Os embates em Mendanha - Revolta de 1842

11-09-2012 18:37

Ao comando Superior da Guarda Nacional do Serro. – Extrato do ofício do Coronel da Legião da Diamantina em que deu parte do encontro com os rebeldes no sítio do Mendanha.

                                   (25 de Junho)

            Ilmo. Sr. havendo recebido ordens do Exmº. Presidente da Província no dia 22 do corrente, imediatamente dei ordens para reunir-se a Legião do meu comando, e suspendi o exercício de suas funções a dez oficiais suspeitos. No dia 24 por tarde recebi participações de que estava tomada a ponte do Mendanha por uma força sedioso, que fazia retrogradar os Guardas Nacionais do Rio Manso. Ao anoitecer fiz marchar o Cpaitão João Crisostómo Gomes da Silveira, e o Major João Batista de Nelo Brandão com 32 praças ao chegar a ponte foi a nossa força atacada de emboscada por uma força que parecia ser muito mais de cem homens, e tendo o ataque começado á uma hora da noite e durou cerca de um quarto de hora, e os sediciosos fugiram em debandada pelo rio abaixo, ficando deles um morto, e três gravemente feridos, sendo apenas o ferimento de um grave, segundo a aprte oficial; porém já me consta terem sido encontrados mais três cadáveres, e conheceu-se que eram deles , por quanto contados os nossos faltavam dois e os quatro feridos; depois apareceram a salvos bons, que se tinhão desnorteado e os quatro feridos já estão nesta cidade, e são o S. J. M. João Batista de Melo Brandão o alferes de Comissão, Henrique Jus Afonso o Guarda Nacional Propício José Corrêa, e o Guarda Polícia Antonio da Silva; este é o mais ferido está livre de perigo. A nossa força recebeu imediatamente auxílios, por quanto ás 9 horas da noite partirão com ordens mais seis a cavalos; a meia noite partiu  o Tenente Coronel Luiz Gomes Ribeiro com dez praças a cavalo, e ás cinco meia horas da madrugada partiu o alferes Luiz Teodoro de Miranda com vinte e sete praças a pé; ás 9 horas da manhã partiu o Sargento Luiz Ponciano de Souza com trinta praças a pé; ao meio dia partiu o Ajudante Luiz José de Araújo com trinta e seis praças a pé, as quais todas já chegaram e se reunirão na ponte do Mendanha, e a nossa força tomou posse da dita ponte. Como havia mandado ordens por travessias para que a Guarda Nacional do Rio Manso atacasse pela retarguarda aos sediciosos do Mendanha, e fizesse função, a nossa força e essas ordens chegassem um pouco demoradas, partiu a dita Guarda Nacional em número de sessenta praças debaixo do comando do Sargento Pedro Dias Sampaio, e dirigida pleo sub-delegado José Dias Sampaio, chegou depois do ataque , e reuniu-se já a nossa força. Promoveu-se uma Caixa de adiantamento com vinte contos de réis; a nossa força está toda armada, e muito municiada, por quanto entre reúnas e armas lasarinas já tem a legalidade  a sua disposição mmais d0 que 300 armas; temos bastante pólvora, e muito chumbo grosso. Ontem 24 ás 4 horas da tarde chegou-nos a Companhia da Chapada em número de 89 praças, debaixo do comando do Capitão Francisco Gomes Ribeiro, e hoje ás 5 e meia horas da manhã chegou o Tenente Coronel Luiz José de Almeida com sessenta ae quatro praças. Temos além destas forças a que guarnece a cidade. Esperamos ainda forças dos distritos das Datas, Pissarão, e Curimataí, que tem 5 Companhias, além de outras, que esperamos da Gouveia. Peço a V. S.  que imediatamente que receber este, apronte uma boa porção de armas ainda que sejão lasarinas, mas remeta. Sobre as nossas operações e sobre os nossos planos escrevo-lhe em ofício reservado. Daqui, e de todas as partes do Município tem vindo cidadãos a oferecer-se ao serviços; ainda agora cinco se me oferecerão. A guarnição desta cidade, de que lhe falei, constante da Guarda Nacional, é em número de 60, e constante de reservas, e outros cidadãos , é em número igual. A vista disto e das forças que esperamos bem pode V. S. deduzir quanto é urgente a necessidade que temos de armas, e que não bastão as que mencionei; não temos aqui onde se comprem, porque as que há são fulminante; os ferreiros, e ourives tem-nos servido de armeiros; o patriotismo,e  a coragem dos nossos concidadãos são indivisíveis; em breve a Legalidade obterá o mais completo triunfo e a tranquilidade pública estará restabelecida nos Distritos sediciosos. Muito e muito nos tem valido com seus conselhos  o nosso digno Juíz de Direito o Doutor Luiz Antonio Barbosa, que até nos tem dado exemplo, empunhando as armas, e presentando-se no aquartelamento. Julgando V. Sª. conveniente queira transmitir o presente ofício, ou cópia dele ao conhecimento do Governo da Província. Deus Guarde a Vª. Sª.  Quartel do Comando da Legião na cidade de Diamantina ás 10 horas da manhã do dia 25 de junho de 1842. Ilmº. Sr. Comendador José Ferreira Carneiro, Comandante Superior das Guardas Nacionais do Município da cidade do Serro. – Manoel Joaquim Pereira Correia, Coronel Chefe da Legião.

