Cônego Joaquim Alves de Campos

30-01-2011 21:11

    O cônego Joaquim Alves de Campos que ocupou o quinto lugar entre os vigários da cidade, tinha constantes curtos circuitos de nervos vencidos pela idade e esgotado de trabalhos. Era natural que estrilasse por dá cá aquela palha o confessionário é que mais neurastenisa sacerdote. Não é canha ouvir culpas cabeludas dos paroquianos e das beatas, que desiludidas de encontrar o paraíso na terra, procuram a todo passo conseguir um dos melhores lugares no céu carregadas de escrúpulos tolos, chegam a se confessar duas vezes por dia. Vi com estes olhos que a terra há de comer e com esta boca que a terra de entupir, uma delas saiu da mesa da comunhão e voltar ao confessionário. Quem elas desejavam ver ali ajoelhados e contritos, era os catataus dos pecados mortais, Estes arredios ficam aguardando uma doença grave pra despejar o saco de misérias e pedir o visto no passaporte ou aguardar as missões para ir no arrastão do crivo grosso. Os ouvidos dos padres no tribunal da penitência nos seus contudos auditivos são algumas tão fortes e graves que não tiverem um tímpano reforçado fica perfurado. O nosso cônego Joaquim, além dos problemas de seu rebanho e seu nervoso, tinha de contrapes os golinhos do sacristão. Parece uma qualidade peculiar á classe, pois no meu tempo de tocador de sino nas torres , noventa e cinco por cento deles, rebatiam de manhã cedinho e alguns até escorropichavam as galhetas. Muitos quebravam o jejum no boteco da esquina onde "matam o bicho" expressão comum entre os confrades de S. Martinho, padroeiro dos paus dágua. Tudo isto fazia vibrar o sistema nervoso já bastante avariado do sacerdote, que sabia desta fraqueza de seu ajudante. Como não deixava de cumprir rigorosamente seus deveres, não pretendeu o padre consertar a sombra da vara torta. De manhãzinha já estava a postos para ajudar a missa, apesar do bafo de mangaba podre. Indo certo dia a festa de aniversário dum compadre, se excedeu bastante e veio para a missa numa daquelas ressacas, que trazem ao paladar um gosto de vassoura piaçaba misturado com cheiro de fedegoso do campo. Acontece que o padre celebrando viu um escorpião que subia pela toalha do altar. Com a voz dirige ao sacristão e diz-lhe "mata o bicho". Este estranhou a atitude do vigário, que com certeza notando a tremedeira que a ressaca lhe impunha, ainda perguntou segredando: Que é seu vigário? A resposta foi pronta "mata o bicho" homerm de Deus. Não vendo nenhum bicho e desejando ardentemente um rebate, não esperou mais nada e foi direto a galheta de vinho e a esvaziou de um trago. O vigário espantou-se com a maneira do sacristão e quando este deu pelo quiproque, já era tarde, enxaguando o coração como dizia o Nezinho Maia na cabana do Pai Tomás. E alguém ainda achava nervoso o vigário Joaquim. Salus, Voz de Dtna, 1970.