Polícia Assassina
No remoto ano de 1908, dois estrangeiros que estavam fazendo pesquisas mineralógicas em Cafundós, margem do rio Jequitinhonha distrito de Exração, foram tomados como salteadores, por estarem bem armados. O sub delegado de Curralinho, hoje Extração, alarmados com os boatos, veio á cidade expor ao delegado de polícia o caso. E este, violento e mau como era o domínio público, mandou uma escolta com ordem de não prender os supostos salteadores, que os matasse e enterrasse no mesmo lugar. E assim foram assassinados com requintes de crueldade as indefesas criaturas! E ainda mais! Um dos corpos foi enterrado com vida , conforme voz corrente na cidade! O sub delegado de Curralinho fazia parte da faditica escolta. O jornal “Idéia Nova” noticiando a tragédia, o caso ficou conhecido além das fronteiras da cidade. Dias depois chegou á cidade um delegado especial, acompanhado do Cônsul francês, para abrir inquérito. Desenterrados os corpos, constatou a indentidade dos mortos. E aí o caso complicou, porque sendo os supostos salteadores engenheiros franceses, o governo brasileiro teria que entrar em entendimento com a França! Castigo? Os autores de tamanha façanha, antes de serem julgados pela justiça dos homens, Deus castigou a todos: o delegado teve um derrame, ficando paralítico e babando o resto da vida; o sub delegado do Curralinho, quando examinava uma arma de fogo, esta disparou matando-o, o cabo comandante da escolta, foi morto, por um seu cunhado, à porta de sua casa no alto do Grupiara, onde hoje está situado o Grupo Escolar Joaquim Felício; outro soldado morreu na rua do Amparo, com dores cruciantes, sem nenhum remédio que lhe desse alivio; também teve um derrame outro soldado inutilizado por toda a vida – babão e idiota. Não cito os nomes para não molestar parentes que ainda vivem.
O governo brasileiro não foi obrigado á indenização porque os malditos franceses voluntários e clandestinos vieram se meter entre carnibais.
Ignotus, Policia Assassina, pág. 2, vd, 1961