O escravo Isidoro 0- o mártir
ISIDORO, o MÁRTIR ... -1809 (*)
"As pedras foram colocadas no seio da terra por Deus por isso pertencem a todos"
Isidoro Mártir 1809
"Oh! os santos pretos! seriam eles os intercessores pela nossa infeliz terra,que regaram com seu sangue, mas abençoaram com seu amor! Joaquim Nabuco , Minha Formação, 1900
..."Isidoro era um mulato alto, musculoso, dotado de grande força e agilidade. Tendo nascido escravo, serviu muitos anos a seu senhor, tal frei Rangel, que vivia a minerar. Graças a isso Isidoro, desde menino, familiarizou-se com o serviço da mineração, vindo a adquirir tamanha prática desse ofício que depois de homem feito, não houve no Tijuco ninguém que fosse mais entendido do que ele.
Tendo seu senhor mandado a Isidoro que faiscasse em lavras que pertenciam a Real Fazenda, foi preso como contrabandista e confiscado ao seu senhor, passando então a pertencer ao serviço do rei, sendo obrigado a trabalhar, como galé. na Real Extração. Isidoro não tinha culpa de haver contrabandeado: se o fizera, fora por ordem de seu senhor . Homem de brio, envergonhando-se de trabalhar de calceta, sendo, como era inocente, - resolveu fugir. Para executar essa intenção, teve de limar os ferros que lhe prendiam os pés e as mãos, e de iludir a vigilância dos guardas (fulares). Liberto, Isidoro fez-se garimpeiro. Como acontecesse fugirem na mesma ocasião muitos outros escravos,foram todos juntar-se a Isidoro , que se tornou assim chefe de uma tropa de 50 garimpeiros ,todos quilombolas. ....
Perfeito conhecedor de toda a mineração do vale do Jequitinhonha,Isidoro sabia onde ficavam as jazidas ainda não descobertas ou exploradas .De posse dos diamantes ,Isidoro em pessoa os levava ao arraial para vender.Para isso disfarçava-se de modo que não fosse reconhecido pelos guardas. Entretinha comércio com as pessoas mais importantes do Tijuco,as quais lhe dispensavam a maior proteção.
Era então intendente dos Diamantes João Inácio. que.por mais que pelejasse por prender Isidoro, nada conseguiu: todos os seus esforços nesse sentido ,foram baldados.Então, desesperado, João Inácio recorreu a um meio extremo:prometeu larga recompensa ,um grande prêmio a quem lhe trouxesse Isidoro, vivo ou morto! Foi tempo perdido,Isidoro era tão estimado de todos que ninguém se animava a denunciá-lo ou traí-lo.Continuava livremente a fazer o seu comércio, entrando no arraial ,ou dele saindo, sem ser incomodado.
A José Inácio sucedeu um intendente de boa paz-Modesto Antonio Mayer, que foi de todos, o que menos perseguiu os garimpeiros. Durante o tempo de seu governo, Isidoro pôde livremente exercer o seu ofício.
... A Modesto Antônio Mayer sucedeu outro intendente, que se tornou implacável perseguidor de Isidoro- o famoso intendente Câmara.... Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt (desembargador).
...Câmara usou de todos os meios para prender Isidoro: organizou batida contra ele, esperou-o em mais de uma tocaia, espalhou patrulhas por todos os pontos onde era costume o Isidoro passar. Prometeu recompensar generosamente a quem denunciasse o seu esconderijo ou o mostrasse às patrulhas. Por fim começou a usar de violência contra as pessoas de que desconfiava fossem seus cúmplices.Tudo em vão!
