Um pouco de História

17-02-2011 07:56

    Para o efeito de manter e engrandecer o velho Portugal, Minas Gerais era então mais que uma colônia. O ouro de seu solo levou para a metrópole um caudal de riqueza com a qual, na conscienciosa apreciação do insuspeito e eminente publicista Oliveira Martins, "pôde D. João V dar largas a sua ostentação fradesca e o Marquês de Pombal reconstruir não só Lisboa, mas todo o Reino!". Cerca de 36.000 arrobas de ouro e mais de 330.000 oitavas de diamantes foram extraídas do território mineiro no período colonial; e sob a forma de impostos, confiscos, direitos régios e eufêmicos "donativos voluntários" a máxima parte dessa riqueza colossal sugou-a Portugal, a "metrópole madrasta, que nada saciava", na frase daquele ilustre escritor.

    A respeito dos chamados donativos voluntários não podia ser mais irrisória nem mais insolente a linguagem das cartas régias. Exemplo a de 12 de abril de 1727, na qual ordena ao Governador da Capitania "que faça ver aos moradores dela a obrigação que lhes ocorre de concorrerem com um considerável donativo para as despesas dos casamentos de um príncipe e uma princesa de Portugal", cujos nomes aí se mencionam. E para esse fim foram extorquidos dos mineiros não menos de 125 (cento e vinte cinco) arrobas de ouro! Apenas dois anos depois era imposta de outra infanta de Portugal, sendo arrecadados 600.000$000 em ouro, avaliada a oitava em 1$500! Por igual teor e para fins idênticos ou semelhantes, outros muitos e abultadíssimos donativos voluntários eram discricionariamente impostos ao pobre povo, opresso e ludibriado.

    No Distrito Diamantino o regimen era da absoluta clausura, símbolo do despotismo mais sombrio, cujo código, o ominoso livro da Capa Verde, condensando todas as tiranias possíveis, constituía constante sobressalto e pavor ao povo da terra, curvado á prepotência ade intendentes cabeça e coração de ferro e reduzido em suas penosas explorações a uma parte apenas do ganho proveniente das pequenas pedras apuradas, cabendo os diamantes que excedessem a certo peso exclusivamente a El Rei, ali representado por implacáveis cérberos.

    Amontoavam-se assim as enormes riquezas para as naus de guerra transportarem a Portugal nas frotas anuais, que ainda mais carregadass iriam se, em vez dessas riquezas, levassem lágrimas e os clamores da capitania escravizada.

    O povo, o mísero povo, vegetava em trevas e opressão, imobilizado pelo terror, abafado os próprios gemidos, que poderiam expô-lo a novas torturas. Mas não perdera, felizmente, nem a noção da dignidade humana, nem a esperança alentadora nos destinos da liberdade. Meditava já no movimento para a própria redenção...

    Por sua parte, a metrópole insaciável exigia, ainda e sempre, ouro! mais ouro!, requintando-lhe a voracidade na razão direta do esgotamento das minas. E na obcecação dessa avidez medonha, resolveu lançar a derrama sobre os povos de Minas para, debaixo das penas crudelíssimas, haver toda importância dos quintos em atraso, cerca de seiscentos arrobas de ouro!

    Além do esbrulho em massa, atroz e devastador, o escárnio á pobreza do povo...  Efeméride Mineira

    Era a morte que assim se decretava para a capitania, sob as formas da requisição e do confisco, e para a maior parte de seus habitantes. 

    Assim desse despotismo nasceu os ideais da liberdade. Era inevitável. O destino já estava definido. Era uma questão de tempo.