Povos antigos de Diamantina (indígenas)

01-04-2014 11:55

 Antiguidades indígenas existentes em Minas. Sob esta epígrafe, na presente data o engenheiro Dr. Jaime Reis dirige ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a seguinte curiosa comunicação, que se lê no tomo I,VI da Revista dessa importante e benemérita associação.

  "Crendo prestar um útil serviço aos que estudam as antiguidades do Brasil, comunico ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro as informações que tive em uma rápida viagem, feita em serviço telegráfico, de Ouro Preto ao sertão de Diamantina.

 

                           Caboclinhos de Diamantina - Festa do Divino Espiríto Santo.foto do Google.

 

  Trata-se de numerosos vestígios de uma grande tribo que existiu no centro de Minas, vestígios que atestam um grau de cultura intelectual muito superior ao dar tibos descritas pelos nossos antigos cronistas.

   Esses vestígios contam de desenhos, alojamentos em lapas (cavernas) e ao ar livre, fragmentos cerâmicos, machados de pedra etc. além de uma fábrica de artefatos de argila.

   Os desenhos, pela notícias que tive, ocupam pelo menos a região que se vai do Itambé da Mata até a cidade de Formiga, em pleno sertão. São em geral de uma bela cor encarnada, fixada com o auxílio de um verniz que lhe dá certo brilho e que permitiu-lhes atravessar impunemente um período de tempo de quase dois séculos, pelo menos, visto como os portugueses chegaram ao Serro em 1695, em outros lugares são de cor azul, amarela e outras, mas sempre como verniz.

   Só tive ocasião de observar minuciosamente uma pedra pintada (nome que lhes é dado em Minas) situada a pouca distância do arraial do Itambé da Mata (a 5 léguas da cidade de Itabira do Mato Dentro), os lugar chamado Areião.

    O terreno apresentou aí uma disposição especial. No topo de um campo (do Generoso) o solo bruscamente munda de nível e continua depois plano á altura desta planície  sobre o campo é de poucos metros.

    À beira dela é sobranceiros ao campo erguem-se grandes rochedos, num deles estão os desenhos que examinei . Esse rochedo é de textura sacarina, branco com veios rosados.

    Estão aí desenhados as três num extremo e perfazendo ao todo 210 riscos. Embaixo vê-se uma onça das pintadas, em atitude de saltar ou correr.

    Numa outra pedra imediata vê-se um tatu.

    As pernas do veado, alguns dos traços paralelos e o pescoço e partes posterior do corpo do tatu desapareceram , por ter sido a pedra lascada por alguns raios. O que sobremodo impressiona, logo á primeira vista, é a firmeza do traço. Não se nota a menor falha, o menor sinal de hesitação: o traço é corrido.

   Outro motivo de admiração é a naturalidade das posições: o veado está em movimento; a onça está pulando com a flexibilidade própria deste felino. Estes animais são representados de perfil, á semelhança dos desenhos egípcios.

   O outro desenho que vi foi além do rio Inhácica (Inhaí-Diamantina), ao lado da picada agora aberta entre as cidades de Diamantina e do Bonfim, numa várzea representa um veado. Tive informações de existirem desenhos nos seguintes lugares.

\  Perto do Itambéda Mata, os Milagres, um índio em ponto grande, a 4 léguas e a 1 légua da cidade da Conceição , um veado e índios ; a 6 léguas da cidade do Serro, uma pedra pintada; no Gouveia, a 4 léguas de Diamantina e na Begonha (Vertentes da Chapada), indo pelo Rio Pardo abaixo ; nos Cachimbos, perto do Arraial de Datas (a 5 léguas de Diamantina); a a meia légua do lugar conhecido como Quebra-Pé, numa serra; na serra do Veado e no Chico Pinto (ou Córrego do Mulato), onde há um índio em grandes proporções, tudo perto do arraial do Inhaí; no arraial de São João da Chapada, a 3 léguas do lugar conhecido por Pinheiro, a 3 léguas do Morro do Chapéu, no caminho para São João da Chapada (nos Campos de São Domingos).

  No Riacho Fundo (fazenda da Cachoeira), entre os arraiais de Congonhas do Norte e Taquaraçu constou-me existir não só uma pedra coberta de figura de pássaros e animais á várias cores, como também vestígios de habitações e uma gruta ou caverna.

  No lugar Pinheiro (a 4 léguas de Diamantina) em terras do Sr. Tomás, existem uma gruta com pedras dispostas para leitos, uma série de pedras como trempes para cozinhara, etc. Aí tem aparecido grande número de vasos funerários (igaçabas) e aí está situado a fábrica de de artefatos de argila.

 De caminho, e já que falei em igaçaba permita-se-me externar a minha opinião sobre os motivos do seu emprego; no meu entender, o uso da igaçaba era devido somente á necessidade de evitar que os tatus devorassem o cadáver, e não como li algures pela crença da ressureição.

  Segundo as informações, esses desenhos são sempre feitos em pedras lisas, situadas em pontos culminantes - visíveis, pelos menos - do terreno adjacente, quando não o são de bastante longe.

  Para um estudo profícuo seria necessário uma máquina fotográfica tomar as dimensões dos desenhos, notar a orientação e composição das pedras, etc. Só assim se resolveria o problema de saber se os desenhos eram ou não executados por uma classe determinada, se teriam alguma relação hierática, etc.

  Os machados de pedra são abundantes na região, mas infelizmente sofrem uma guerra desapiedada.

  Para o povo ignorante, o machado de pedra é o corisco que cai , enterra-se a 7 braços pela terra dentro, aparece á flor no fim de 7 anos e, elevando-se, torna-se a cair sob a forma de raio. De sorte que, onde o encontram, atiram-no logo no córrego ou rio mais próximo. O que não deixa de ser curioso é quer na Bahia o povo, atribuindo virtudes milagrosas a essa pedra do Areião. Sem a menor dúvida era um cômputo, talvez de caça, por causa dos animais que rodeiam os riscos, talvez de guerreiros, colocados na ocasião no campo em baixo. A circunstância de convergirem as três séries em um ponto terá valor? Só com o tempo e atilamento e inteligência que faltam ao abaixo assinado é que se poderá elucidar este e outros pontos."

  Veiga, José Xavier da,  Efémrides Mineira, pág, 530 e 531, Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e culturais, Belo Horizonte, 1998.