Igreja Nossa Senhora do Carmo

12-01-2011 10:17

    Na Rua do Carmo se encontra a Igreja mais rica do antigo Tijuco, hoje Diamantina sobre o oráculo de Nossa Senhora do Carmo. Conta Joaquim Felício dos Santos que os irmãos da ordem terceira  - que a principio funcionava de acordo com á de Vila Rica (Ouro Preto) - almejavam construir o templo dedicado a sua padroeira em local elevado que dominasse a paisagem.

    João Fernandes, prior da irmandade em 1759 e 1765, insistiu em que a igreja fosse levantada junto á casa do Contrato, apesar da posição pouco favorável. Tanto bateu o pé e usou todo o seu poder, que os irmãos se aborreceram e anunciaram que não mais ajudariam nas despesas da construção. João Fernandes acabou assumindo a responsabilidade dos custos da obra, erguendo-a em 1751 onde bem queria, isto é, em frente á casa do Contrato.

    Segundo Sílvio Vasconcelos o nome primitivo desta igreja era "Capela de São Francisco de Paula da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo".

    Aires da Mata Machado no estudo dos documentos da irmandade sobre esse templo, publica o termo de doação datado de julho de 1765, que se encontra no seu livro Arraial do Tijuco, cidade de Diamantina página 155. "Ao oferecer a capela á Venerável ordem do Monte do Carmo", João Fernandes pede que "em recompensa desta obra, se lhe dissesse cada sábado do ano uma missa por sua intenção enquanto fosse vivo, e por sua morte, pela sua alma, pedia mais que pelo amor de Deus em todas as ocasiões em que houvesse benção papal, lhe rezassem todos os irmãos um Padre Nosso e uma Ave Maria".

    Aos longos dos anos a igreja sofreu algumas modificações em 1819, 1830, 1859, 1898 e 1932 até que foi definitivamente restaurada pelo Serviçõ do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Uma das prioridades era repor no lugar primitivo  - parte detrás do templo - a tôrre do sino, que a Irmandade em certa ocasião tansportara para a frente da igreja. Segundo a lenda que a sineira fora origináriamente colocada desse modo a pedido de Chica da Silva - cuja casa ficava próxima, a fim de que o badalar do sino não lhe perturbasse o sono.

    A igreja predominam os tons de azul sombrio e outro. No teto do vestíbulo, Simão Stock, o santo e nobre inglês, está sendo alimentado por corvos do Monte Carmelo. No outro lado, Jesus multiplica o óleo da viúva de Sarepta. No teto da nave, rodeado de santos carmelitanos, o profeta Elias sobe aos céus espetacularmente sentado no carro de fogo, e entrega a capa ao discípulo Eliseu, perplexo diante do milagre.

    As pinturas são da autorida do Guarda Mor português, de Braga, José Soares de Araujo, que a Irmandade o contratou em 1766 a decoração do arco da capela mor. Segundo os livros da Ordem Terceiro do Carmo, os Irmãos ajustaram depois com o mesmo artista as pinturas dos altares laterais, sacristia, etc. Luís Jardim, que estudou detalhadamente o trabalho do afamado Guarda mor na Igreja do Carmo de Diamantina, escreveu:

    "A decoração é um pouco monótona, repetida nas formas pelo predomínio das linhas retas, tristonha, talvez própria para o recolhimento religioso, em virtude do colorido preponderantemente escuro e penumbrista. O artista evitava contrastes violentos, cingindo-se ás formas, aos efeitos de perspectiva, e indiferente ao colorido. Atraia-o mais o desenho do que as cores. As suas figuras são bem o exemplo dessa predileção; severas de fisionomias, reflexo evidente da gravidade de toda a ornamentação, mas bem desenhadas e bem feitas. Nos anjos interpostos, na decoração vasta, e amais póximos do observador, está a sua melhor expressão de artista: colorido claro, suave; fisionomias doces, infantis, quase um contraste nomeio de linhas pesadas, de tonalidades repetidas e enegrecidas".