Revista do Arquivo Público Mineiro – pág. 224 a 226.

            Governo Provincial – Portaria ao Coronel da Legião da Guarda Nacional da Diamantina louvando a energia com que forão repelidos os rebeldes no Mendanha.

                                               (5 de julho)

            O Presidente ea provincia a cujo conhecimento chegou o ofício que com a data de 25 de junho p.p. dirigio ao Comandante Superior da Guarda Nacional do Município do Serro, Sr. Coronel Chefe da Legião do Município de Diamantina, não pode deixar de louvar o patriotismo, zelo e energia que o mesmo Sr. Coronel tem manifestado em prol da Ordem pública nas atuais circunstância; e a vista do entusiasmo e dedicação á sagrada causa da Constituição do Trono, de que o Sr. Coronel, as autoridades, a brava Guarda Nacional, e a briosa e considerável maioria dos habitantes desse Município tem dado as mais exuberantes provas, nutre o Governo a bem fundada esperança de que em poucos dias serão nova e completamente batidos e despersados os restos dessa facção temeraria, que ousou no meio de um povo tão distinto pelo seu aferro á Monarquia, e as Instituição, que vos regem, empunhar as armas contra objetos tão sagrados.

            O Sr. Coronel agradecerá da parte dete Governo a todos os cidadãos que mais se tem distinguido na luta contra os faciosos, fazendo-lhes saber que o Presidente da Província cumprirá oportunamente o grato dever de representar seus nomes, e levar seus feitos ao Augusto. Conhecimento de S. M. 1º. . Também foi mui satisfatória ao Presidente da Província a notícia de se Ter aí criado uma caixa de adiatamentos, (que serão satisfeitos pontualmente) com o fundo de vinte contos de réis; e dos benméritos Cida dãos que para ela tem concorrido mandará o Sr. Coronel uma Lista a este Governo.

            Perante tão patrióticos esforços não pode certamente sustentar-se esta facção impotente, que ousou talvez duvidar dos nobres sentimentos que distinguem esta heróica Província que a repele, Ouro Preto Palácio do Governo 5 de Julho de 1842.

            Bernardo Jacinto da Veiga. – Ao Sr. Coronel Manoel Joaquim Pereira, chefe da Legião de Guardas Nacionais do Município da Diamantina.

Revista do Arquivo Público Mineiro, pág. 268.

            O atual Palácio Arquiepiscopal de Diamantina foi antigamente a “Casa do Contrato”. Evoca uma das épocas mais movimentadas do Tijuco.  Aí residiram os antigos contratadores, sobresaindo-se entre eles, de 1748 a 1751, Felisberto Caldeira Brant. No século passado, 1853, aí funcionou o Ateneu São Vicente de Paulo, que teve como seu primeiro Diretor o Cônego João Antônio dos Santos, que depois foi o primeiro Bispo de Diamantina. Em 1867, funcionou no atual Palácio o Seminário, sob a direção do Subdiácono  Alves de Mesquita.

Voz de Diamantina, Diamantina – Um pouco da História de Minas, pág. 2, ano LXX, nº 18, Dtna, 23 de fevereiro de 1975.

            Reunião Patriótica

            No dia 24 do p. Passado circulou pela cidade o seguinte boletim.

                        “VIVA A REPÚBLICA!

            No momento atual em que a República se acha abalada até os seus fundamentos pela ameaça ostensiva de corajosos bandidos armados nos sertões da Bahia, e pelo ataque surdo mas tremendo de intrigas, difamações  e ódios, oriundos, em corrente de lama, dos covardes arraiais monárquicos, cumpre que o povo diamantinense, amante lendário das liberdades pátrias, signifique á Nação o seu apoio forte e decidido, e a todas as medidas rigorosas e necessárias que os poderes públicos hajam de tomar com o fim salvador de manter a paz e defender as substituições.