Aconteceu, porém, que um dos companheiros de Isidoro o traiu... tentado pela grande soma que o intendente prometera a quem o denunciasse ... -foi revelar à Câmara o dia , hora e lugar em que as tropas reais poderiam atacar Isidoro desarmado.Fizeram o cerco .Apesar de estar sem munição e sem companheiros, Isidoro enfrentou as tropas de pedestres,e defendeu-se até cair baleado por três tiros. Só então conseguiram deitar-lhe a mão – prenderam-no.Apesar de gravemente ferido ... ainda aquela gente assassina o espancou, o maltratou e injuriou." Carlos Góis Histórias da Terra Mineira Garnier Rio de Janeiro 1994 1ª. Edição 1911
"Amarrado a um cavalo, torturado e ensangüentado em junho de 1809. Isidoro entra preso no Arraial. Começa o terror. Foi espancado durante três dias, mas jamais denunciou alguém. De sua boca não foi ouvido nada. O povo formou uma procissão para acompanhar o padre que levava a extrema unção para Isidoro. Ao fim do terceiro dia Isidoro estava morto. Isidoro que se tornou um mártir, uma lenda, alguém em que os desprezados pelo sistema apelavam em oração na hora de suas necessidades. Até hoje prevalece em Diamantina a lenda de que Isidoro, antes de ser preso, teria enterrado um tesouro em diamantes e ouro." passadicovirtual. blogspot.com...lendas de Diamantina
Izidoro, o Mártir –Cantatas .Festival de Inverno da UFMG. Grupo teatral Tempos Modernos
Negro Izidoro, o Mártir Grupo teatral Tempos Modernos Projeto Diamantina sempre viva 1985
Pote de diamantes pode estar sob as cinzas de incêndio em Diamantina. Jornal do Brasil 24/02/1972
Chico Rei – Agripa Vasconcelos Editora Ltda. 2002
(*) INCONFIDÊNCIAS BRASILEIRAS Notas de texto
Povo sem memória é povo dominado Autora: Ofélia Torres
CHICO REI Século XVIII (*)
"Os salteadores capturavam tribos inteiras nas Áfricas, aproveitando-se de momentos propícios de descontração em cerimônias religiosas ou festas populares. "Tivemos o que deu lugar à legenda tão bizarra quão verdadeiramente poética do Chico Rei, que dominou Vila Rica. Esta figura nobre de um preto, cuja vida acidentada aqui finalizou, imensa luz derrama aos painéis daquela sombria época." Diogo de Vasconcelos, História Antiga das Minas Gerais Imp. Oficial Rio, 1948
Chico Rei morreu aos 72 anos, cercado de respeito, admiração e mantendo até o fim intacta sua missão de alforriar escravos, tornando-os homens livres. "Essa missão começou com a sua própria alforria:" Francisco, rei foi aprisionado e vendido para escravo com toda a sua tribo. A mulher e todos os filhos ,menos um, morreram na travessia do Atlântico.Os sobreviventes foram encaminhados às minas de Ouro Preto.Homem inteligente e enérgico, Chico Rei trabalhou e forrou o filho; em seguida os dois trabalharam para forrar um patrício e assim sucessivamente se forrou toda a tribo, que passou a forrar outros vizinhos da mesma nação." Manuel Bandeira , Guia de Ouro Preto Rio, 1952
Promovido a feitor com dois anos de trabalho escravo na Mina da Encardideira, Chico fez por merecer a confiança total de seu proprietário, aumentando o rendimento da mina e sendo respeitado pelos 43 homens que conduzia. Nunca foi castigado e com dois anos de zurra passou a feitor.O escravo que passa a feitor é carrasco terrível para os patrícios pois ele ainda não chicoteou ninguém;é respeitado e todos trabalham com prazer debaixo do seus olhos .A Encardideira passou a produzir o amarelo com abundância".
O Major Augusto, proprietário da Encardideira, tinha outra mina - a Água Quente. Trabalhavam na Água Quente "minas e angolanos já adaptados ao clima e ao rigor da terra, ombro a ombro com os congoleses de Chico. Esses escravos não eram gente ociosa no seu país. Na maioria, foram soldados do Exército Real, e uns poucos eram veteranos envelhecidos no serviço do Rei.... Chegando às terras frias de Minas, desceram para as lavras, à água dos brejos e à terra das catas, onde o frio era-lhes mais nocivo que o calor áfrico."
