Teatro de Província

    Mercadoria não existente no comércio por falta de consumo, as balas de doce tinham um similar - os queimados. Envoltos em pequenos retângulos de papel almaço, não destacado da folha de modo a formar penca de dez unidades, eram vendidos no interior do Teatro. Continham fragmentos de açúcar de preparaçãoe especial.

    Precedia ás representações uma sinfonia pela orquestra que interpretava trechos de Rossini, Belini, Verdi, Mercadante, Donizzetti, Carlos Gomes, Puccini, etc.

    Um grupo de amadores, não poupando sacrifícios, integrava homogêneo conjunto teatral que muitas vezes se apresentava em público. O espetáculo mais antigo que se conhecem os intérpretes é o de 3 de fevereiro de 1861, graças a um exemplar do programa, delicadamente impresso em seda lilás, conservado por colecionador de antiguidades. Esse programa, reproduzido na "Voz de Diamantina", edição de 7 de abril de 1947, anuncia a representação do drama em cinco atos O Máscara Negra ( O homem de Máscara Negra), em em benefício do Joaquim Pereira Machado. O diretor do grupo é José Caetano Viana, distribuindo-se os papéis entre J. J. dos Santos, J.C. Viana, D. C. Castilo, D. A. J. Viana, J. M. Bastos e V.V. Costa, com exceção do diretor do beneficiado e de J. J. dos Santos, parece-nos á cidade, por que não mais figuram seus nomes em futuros espetáculos.

    Favorecendo a uma escrava de Bernadino de Sena, ainda criança, é levada a 7 de setembro seguinte, a comédia em 5 atos de Macedo, Luxo e Vaidade. Em 1862, 1º de Junho o acrobata José da Fonseca  dá um espetáculo de ginástica com trabalhos em arame, terminando com um entremez jocoso. A 7 de setembro vai apresentada pela primeira vez A Noite do Castelo, drama em 3 atos extraído por Francisco José Ferreira  Tôrres (5) da ópera de A. J. Fernandes dos Reis e Carlos Gomes . Para o dia imediato a peça escolhida é Dom César de Bazan, comédia em cinco atos de Dumanoir e A. d'Ennery.

    O vaudeville em 2 atos Artur ou Depois de Dezesseis anos de Dupeuty, Fontan e Dravigny, Música de Doche, e em tradução de Caetano Lopes de Moura,e stá em cena a 19 de outubro. A atriz Ismênia dos Santos, que ainda não estreara em palcos da Corte, faz o protagonista da peça , no papel de Artur. Completam o espetáculo . O Caixeiro da Taverna de Martins Pena e a ária Sibeleza.

    Manoel Inácio de Cerqueira ocupa o teatro nos dias 23 a 26 de novembro com números de exibição de força, de equilibrismo e pirofagia. Comemorando o aniversário de S. M. I. o Senhor D. Pedro II, a atração da noite de 2 de dezembro é a peça  Os Salteadores, certamente uma das muitas adaptações feitas do poema de Schiller.

    1863 Ismênia dos Santos, Francisca Peçanha, Raimundo (?), Virigílio (?), Vavu,  (Valeriano Ferreira  Araújo), Vítorm Zezé (José Agostinho  Moreira da Silva) e o beneficiado Francisco José Fernandes  represenam a 6 de janeiro  O Judeu, que identificamos como sendo o drama em 4 atos de Luis Maria Bordalo e não a peça de Domingos José Gonçalves de Magalhães, que se distingue da outra pelo título Antônio José, o Judeu. Tinham anunciado para esse O Cruzador de  Lápides, que não pudera ser montado a tempo. Para finalizar o espetaculo Ismênia e Vavu cantam em dueto o fadinho brasileiro. O Meirinho e a Pobre. Mas espetáculo de sensação é o de 8 de fevereiro . Primeiramente sobre o pano para o drama em 4 atos de Francisco Pinheiro Guimarães, História de uma Moça Rica . De segunda parte consta a estréia da farsa John Buti ou o Pirata Inglês de Joaquim Felício dos Santos. O Teatro vive uma de suas grandes noites de vibração cívica. A peça, escrita para desagravar os brios nacionais, ofendidos com a atitude insólida do ministro inglês Christie , no incidente motivado pelo naufrágio do Prince of Wales em costa brasileira, arranca do público ardorosos aplausos, que nos divide com os intérpretes da comédia e o jovem poeta João Nepomuceno Kubitschek, que declama versos patrióticos de sua lavra, alusivos á circunstância. A 14 de junho vai á cena pela segunda vez Os Parentes Desalmados, drama em 3 atos de Carlos Antônio Cordeiro seguido a 29 do mesmo mês por os 29 ou Honra e Glória, drama militar com 3 atos e 4 quadros de José Filipe Ovídio Romano. A 26 de julho temos a comédia Quem Porfia Mata a Caça de Mendes Leal Júnior, José Caetano Viana desimcube se do difícil papel de José de Matos como complemento, Entre a Bigorna e o Martelo de Paulo Midosi Júnior. Precedido do Elogio Dramático, composição alegórica de Antônio Gonçalves Mesquita Neves e com Sete de Setembro, drama em 2 atos de Valentim José da Silveira Lopes interpretados por Ciriaco (?), Antônia (?), Mariana Cunha Vale e Francisco de Souza Matos comemora-se a data da Independência do Império. No dia seguinte chega a vez do drama em 8 atos. O Nobre e o Plebeu, de Octave Feuillet, adaptação de M. F. Bastos Júnior, e farsa Os apuros de um pai de família, por Ciríaco, Viana, Carlos Alves, Josefina Macedo e Mariana.

    Em 1861, há registro de duas representações apenas: uma, de gala, a 1º de maio, como parte dos festejos da Sagração episcopal de Dom João Antônio dos Santos, 1º Bispo de Diamantina, com a peça Amor Filial, drama em 5 atos de Francisco Luís Machado, estando presentes Dom Viçoso, Bispo de Mariana e Dom João. A segundo, sem menção de dia ou mês, com o drama de costumes locais A Maldição, de Teodomiro Alves Perreira ( 1838?1911), representada pela primeira vez em São Paulo no ano de 1863. Entre 1862 e 1861 é possível  tenha sido estreada a comédia em um ato O Intendente de Diamantes de Joaquim Felício dos Santos, publicada, em 1862, como folhetim do "Jequitinhonha".

    de 1865 a 1867, por falta de periódicos que lhe fixassem a crônica, pedeu-se a memória da atividade teatral naquele período. No mínimo ficaria restrita ás datas de 7 a 8  de setembro, para não se falar a uma tradição sempre observada.

    Nova série de espetáculos pode ser enumerada a partir de 27 de agosto de 1868, com a apresentação de Mr. Peyres Lajournade, que atua ainda a 6, 7, 8 e 9 de setembro com trabalhos de prestigitação, e de um número original, Espectros Impalpáveis, produzido por meio de um conjunto de espelhos. Por ocasião do aniversário  imperial  os amadores locais exibem-se na revista de Batista Machado Coisas e Loisas, além dos atos complementares O Sr. Domingos  fora do sério, cena cômica de Francisco Correia Vasques, por Zezé; Cerração no mar, cena drámatica de J. M> Dias Guimarães, por João José  dos Santos e os Fantasmas Impalpáveis (câmara opaca) por Laport, número naturalmente inspirado pela apresentação do Peyres Lajournade. (5) juiz municipal e jornalista na Diamantina.

Teatro de Província, NEVES, José Teixeira, Voz de Diamantina.