José Joaquim Emérito Lobo de Mesquita

03-06-2011 09:10

        No ano de 1944, Curt Lange foi convidado pelo Diretor de Educação e Saúde de Belo Horizonte por Dr. José Guimarães Menegale  para assessorá-lo na formação definitiva da Orquestra Sinfônica de Belo Horizonte.

        Nas horas vagas passou a procurar vestígios documentais sobre a existência de música erudita colonial.

         Finalmente foi vendido, no Grande Hotel de Belo Horizonte, um pacote de música contendo misturadas obras modernas e algumas antigas que pertencia ao arquivo do falecido mestre Orozimbo Parreiras, de Nova Lima, resto de uma grande parte queimada pelo seu próprio filho, encontrando a primeira testemunha da existência de música religiosa erudita, um manuscrito original, assinado por um desconhecido: José Joaquim Emérito Lobo de Mesquita, era o maior de todos os compositores mineiros. Foi indiscutívelmente, José Joaquim Emérito Lobo de Mesquita, que aparece nos docuementos da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz de Santo Antonio do Arraial do Tejuco, em 1782, mas é possível que ali atuasse antes dessa data. Foi organista nessa Irmandade e também na Ordem Terceira do Carmo, logo que o Padre Almeida Silva instalou no templo dessa organização o órgão que ainda hoje existe.

    Não sabemos onde nasceu José Joaquim Emérito Lobo de Mesquita, mas o lugar mais provável seria nas proximidades de Diamantina, onde se radicara um ramo da família Mesquita. Em Ouro Preto, há pouco vestígio dos Mesquitas para pensarmos que ali tivesse nascido. José Joaquim figurou na Irmandade das Mercês dos Crioulos, em 1788, o que sugere sua origem americana e sua condição de homem de cor. Mais tarde, em 1792, uma sua escrava entrou na mesma corporação. Abandonou Diamantina o notável compositor logo no início de 1798, sem que conhecamos as causas dessa viagem. Dirigiu-se á Vila Rica, onde trabalhou como regente musical, por contrato da Ordem Terceira do Carmo e também no Santíssimo Sacramento da Matriz do Pilar. Desconhecidos também são os motivos que o levaram a sair, em princípios de 1799, da Capital mineira  de então, tanto que Francisco Gomes da Rocha, igualmente notável músico, veio a substituí-lo, assumindo as responsabilidades da regência e recebendo, por autorização expressa, os haveres que José Joaquim acumulara no pequeno prazo de um ano. Acredita-se que José Joaquim Emérito Lobo de Mesquita tenha falecido em Caeté, onde os documentos da Igreja Matriz foram queimados, impossibilitando qualquer investigação. Podem-se considerar salvas cerca de 40 obras, entre grandes e pequenas, completas e incompletas, que nos mostram seu gênio musical, plasmado em surpreendentes mutações estíliscas. Sua Missa Grande, sua Missa nº 2 ( o algarismo serve apenas para a Deum, ofício de Defuntos, Domenica Palmarum e outras obras já restauradas, como a sua famosa Antífona de Nossa Senhora, elevam-no á categoria de gênio. Surge como o mais destacado autor no panorama musical americano, não apenas no período colonial mas também em muitas décadas do século XIX até o aparecimento de Carlos Gomes que produziu, certamente, em um terreno oposto: o operístico. Curt Langes. Minas Perpétua, Paisagens, Culturas, Gentes e Riquezas, B.H, 1986.

    Estudou música com o padre Manuel da Costa Dantas, mestre-de-capela da matriz de Nossa Senhora da Conceição do Serro. Foi para Arraial do Tijuco (1776), hoje Diamantina, para provavelmente ser responsável pela instalação na Matriz de Santo Antônio de um órgão fabricado pelo Padre Manuel de Almeida e Silva, onde desenvolveu Missa para Quarta-Feira de Cinzas (1778)e seguiu sua carreira como organista e compositor (Regina caeli laetare, 1779 até que entrou para a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo em 1789 e permaneceu em 1795 Também foi filiado, entre 1783 e 1798, como organista à Irmandade do Santíssimo Sacramento, na igreja de Santo Antônio. Ainda no Tejuco, atuou na Igreja de Nossa Senhora das Mercês e em outras irmandades, como na Confraria de Nossa Senhora das Mercês dos Homens Crioulos (1788-1789), em cargo administrativo.
    Alferes do Terço de Infantaria dos Pardos, foi o encarregado de um oratório para a Semana Santa (1792) e em outras cerimônias locais[2].
    Em Vila Rica, para onde foi em 1798 por prováveis problemas financeiros, regeu a música para o tríduo do período (1798-1799), na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, e as Quarenta Horas, do período seguinte (1800-1801). Nesse período, ligado à Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo de Vila Rica, também conviveu com os compositores Marcos Coelho Neto (pai e filho), Francisco Gomes da Rocha, Florêncio José Ferreira Coutinho e Jerônimo de Souza Lobo[2].
    A partir daí até sua morte, tocou nas missas da igreja da Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro, cidade onde morreu. Um de seus ofícios de defuntos foi apresentado na vila de Caeté, MG, em 25 de janeiro de 1827, em memória da Imperatriz Leopoldina, o que mostra que o compositor era ainda reconhecido e lembrado mais de vinte anos depois do seu falecimento.
Existem apenas dois manuscritos autógrafos do compositor, a Antífona de Nossa Senhora (1787) —que se encontra no Museu da Inconfidência— e a Dominica in Palmis (1782), mas há muitas cópias do restante de sua obra, como ladainhas missas, ofícios e novenas. Todas as outras obras conhecidas de sua vasta produção aparecem em cópias de fins do século XVIII e, em sua maioria, do século XIX.