Chico tinha muitas conversas com o Padre Figueiredo, sempre a chamado deste. O Padre Figueiredo viajou para a Vila Rica para conversar com o Major Augusto e tratar de assunto relativo a um escravo dele: "Não se trata de queixa, Major. Venho negociar consigo a manutenção de um cativo seu de lá." Quando o Major Augusto soube que se tratava do Chico utilizou-se de todos os argumentos para recusar-lhe a alforria:" O Francisco não tem ainda direito à liberdade, Padre Figueiredo, trabalha há apenas cinco anos... Isso não é possível. Ainda preciso do negro. É meu feitor, como foi aqui... vou pensar e lhe darei resposta. Assim de estalo não é possível decidir."
Face à recusa velada do Major Augusto o Padre Figueiredo retrucou: - Major, trago aqui os 160 mil réis,
preço pago da sua compra do importado, em São Sebastião do Rio. Vosmecê não pode se negar a receber a quantia passando a respectiva Carta de Ingenuidade...- Como não posso? – Pense bem, Major. Tenho o direito de apresentar o dinheiro ao tabelião, exigindo a carta" O Major desistiu de argumentar com o Padre Figueiredo, recebeu o dinheiro e passou a Carta de Ingenuidade.
Chico tinha 37 anos e o filho 21. Voltou para a Vila Rica, indo morar de favor numa das casas pobres da mina extinta, onde trabalhara por quatro anos.. Esteve um ano em Catas Altas. "O dono da cata permitia aos mais esforçados batearem aos domingos para eles mesmos. Pois o forro, num desses dias achou uma pepita de 92 oitavas, quando levava cascalho para a bateia. No dia seguinte, alforriou seu filho Muzinga... Em 22 dias, sua palavra ao filho fora cumprida."
Interessou-se pela Irmandade dos Pretos de Antonio Dias e foi batizado com o nome de Francisco da Natividade freqüentando a Capelinha de Santa Ifigênia.. Ele e o filho continuaram em sua missão de alforriar todos os escravos de sua tribo e nações agregadas. Restabeleceu, progressivamente, tradições culturais congolesas em terra de Minas. No dia 6 de janeiro de 1747 Vila Rica foi surpreendida com uma festa que desconhecia.Chico e seus patrícios alforriados por ele apareceram na Capela de Nossa Senhora do Rosário.... A indumentária dos pretos era surpreendente para Minas, pois estavam apresentando com luxo festa usada no Congo e nações agregadas. Vestiam calções de belbute até os joelhos , onde eram atados às meias por laçarote verdes.Uns traziam blusas de seda brancas compridas e camisas de rendas engomadas.."
Chico visitava sempre seu ex-senhor. Major Augusto, de quem ficara amigo. O major gostava muito dessas visitas e um dia deu-lhe um conselho:" - Chico, por que não compra uma mina para minerar pra você mesmo? – Num posso, Majó, sou pob'e. – Por isso não, que lhe vendo a Encardideira barato e a prazo.... - Você fica com ela e vai pagando quando puder. É lavra morta, creio que na aparência- Majó, eu só tenho os braçu-Tem tudo. Mas você tem outra coisa que desconhece _ a honra de um homem de bem.... Acabou aceitando e, no outro dia, o Padre Manoel, da Capelinha de Santa Ifigênia, recebeu por ele a escritura passada pelo Major a Francisco da Natividade."
Mais tarde foi-lhe outorgado a Francisco da Natividade licença para ser coroado Rei dos Congos e Rei de todos os pretos das Gerais pelo Governador Gomes Freire Capitão-General das Gerais.
Referência: Chico Rei. Agripa Vasconcelos Ed. Atica 2002
(*) INCONFIDÊNCIAS BRASILEIRAS Notas de texto
Povo sem memória é povo dominado Autora: Ofélia Torres