João Júlio dos Santos - Um crítico literário, poeta

31-01-2011 10:36

    João Júlio dos Santos um critico literário, poeta. "Além disso, como poeta, João Júlio é dos que, quando escreve, seduz, encanta e arrebata. Em todos os seus trabalhos, o poeta se mostra digno do lugar a que nossa admiração já havia o colocado".

    Em poema "A tarde", o vate diamantinense, tocado pelo amor á causa da liberdade dos negros escravizados, sentindo-lhes o pranto ao calor das chibatas dos patrões, como se fora um dos tais, verte em rima de ouro, num falar sublime, o argumento de sua defesa em prol da liberdade, cujo documento rimado com doçura e acrimônia, muito deve haver contribuido para precipitar os acontecimentos que tiveram como epílogo a snação da Lei de 13 de maio de 1888. E, por um determinado do destino, por uma disposição da própria fatalidade, não foi, ao poeta, dada a ventura de assistir e associar-se ao regosijo nacional que inundou de júbilo todos os corações brasileiros, naquele dia, e por cujo epílogo tanto pelejara.

    Morrera João Júlio em 1872.

    Ferido, ás vezes, pelo destino, no fundo do coração ainda jovem, o poeta, se revoltava contra a impossibilidade de agarrar um sonho multicor que lhe brincava n'alma. E vem daí, dessa explosão de cólera recalcada, a "Frotolia" que é a própria alma do poeta, celerica e vingativa, desejando o cem braços de Briareu, a coragem de Alcides, para com todo esse poderia, levar a guerra a todos as nações do mundo.

    Levanta crua guerra

    As nações do mundo inteiro...

    Outras vezes, como em "Canção", o poeta se nos apresenta tomando de um lirismo encantador, na feitura daquelas quadrinhas delicadas e aprimoradas, tecidas com o capricho e esmero do verdadeiro artista.

    Se eu foss a sós um dia

    Oh! Eu te juro, querida,

    Que essa ventura perdera,

    Perdendo também a vida.

    João Júlio, pelo que se deduz, da leitura de vários dos seus poemas, não foi lá de muito feliz em amores. Isso, porém, pouco se lhe dava. Queria amar. Quanto em ser amado.

    Eu não te peço amar-me. Acaso a estrela

    O Olhar compreende, que na terra a segue?

    Pode o gelo apagar, dizer-me, acaso,

    A lava em chama aos vendavais entregue?

    E essa infelicidade foi para ele Pirene onde bebeu a inspiração que lhe deu os versos que o mortalizaram, porque nada inspira melhor do que a dor de um coração amante, de vinte e sete primaveras, não pode esperar a frutescência dos seus recursos intelectuais.

    Aos vinte e oito anos, vendido pela enfermidade que o vitimou, (encontrnado-lhe o organismo depauperado), entrou sua alma a Deus, no dia 2 novembro de 1872, ás 7 horas da noite. Seu corpo hoje repousa na Igreja do Amparo. O poeta, em quase todas as suas composições, numa agri doce transição de lágrimas e de risos, ora se eleva até aos céus na resplendente luminosidade dos seus desalentos, dos seus desesperos, sempre com aquela beleza de expressão que o caracteriza, com aquela mesma doce esponteneidade no versejar.

    As suas mágoas, as suas constantes incomodiades, ele as dispersava pelas estrófes, ao sabor das rimas, tirando delas, a seu modo, a própria resignação para aceitá-las.

    As pequeninas imperfeições que as há, no tocante á métrica, e elisões.

    Mágico alcançar cintilante em chama.

    Dos silfos encantadora a acroama.

Voz de Diamantina, 1944.