, fica parcialmente paralisado (hemiplégico).

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a partir da esquerda, Maria Rosalina, Virgínia, Gabriela, Santos Dumont, Francisca, Amália(cunhada), e seu marido Henrique

Em busca de tratamento, em 1891, Henrique viaja com a família para tratamento médico em Paris. Lá, Alberto tem a oportunidade de acompanhar as últimas evoluções tecnológicas, como o gramofone, a linotipia, a turbina a gás, o cinema e o cinerama. O motor a gasolina, ou seja, de explosão, também conhecido como motor de combustão interna, era a sensação do momento, fazia o maior sucesso e, devido a isto, exposições da época mostravam-no em múltiplas versões e funcionando sob os mais variados princípios. Ao visitar uma dessas exposições, o então jovem Santos Dumont ficou fascinado, pois sempre se viu interessado em entender aquele mecanismo. Henrique compra para o filho um automóvel Peugeot (1° carro a entrar no país) e retornam ao Brasil.

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Henrique e Alberto no primeiro automóvel do Brasil

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Casarão dos Dumont em São Paulo e seus automóveis

De volta a São Paulo, Henrique emancipa Alberto, que completara 18 anos, e dá-lhe, antecipadamente, sua herança, composta de ações e títulos de renda que lhe permitiram viver folgadamente e financiar, sem ajuda de terceiros, todas as suas experiências, além de vender a Fazenda Dumont por 12 mil contos de réis.

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Santos Dumont rodeado de colegas

Em 1892 o estado de saúde de Henrique Dumont se agrava, ele tenta voltar à França, mas não consegue – morre no Rio de Janeiro, em 30 de agosto de 1892, aos 60 anos de idade. Sua esposa Francisca Santos, morre alguns anos mais tarde, na cidade do Porto, em Portugal, aos 67 anos de idade.

Com a morte do pai o jovem Alberto sofre um duro golpe emocional, mas as palavras do velho Henrique não foram esquecidas. Segue então para Paris em 1892 e não se deixa levar pelos encantos perigosos da Cidade-Luz, dedica-se os estudos onde começa experiências com balões.

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Sofisticado escritório de Santos Dumont em Paris

Elas vão levar, em 1906, ao mítico 14-Bis, a primeira aeronave da história.

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O filho do Diamantinense Henrique se prepara para dar um dos maiores passos da humanidade

Alberto Santos Dumont, filho do ilustre Diamantinense Henrique, recebeu diversas homenagens por toda a Europa, nos EUA e América Latina, em especial no Brasil, onde foi recebido com festas e euforia. Seus projetos foram aperfeiçoados por outros aviadores e projetistas, já que ele não os patenteava e não desejava adquirir bens materiais com suas invenções, mas idealizava dotar a Humanidade com meios de facilitar as comunicações e encurtar as distâncias.

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Pesquisa e artigo elaborados por:

Leonardo Pinheiro