Primeiro governo Arquidiocesano

25-07-2015 22:38
O PRIMEIRO GOVERNO ARQUIDIOCESANO
Fora o primeiro bispo nomeado o Rvdo. Padre Marcos Cardoso de Paiva, eleito por decreto de 15 de fevereiro de 1856.
Não tendo sido logo apresentado pelas delongas que houve no respectivo processo canônico, em razão da recusa do Encarregado de Negócios da Santa Sé, em executar as Bulas das novas Dioceses criadas, Ceará e Diamantina, desgostoso por essa demora e também por suas moléstias, solicitou em 14 de junho de 1858 sua exoneração que não foi aceita por aviso de 22 do mesmo mês, declarando-se que apressasse seu processo canônico.
Agravando-se suas moléstias, reiterou em setembro ou outubro de 1860 seu pedido de renúncia, que foi atendido por decreto de 2 de novembro do mesmo ano.
De tanto, por decreto de 12 de março de 1863, foi eleito o então cônego da catedral de Mariana, doutor em Teologia, João Antônio dos Santos, diretor e fundador do Ateneu de S. Vicente de Paulo, extinto em 1858 ou 59.
Preconizado em Roma em 28 de setembro de 1863, tomou posse da Diocese a 2 de fevereiro de 1864m sendo sagrado a 1° de maio do dito ano.

Traços biográficos de S. Excia.
Se, ?desde os mais tenros anos em D. João Antônio dos Santos, graciosa e espontânea crescia a virtude? doravante, a ela devia vir aliar-se uma vida toda afanosa de santo e fecundo episcopado.
Não é nosso intento escrever-lhe a vida: apenas, tentamos esboçar palidamente seu maravilhoso painel, ao mesmo tempo em que vamos estudando sua ação benfazeja, fecunda e brilhante, apesar dos véus da humildade que a envolve e que será sempre o seu mais belo apanágio.
Em uma modesta fazenda sita no arraial de São Gonçalo do Rio Preto, até então distrito do município do Serro, a 12 de novembro de 1818, segundo o Anuário Pontifício, nasceu D. João Antônio dos Santos.
Foram seus pais o honrado capitão Antônio José dos Santos e D. Maria Jesuína dos Santos, que tiveram mais os seguintes filhos: major Antônio Felício dos Santos, abastado Industrial, diretor e fundador da fábrica do Biribiri; Dr. Joaquim Felício dos Santos, notável jurisconsulto, escritor primoroso e cronista afamado. Feliciano Amador dos Santos, comerciante; D. Maria Josefina Vieira Machado, que foi casada com o Barão de Guaicuí; João Antônio, que faleceu em tenra idade, e D. Maria Silvana dos Santos Machado, que se casara com o Snr. Pedro d'Alcântara Machado, senador do Império.
Convictos católicos, práticos e piedosos, seus dignos progenitores, desde a sua mais tenra idade, se esforçaram por lhe instila na alma os preciosos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos quais iam formando seu coração.
Enérgica já se manifestava sua caridade para os desventurados da sorte. Alcançada a idade precisa, foi enviado ao famoso Colégio do Caraça, em seguida para o de Congonhas do Campo, após a revolução de 1842, que deu origem ao fechamento daquele; seminarista ainda, foi a convite do então Padre Antônio Ferreira Viçoso, depois Bispo de Mariana, lecionar no Colégio de Congonhas. Já era então humanista de nomeada.
A 5 de maio de 1844, sendo sagrado Bispo de Mariana o Padre Antônio Ferreira Viçoso, chamou-o logo para junto de si, em Mariana. Ali, terminava sua preparação intelectual e espiritual, formado seu coração na escola da humildade, foi, a 12 de janeiro de 1845, ordenado sacerdote pelo mesmo D. Viçoso; o primeiro a quem ordenava.
Tendo em vista sua consumada prudência e ilustração, confiou-lhe o inolvidável D. Viçoso o duplo cargo de professor e reitor do Seminário que acabava de fundar.
Como se houve nesse elevado cargo de confiança, di-lo os novos títulos da estima que granjeou do santo Prelado Marianense; a administração de quantos de perto o tratavam, ou conheciam-no de longe pela fama da sua copiosa ciência e peregrinas virtudes. Em 1848, o Snr. D. Viçoso o nomeou cônego da Sé Marianense.
Nesse mesmo ano embarcou-se para Roma,m onde se matriculou na Academia de Ciências Jurídicas e Eclesiásticas, doutorando-se em in utroque jure, grão que vinha acrescentar novos encantos ao seu primeiro cultivo intelectual.
Em seguida passou à França, onde no Seminário de S. Sulpicio, em Pariz, freqüentou o curso de ciências físicas e naturais e passados dois anos recolheu-se à pátria, depois de acrescentados novos louros à sua carreira.
Ei-lo de novo no Seminário de Mariana, para onde o chamavam o seu cargo de professor e sua cadeira no Cabido Marianense.
Poucos anos se volveram neste posto de suma confiança; o ilustre sacerdote alcança de D. Viçoso licença para recolher à cidade que mais tarde o teria como bispo.
Por esse tempo, empreendeu a função em Diamantina do Ateneu de São Vicente de Paulo. Ei-lo à frente, e à sombra benfazeja da sua proteção se cultivam, entre outros, os belos talentos do Dr. Pedro Fernandes, Dr. Gonçalves Chaves, Dr. Couto de Magalhães, Dr. Ferreira Torres, Dr. Lucindo Filho, Dr. Antônio Felício dos Santos, belo ornamento na ciência médica, indefeso paladino do jornalismo católico, na nossa pátria.
Não perdia tempo. 'Da cátedra do magistério passava para a cadeira do confessionário, onde o entranhável amor das almas o prendia longas horas do dia e da noite, então, depois e toda a sua vida'.
Esfera, porém mais ampla, ia a Providência rasgar ao seu zelo e talento. Sua vasta erudição eclesiástica, sua singeleza atraente e seu grande interesse pelo bem das almas o indicavam naturalmente para luzir nas culminâncias da Igreja. Devia ser chefe dum novo rebanho e continuaria para ele as grandes obras que via executadas por D. Viçoso. D. João foi também sagrado Bispo pelo filho de Vicente de Paulo.
Em ninguém mais plenamente do que nele devia descer pelas mãos dum santo o espírito de ação e de piedade.