            O momento atual é de ação!

            A nenhum brasileiro que guarde no peito o fogo sagrado de amor á República e á Pátria, assiste o direito de relegar-se ao silêncio, recusando o seu auxílio á obra grandiosa da salvação pública.

            E para que esse cívico protesto de solidariedade se traduza em fato, e espera-se o concurso de todo o partido republicano a uma reunião, hoje, ás 7 horas da noite , no edifício da Escola Normal.

            Diamantina, 24 de março de 1897.

            Não foi em vão que se fez este apelo ao povo que, á hora marcada, encheu literalmente o grande salão nobre do edifício da Escola-Normal.

            Ás 8 horas da noite, presentes os representantes de todas as classes, o sr. tenente coronel Antônio Eulálio propôs que fosse o sr. dr. José R. Telles de Menezes presidente da reunião, sendo a proposta aceita com aplausos de todos.

            O dr. Telles, tomando como secretários o tenente coronel Antônio Eulálio e o sr. Olímpio Mourão, abriu a sessão em pequeno mas substancial discurso em que fez ver aos republicanos sinceros que aquela reunião tinha por fim levar aos poderes públicos todo o apoio na repressão dos inimigos da República e no restabelecimento da ordem.

            Aberta a sessão, usaram da palavra os seguintes oradores: Catão Júnior, Leopoldo de Miranda, Juscelino da Fonseca Ribeiro Júnior, dr. Domingos da Rocha Viana, Antônio dos Santos  Mourão, tenente coronel Antônio Eulálio, dr. Antônio Ramalho , José Joaquim Vieira, dr. Pedro Matta e Arthur Queiroga.

            Foram sugeridas diversas medidas a tomar-se na ocasião, ficando assentado que se organizasse um batalhão no município com o nome do saudoso do malogrado dr. Corrêa Rabelo, e que se fizesse  sentir ao presidente da República e do Estado o pesar da Diamantina pelo desastre de Canudos, fazendo-se votos para o restabelecimento da paz, com a repressão enérgica das conspirações monárquicas.

            Foram levantados muitos vivas a República, aos heróis de Canudos, a memória de Moreira César, Floriano Peixoto etc.

            Ás dez horas dissolveu-se a reunião, vitoriando o povo e a República, que conta na maioria da Diamantina adeptos sinceros uns , e dedicados até o sacrifício outros.

            Exequias dos Heróis de Canudos

            Na igreja do Carmo realizaram-se no dia 1º corrente as solenes exequias promovidas pelo sr. coronel Manoel César Pereira da Silva, digno comandante Superior da Guarda Nacional desta comarca, em sufrágio das almas do denodado coronel Moreira César  e seus heróicos  companheiros que pereceram gloriosamente nos sertões da Bahia, defendendo a República conta a horda dos fanáticos conselhistas.

            No centro do templo erguia-se imponente catafalco rodeado por inúmeras velas, e sobre ele viam-se troféus envoltos em crepe, e na face voltada para a entrada do templo a bandeira nacional.

            Ás 8 horas entraram as missas que forão celebradas nos três altares do templo pelos revdms. Monsenhor Augusto Júlio  de Almeida, Vigário Geral do Bispado, Padres Antônio de Souza Neves, Vigário desta cidade, Porfírio Fernandes de Azevedo.

            Findas as missas teve lugar o ofício com libera-me, á que todos presentes assistiram de velas acesas.

            Das execuções do libera-me e requiem encarregou-se a banda de música Corinho regida pelo professor Antônio Efigênio de Souza.

            Terminando o ofício proferido eloquente discurso o sr. dr. Domingos da Rocha Viana, digno Promotor da Justiça.

            Antes de finalizar a solenidade a referida banda de música tocou marchas fúnebres.

            Estiveram presentes ao ato as seguintes corporações: Magistratura, Câmara Municipal, Governo Municipal, Guarda Nacional, Brigada Policial, Escola Normal, Sub-administração dos Correios, Fórum, Repartição dos telegráfos, Polícia, Instrução Primária, Comércio, União Operária e Imprensa desta cidade.

            Vimos também vários cavaleiros e algumas famílias.

O Município, Reunião Patriótica, pág. 1, ano III, nº 108, Dtna, 8 de abril de 1897.