O louco

O louco

            No ano de 1895, vindo de Ouro Preto, onde o conheci, quando lá estudava, chegou aqui para exercer a sua profisão de barbeiro, o italiano Domingos de Acenso. Não era muito certo da bola, mas como Diamantina é terra de muita gente com pouco miolo, adpatou-se logo no meio. Admirado de vê-lo aqui, ele então explicou-me que veio para catar diamantes nos córregos e que já tinha uma boa quantidade, mostrando-me os pequenos seixos catados no Rio Grande. Por sabê-lo quem era, concordei com ele, deixando-o na sua ilusão. Mas o Serafim T. Neves, vendo as pedras, disse-lhe que não eram diamantes e que as jogasse fora; e assentou-se na cadeira para fazer a barba. O Domingos , com raiva, por ter ele dito que as pedras não eram diamantes, somente lhe fez a metade da barba, expulsando-o do salão. O Serafim foi para casa só com a metade do rosto raspado.

            Dias depois deu-se o mesmo caso com o Chico Lessa; mas como esse não fosse medroso, sacou o revólver  e o obrigou a terminar o trabalho.

            Inventou casar, mas moça alguma o quis, por ser doido. Alguns rapazes então, o aconselharam que, quando uma moça passasse pela sua porta, (onde hoje tem loja o José Mario Ribas) a abraçasse e beijasse, porque a polícia o fazia casara a força. E ele assim o fez, mas a moça gritando, ajuntou gente, inclusive o delegado que, em vez de casá-lo, trancafiou o na cadeia. Essa moça, até bem pouco tempo, morava em Curvelo.

            O Domingos, saturado pelo nosso clima cada vez mais dois, inventou também pegar onça viva para vender ao jardim Zoológico, que pagava bem.

            O meio infalível de pegar a onça, á unha era jogar uma pitada de rolão nos seus olhos. Ai então, ele a amarrava e a trazia puxada até á cidade.  Passava dias inteiros na serra do Rio Grande, á espera das onças, que na sua maluquice, dizia haver muitas. Assim como essa tinha na cachola outras loucuras. Mas, coitado, tornou-se um doido inofensivo. Faleceu, como indigente, na Santa Casa; mas foi levado á ultima morada com bastante acompanhamento, inclusive este seu redador.

            Ignotus, O louco, Vd, pág 4, 1962.