    Luís Jardim chama a atenção para a particularidade única encontrada nas pinturas da capela mor, onde o artista usou o dourado figurando como cor, o que talvez explique o "penumbrismo" do colorido, usado para servir de fundo ao ouro brilhante.

    Também no Guarda Mor existe na sacristia um Santo Sudário pintado em 1766. A nave com a mesa de comunhão completa, e o antigo órgão folheado a ouro, feito em 1782 pelo Padre Almeida e Silva , e onde sete anos depois, tocou o organista e compositor sacro alferes José Joaquim Emérico Lôbo de Mesquita, internacionalmente famoso graças á divulgação que de sua obre fez Francisco Curt Lange, Presidente do Instituto Interamericano de Musicologia. O orgão possui 780 frautas, o alferes Lobo de Mesquita costumava tocar uma grandiosa missa em mi bemol de sua composição "Glória Dei", atualmente conhecida e executada em vários países da Europa e da América. Pode vê na primeira página desse blog uma das músicas tocada e cantada em ópera na Europa. Este orgão foi todo restaurado na Europa e retornou ao Brasil e montado de novo na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Está pronto para funcionar. Lôbo de Mesquita também compôs quatro Orações á Virgem, uma Litania, um Te Deum e duas missas de Réquiem. José Joaquim Emérico Lôbo de Mesquita deixou aproximadamente quinze trabalhos. Segundo Curt Lange, que o considera o maior músico das Américas no século dezoito.

    Nos altares laterais, o efeito da talha burilado, trabalho do Guarda Mor, que costumava faze a parte de dentro fôsca e a de fora brilhante. No altar do lado direito, grande imagem da mística espanhola Teresa de Jesus, cujo coração, impregnado de amor divino, até hoje se conserva, intacto na cidade de Ávila.  No mesmo altar, relicário folheado a ouro com três corações vermelhos, e a imagem de Santa Quitéria, outrora pertencete á capelinha particular que João Fernandes construiu para Chica da Silva, impossibilitada de frequentar a Igreja do Carmo, por ser mulata.

    No altar do lado esquerdo, belíssima imagem de Santo Elias, o fundador da Ordem do Carmo, datada de 1775; além dele, São Braz e São João Nepomuceno, padroeiro dos confessores, que viveu na Boêmia há muitos séculos, e teve sua língua arrancada por não querer contar ao Rei se a esposa lhe era fiel ou não.

    No alta mor, Nossa Senhora do Carmo segura o escapulário, gloriosamente rodeada de anjos. Nos nichos laterais, São José vestido á moda do século dezoito, e São Francisco de Paula, padroeiro da primitiva capela.

    Na sacristia os doze apóstolos pintados em vidro, e uma imagem de roca de Nossa Senhora da Soledade, vinda de Portugal juntamente com o Senhor Morto.

    Na sala da Irmandade se reúne periódicamente, quadro de florões rebaixados na madeira com pintura em cobre representando São João Batista. Também quatro molduras em estilo D. João V, num lindo patinado azul, verde e ouro.

    Sobre um arcaz, num nicho de madeira com pintura imitando papel, em cores apagadas, o impressionante Cristo das Sete Palavras.

    Nessa imagem, que desde 1759 se acha na igreja, Jesus pregado na cruz, mas ainda vivo, tem os olhos e a boca abertos, como se, exausto, tentasse murmurrar qualquer coisa.

    No retábulo atrás do altar mor, um Cristo Morto de forte realismo. Essa escultura feita em madeira acha-se depositada na mesma arca de rodas em que chegou de Portugal em 1777. Nas tarde de sexta feira o sacristão costuma abrir o frontal de vidro do retábulo para que a imagem possa ser apreciada de dentro da capela.

    Nas catacumbas da Igreja repousam os corpos do inconfidente Padre Rolim e do pintor e Guarda MorJosé Soares de Araujo, ambos irmãos terceiros da Ordem do Carmo. Do livro Passeio a Diamantina, Almeida, Lucia Machado de.