Dessenterramentos de defuntos

31-01-2011 10:15

    Certa vez, grassou o tifo na cidade e muitos falavam que o aparecimento da moléstia vinha dos enterramentos na igrejas locais. Um notável e saudoso médico filho da cidade, provou que, se o tifo vinha dos enterramentos nas igrejas, os sacristãos não morreriam de velhos. E, de fato, não faleceram moços Antônio Pinto, Luiz Pires, Franco, Serafim Vaca, Brôa e ooutros.

    Galdino era um preto velho, pedreiro, que tirava cânticos sacros nas missas de madrugada.

    Certa vez, começava ele a entoar os versos "vamos cantar", quando o Vigário Cônego Joaquim de Campos, num ímpeto de nervosia, vira para trás e diz, no mesmo tom da música; "Não vamos, não!"...

    Galdino ficou desapontado, mas não abandonou o posto, até porque nem sempre era o Vigário que celebrava as missas matinais.

    Galdino desapareceu, um dia de Diamantina, sem que nunca mais fosse encontrado. Foi seu substituto, nas missas da madrugada, o preto Antônio Guevê, falecido também há muitos anos.

    O caso da Igreja do Rosário - foi no meu tempo de criança que o acontecimento se deu, na missa festiva de Domingo da SS. Trindade. O celebrante, que era Monsenhor Neves, não poude cantar o credo. Antes dele, uma voz fraca o cantou e a orquestra do Corinho respondeu em côro. É que no ano anterior, o Vigário Joaquim de Campos, não podendo cantar a missa, por se achar adoentado, disse ao Ubaldo Soares, procurador da Igreja, que convidasse Monsenhor Neves, naquele tempo o Vigário ainda de São Gonçalo, e se achava na cidade, para cantar a missa, e Ubaldo assim fez mas convidou também os dois acólitos.

    A hora da missa, aparecendo o Vigário Joaquim, que não podia cantar a missa, mas queria acolitar, não ficou satisfeito, ao encontrar o diácono e subdiáco da missa já se revestindo com o celebrante.

    Uma pequena desinteligência teve ele com o Vigário Joaquim, mas este, chegando em harmonia, prometeu ao Ubaldo cantar a missa no ano seguinte sem perceber esportula da irmandade.

    Monsenhor Neves, sendo consultado sobre o estranho acontecimento, apenas dizia que não chegou a entoar o Credo. Quanto a voz fraca que entoou, antes dele é que ninguém soube quem fosse vivo ou morto. O povo é que diz que o finado Vigário Joaquim cumpriu o que prometeu.

    Reis, Xisto, Voz de Dtna, 1949.