Ocupação do Vale do jequitinhonha

06-04-2017 08:02
A HISTÓRIA DO VALE DO JEQUITINHONHA 
 
Júnia Ferreira Furtado 
1- INTRODUÇÃO 
 O Vale do Jequitinhonha está situado na porção Nordeste do Estado de Minas Gerais. Sua ocupação começou, no século início do XVIII, ligada à exploração do ouro e, já, a partir do fim da década de 1720, ao diamante que foi encontrado em torno do arraial do Tejuco. 
 A região compreendia a Comarca do Serro do Frio, uma das quatro divisões administrativas da Capitania de Minas Gerais. A cabeça e centro administrativo da Comarca era a Vila do Príncipe, hoje cidade do Serro, primeiro e mais importante núcleo administrativo da região, ao qual estavam submetidos todos os arraiais.  
 A descoberta do diamante na região atraiu enormes contigentes populacionais e, durante todo o período, foi o sustentáculo da economia local, sendo que o povoamento da Comarca se deu no sentido Sul-Norte, acompanhando os novos achados diamantíferos. O arraial do Tejuco, onde foram demarcadas as primeiras lavras, tornou-se o mais importante núcleo populacional urbano da região e era o centro da Demarcação Diamantina, estabelecida em 1739, quando a Coroa Portuguesa designou o engenheiro militar, Rafael Pires Pardinho, para demarcar a área produtora de diamantes, que constou, inicialmente, de um quadrilátero que circundava o arraial do Tejuco e ampliado à medida que novos achados se faziam ao Norte.  
 A ocupação do Alto Jequitinhonha deu-se, prioritariamente, em torno da mineração. O aumento populacional e a urbanização ampliaram a demanda por produtos de abastecimento e acabaram provocando  a ocupação do Médio Jequitinhonha em torno da pecuária e agricultura de subsistência. 
     “A decadência da extração do ouro e do diamante proporcionou à enorme população do Vale do Jequitinhonha um duplo movimento: a passagem para a economia de subsistência, ou a dispersão dessa população  em direção às terras que margeia os rios  Jequitinhonha e Arassuaí, onde havia condições para o desenvolvimento da pecuária extensiva. No entanto, o abandono em que se 
78 
 
 
encontravam as atividades agropastoris, os métodos rudimentares adotados e, mais do que isto, a contração da renda inviabilizaram ou retardaram atividades agrícolas mais arrojadas, fazendo prevalecer a antiga agricultura de subsistência. ... ainda hoje, há uma estrutura fundiária defeituosa, com baixos níveis tecnológicos e reduzida ocupação de mão-de-obra.”1   Após a descoberta oficial dos diamantes, a Coroa procurou organizar a produção. As lavras foram distribuídas, a Intendência dos Diamantes foi criada e a extração deu-se livremente até 1734, mediante o pagamento das taxas de captação. A riqueza das lavras fez a produção crescer vertiginosamente e, consequentemente, os preços caíram no mercado mundial, pois o alto valor dos quilates estava diretamente ligado à raridade das gemas.2 
 Para tentar recuperar os preços de comercialização das pedras, foi proibida a produção diamantífera até 1739. Nessa data, as lavras foram reabertas mas passaram a ser exploradas por um único arrematante, ou consórcio de arrematantes, mediante o sistema de contratos a serem arrematados de quatro em quatro anos. Esse sistema vigorou até 1771, quando a exploração passou a ser monopolizada pela Coroa, através da criação da Real Extração do Diamantes, dirigida diretamente pelo Intendente.3  
 O período abarcado pela pesquisa vai da descoberta dos diamantes até o estabelecimento da Real Extração, pois esta última foi objeto de dissertação de mestrado, defendida na USP em 1991 e já publicada em livro.4 Este período ainda carece de maiores pesquisas, sobretudo a partir do uso de fontes primárias, um dos objetivos do presente trabalh